terça-feira, 28 de julho de 2015

Como lidar com nossos próprios fracassos espirituais?


Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.
E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo. 1 João 2:1,2

Como lidar com nossos próprios fracassos espirituais? Ou, se você quiser, o que fazer quando pecamos? Pergunta difícil. Objeto de acalorados debates e discussões por parte dos doutores da teologia, abordada em páginas e páginas de rebuscadas argumentações. Leia, caro leitor, uma obra de história do pensamento cristão para tirar suas conclusões. A intenção deste texto é menos pretensiosa, gostaria apenas de mostrar o que João nos diz sobre esse assunto na sua primeira epístola, mas especificamente em I Jo 2.1,2. 

Como aconteceu em quase todas as cartas do Novo Testamento, uma heresia (ou várias) estava ameaçando os crentes, provavelmente da Ásia (LOPES, 2004, p. 11). A heresia era uma espécie de proto-gnosticismo, que enfatizava que o espírito é totalmente bom e a matéria totalmente má - dualismo. Além disso, ensinavam que a salvação se dá por meio de um conhecimento esotérico – a gnose – que somente os iniciados possuem. 

As consequências para o cristianismo são obvias. Para a teologia, a negação da plena encarnação e divindade de Jesus, que é visto como um fantasma - docetismo -, pois como a matéria é má Ele não poderia ter um corpo de carne e osso. Para a ortopraxia, o ascetismo e o antinomianismo. Como João dá maior ênfase ao antinomianismo que está sendo ensinado pelos falsos mestres, darei uma breve explicação sobre ele. Em linhas gerais, o antinomianismo significa uma vida sem lei ou regras (LOPES, 2004). Aplicado ao contexto da Epístola, seria dizer que o cristão é livre para fazer o que quiser, que pode dar vasão aos seus instintos mais baixos, pois, onde abundou o pecado, superabundou a graça. Como o corpo é mal, nada do que fazemos por meio dele afeta a alma ou prejudica nossa comunhão com Deus. “O que o corpo faz, a alma perdoa”, como diz a música. João, portanto, fornece alguns critérios para que os irmãos pudessem avaliar a validade dessas doutrinas e viver em verdadeira comunhão com Deus.

Gostaria de destacar que a provisão do Pai para o cristão que peca está em Seu Filho, que possui tríplice qualificação (STOTT, 1982): 

Em primeiro lugar, Sua advocacia celestial. Como ensina Stott (1982, p. 69), a palavra advogado (lat. advocatus e gr. paraklêtos), significa “chamado ao lado de”, e descreve alguém convocado para assistência a outrem. Lopes (2004, p. 47) diz que “aplicada a Cristo, a idéia é que ele fala sobre nós com o Pai, em nossa defesa, e intercede para que sejamos perdoados (Rm 8.34; l Tm 2.5; Hb 7.24,25)”. Embora a comparação remeta-nos à imagem do tribunal, João nos lembra de que a nossa “defesa” não é perante um juiz, mas de um pai. Isso porque a nossa relação com Deus mudou, fomos justificados por Cristo, nenhuma condenação há para aqueles que estão Nele. Portanto, quando Cristo intercede por nós no céu quando pecamos não é a satisfação da justiça que é visada, mas o perdão para o filho que errou (STOTT, 1982). 

Em segundo lugar, Seu caráter justo. Cristo é perfeito, não conheceu pecado. Sua vida foi imaculada, impoluta. Por isso “é mais que evidente que somente por meio de um Salvador justo poderíamos ser purificados “de toda injustiça” (1:9). Cf. 2 Co 5:21 e 1 Pe 3:18” (1982, p. 71).

Sua morte propiciatória. Propiciação é uma palavra tirada da liturgia dos sacrifícios levíticos do Antigo Testamento. Assim como o animal morto nestas cerimonias representava o “pagamento” pelo pecado do transgressor da lei – a alma que pecar, essa morrerá -, o apaziguamento da ira de Deus e sua reconciliação com Ele, da mesma forma a morte de Cristo para o cristão representa substituição, perdão e reconciliação. Como diz Stott (1982, p. 73) “Ele não poderia ser nosso Advogado no céu hoje, se não tivesse morrido para ser a propiciação pelos nossos pecados; e a Sua propiciação não teria sido eficaz, se em Sua vida e caráter não tivesse sido Jesus Cristo, o justo”.

Caro irmão, fuja da autoindulgência, a provisão de Deus não deve nos encorajar ao pecado, mas fuja também da severidade exagerada consigo, recusando a provisão de Deus para sua vida. “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis”, essa é a intenção de João para as suas ovelhas – e também a de Jesus, quando disse à mulher pecadora “vai e não peques mais” -, mas sabemos que acidentes acontecem e para essas circunstancias é que João nos lembra que temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo.


Referências Bibliográficas

STOTT, John. As epístolas de João: introdução e comentário. São Paulo: Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão, 1982. 

LOPES, Augustus Nicodemus. Interpretando o Novo Testamento: primeira carta de João. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.

As bíblias citadas foram consultadas no site: www.bibliaonline.com.br. Acesso em: 28 jul 2015.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Vocação ou Profissão?

Por Arival Dias Casemiro

Na Igreja Evangélica hoje, o pastorado está se secularizando, ou seja, deixando de ser um ofício sacerdotal para ser uma profissão. Entende-se a secularização dos pastorado como o processo de ser, de se formar e de se exercer o pastorado não segundo o modelo bíblico, mas no modelo da sociedade sem Deus. O que seleciona o candidato ao ministério hoje, não é mais a comprovação de um chamado de Deus, mas um vestibular. Quem forma o pastor não é mais a Igreja, mas a Faculdade de Teologia por meio Mestres e Doutores sem experiência pastoral. O pastor troca de Igreja hoje como se estivesse trocando de emprego. Cada vez mais o sacerdócio pastoral tem sido desvalorizado. O ser pastor, segundo a Bíblia, é uma vocação divina que envolve chamado para o ofício e para o campo de trabalho. O apóstolo Paulo declara: "Porém em nada considero a
vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério
que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus" (Atos 20.24). E o Espírito Santo diz: "Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra que os
tenho chamado" (At 13.2). Nesses dois versículos, a Bíblia mostra que a prioridade do verdadeiro ministro é cumprir o ministério que recebeu do Senhor, trabalhando sempre no local para onde o Senhor o enviar. A grande conseqüência para a Igreja é que, com a secularização do pastorado, ela forma muitos teólogos, mas se ressente da falta de pastores. É fato incontestável que há hoje muitos pastores sem campo na Igreja Presbiteriana do Brasil, e os seminários continuam fabricando teólogos em série como numa linha de produção industrial. Há também várias Igrejas que tiveram experiências pastorais traumáticas, precisando de pastores, mas não desejam absorver essa mão de obra excedente. Como resolver este problema à luz da afirmação de Jesus de que a seara, na verdade é grande, mas os
trabalhadores são poucos? Se os trabalhadores são poucos e a seara é grande, como explicar o excesso de pastores e de seminários ou faculdades de teologia? Se a seara é grande e há sobra de trabalhadores, será que a igreja não é omissa na sua tarefa missionária? Será que não precisamos fechar seminários? O profeta Jeremias afirma que uma das maneiras de Deus castigar o seu povo é dando-lhe uma liderança não vocacionada. Então ele diz: "Convertei-vos, ó filhos
rebeldes, diz o SENHOR; porque eu sou o vosso esposo e vos tomarei, um de cada cidade
e dois de cada família, e vos levarei a Sião. Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração,
que vos apascentem com conhecimento e com inteligência" (Jr 3.14-15). Pastores segundo o coração de Deus, que apascentem o rebanho de Cristo hoje, é uma grande necessidade. Faz-se necessário que a Igreja encare a escolha dos seus pastores nesta perspectiva sobrenatural, por meio da oração, como uma dádiva de Deus e não, meramente, na perspectiva secularizada da contratação de um novo funcionário. Entendo que o pastor, segundo o coração de Deus, apascentará qualquer rebanho local, com sucesso (conhecimento e inteligência), dedicando-se a três tarefas: oração,
pregação/ensino e visitação. Esse tripé dará sustentação a qualquer pastorado, independente da região ou do contexto onde a Igreja se acha inserida. Toda ovelha precisa da oração do seu pastor, do alimento da palavra preparada pelo seu pastor e do aconselhamento e cuidado por meio da visita do seu pastor. Qualquer plano de formação 8 pastoral, seja em seminário ou faculdade, que não contemplar esse tripé, não formará um pastor com uma filosofia bíblica de ministério. Irmãos, lutemos juntos, contra a secularização do pastorado valorizando os verdadeiros ministros. Peçamos a Deus a benção de pastores segundo o Seu coração.
"Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara", é a ordem de Jesus.

Fonte: CASEMIRO, Arival Dias. Resistindo à secularização. São Paulo: SOCEP, 2002.

A Procura De Algo Mais

Por John MacArthur

Ele é antes de todas as cousas. Nele tudo subsiste.
Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio,o primogênito de entre os mortos, para em todas as cousas ter a primazia.
Colossenses 1.17-18

Porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade. Também nele estais aperfeiçoados.
Colossenses 2.9-10

Conta-se uma história sobre William Randolph Hearst, o falecido editor jornalístico. Hearst investiu uma fortuna em colecionar grandes obras de arte. Um dia ele leu sobre algumas valiosas obras de arte e decidiu que deveria adicioná-las à sua coleção. Enviou seu agente ao exterior para localizá-las e comprá-las. Meses se passaram antes que o agente voltasse e relatasse a Hearst que os itens haviam finalmente sido achados — eles estavam guardados em seu próprio armazém. Hearst os havia comprado anos atrás!
Isso é análogo ao alarmante número de cristãos que hoje estão numa busca desesperada por recursos espirituais que já possuem. Eles praticam uma busca fútil por algo mais. Esse é um fogo herético em parte abanado pela falsa noção de que a salvação é insuficiente para transformar os crentes e equipá-los para a vida cristã. Aqueles que estão sob a influência desta falsa noção acreditam que precisam de algo mais — mais de Cristo, mais do Espírito Santo, um tipo de experiência de êxtase, visões místicas, sinais, maravilhas, milagres, uma segunda bênção, línguas, níveis espirituais mais elevados ou mais profundos, ou o que quer que seja.
Mas ter Jesus é ter todo recurso espiritual. Tudo que necessitamos se acha nEle. Em vez de tentarmos acrescentar algo a Cristo, devemos simplesmente aprender a usar os recursos que já possuímos nEle.
Em toda a Escritura, talvez o texto mais definitivo sobre a suficiência de Cristo é o livro aos Colossenses. Paulo o escreveu para crentes que eram fortes na fé e no amor (Colossenses 1.4), mas confundidos por uma heresia que negava a suficiência de Cristo. Nosso estudo exige uma observação cuidadosa em algumas porções desse texto-chave.
Não sabemos a exata natureza da heresia em Colossos, porque Paulo não a definiu em detalhes nem gastou tempo nomeando e denunciando seus líderes. Em vez disso, ele a refutou generalizada-mente, mostrando que se baseava num conceito inadequado e errôneo a respeito da pessoa e do trabalho de Cristo. Ele escreveu à igreja de Colossos uma epístola inteira focalizando a Cristo — seu lugar no universo, sua obra na salvação, sua preeminência como Deus, sua posição como Cabeça da igreja e sua absoluta suficiência para toda necessidade humana. Ao fazer isso, Paulo demonstrou que a melhor defesa contra a falsa doutrina é uma cristologia bíblica integral. Ele avisou aos Colossenses que tentar acrescentar ou retirar algo da pessoa e da obra de Cristo sempre termina em desastre espiritual.
No capítulo 1, Paulo escreveu:

Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois nele foram criadas todas as cousas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as cousas. Nele tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as cousas ter a primazia, porque aprouve a Deus que nele residisse toda a plenitude, e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as cousas, quer sobre a terra, quer nos céus. (vv. 13-20)

O apóstolo faz um profundo sumário quando diz que em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento (2.3), porque nEle habita corporalmente toda a plenitude da Deidade (2.9). Ele é o Cabeça de todo principado e potestade (2.10). Ele é a própria vida (3.4)! O que mais poderia dizer o apóstolo para asseverar a absoluta suficiência de nosso Senhor?
O erro com o qual Paulo estava lidando tinha muitas facetas. Parece claramente ter sido uma antiga forma de gnosticismo. Os hereges de Colossos alegavam que Cristo sozinho não poderia levantar alguém ao nível espiritual mais alto. Eles defendiam uma variedade de aditivos espirituais, incluindo a filosofia (2.8-10), o legalismo (2.11-17), o misticismo (2.18-19) e o ascetismo (2.20-23).

Cristo + Filosofia

A palavra "filosofia" é a transliteração da palavra grega philosophia, a qual é formada de duas palavras gregas comuns: phileo (amar) e sophia, (sabedoria). Ela literalmente significa "o amor à sabedoria humana". Em seu sentido mais amplo, é a tentativa da parte do homem para explicar a natureza do universo, incluindo os fenômenos de existência, pensamento, ética, comportamento, estética e assim por diante.
No tempo de Paulo, "tudo que tinha a ver com teorias sobre Deus, sobre o mundo e sobre o significado da vida humana se chamava 'filosofia'... não somente nas escolas pagas, mas também nas escolas judaicas das cidades gregas". Josefo, o historiador judeu do primeiro século, acrescenta que havia três correntes filosóficas entre os judeus: a dos fariseus, a dos saduceus e a dos essênios.
Paulo condenou com veemência qualquer teoria filosófica, a respeito de Deus, que professasse mostrar a causa da existência do mundo e oferecer orientação moral à parte da revelação divina. Em Colossenses 2.8-10, ele diz:

Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo: porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade. Também nele estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade.

A frase "venha a enredar" (v.8) vem da palavra grega sylagogeo, que se referia a levar os cativos ou outros despojos da guerra. Nesse sentido, ela transmitia a idéia de um rapto. Ela retrata o modo como a heresia "Cristo + filosofia" estava seqüestrando os colossenses para longe da verdade, levando-os à escravidão do erro. Assim o apóstolo retratou a filosofia como uma predadora que procura escravizar cristãos sem discernimento, por meio de "vãs sutilezas" (v.8).
"Vãs" fala de algo vazio, destituído da verdade, fútil, infrutífero e sem efeito. A filosofia declara ser verdadeira mas é totalmente enganosa, como um pescador que captura sua presa involuntária, ao esconder um anzol mortal dentro de um saboroso bocado de alimento. O peixe pensa que está sendo alimentado quando, em vez disso, torna-se alimento. Igualmente, aqueles que abraçam uma filosofia humana sobre Deus e o homem podem pensar que estão recebendo a verdade, mas, em vez disso, estão recebendo vão engano, que pode levar à condenação eterna.
A filosofia é inútil porque se fundamenta na "tradição dos homens" e nos "rudimentos do mundo" (v.8), e não em Cristo. A "tradição dos homens" se refere às especulações humanas passadas de geração a geração. A maioria dos filósofos amontoam seus ensinamentos sobre a pilha de ensinamentos dos seus predecessores. Um desenvolve um pensamento até tal ponto, depois outro o desenvolve além, e assim vai. Isso é uma série de variações dentro da tradição humana que apenas perpetua o erro e agrava a ignorância.
A frase "rudimentos do mundo" literalmente significa "coisas em coluna" ou "coisas em fila" (tais como 1,2,3, ou A,B,C). Ela se refere ao tipo de instrução que se daria a uma criança. Paulo estava dizendo que, embora intente ser sofisticada, a filosofia humana é de fato rudimentar— infantil e sem refinamento. Abandonar a revelação bíblica em favor da filosofia é como voltar ao jardim da infância após formar-se numa universidade. Mesmo a mais refinada filosofia humana nada pode oferecer para ampliar a verdade de Cristo. Ela impede e retarda a verdadeira sabedoria, produzindo apenas tolice, erro e engano infantis.
Em 1 Coríntios 1.18-21, Paulo diz:

Certamente a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. Pois está escrito:
Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos entendidos.
Onde está o sábio? onde o escriba? onde o inquiridor deste século?
Porventura não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar aos que crêem, pela loucura da pregação.

A sabedoria humana não pode enriquecer a revelação dada por Deus. De fato, ela inevitavelmente resiste e contradiz a verdade divina. Mesmo o melhor da sabedoria humana é mera tolice em comparação com a infinita sabedoria de Deus.
Os cristãos, de forma nenhuma, precisam se dirigir à sabedoria humana. Eles possuem a mente de Cristo (1 Coríntios 2.16). A grande, perfeita e incompreensível sabedoria de Cristo se revela a nós na Palavra de Deus pelo Espírito Santo. Isso deveria revolver nossos corações e nos fazer declarar juntamente com o salmista:

Quanto amo a tua lei!
É a minha meditação todo o dia.
Os teus mandamentos me fazem mais sábio que os meus inimigos; porque aqueles eu os tenho sempre comigo.
Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos.
Sou mais entendido que os idosos, porque guardo os teus preceitos.
De todo mau caminho desvio os meus pés, para observar a tua palavra. Não me aparto dos teus juízos, pois tu me ensinas.
Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! mais que o mel à minha boca.
Por meio dos teus preceitos consigo entendimento; por isso detesto todo caminho de falsidade.
(Salmo 119.97-104)

Por que se deixar capturar pela filosofia quando se pode ascender à perfeita verdade de Deus?
Em Colossenses 2.9-10, Paulo traça um significativo paralelo: "Porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade. Também nele estais aperfeiçoados". "Plenitude" e "aperfeiçoados", nessa passagem, são originadas da mesma palavra grega (plêroma). Assim como Cristo é absolutamente divino, também nós somos totalmente suficientes nEle. A sabedoria humana nada acrescenta ao que já está revelado em Cristo.
Nossa suficiência em Cristo se fundamenta na completa salvação e no completo perdão, os quais Paulo descreve nos versículos 11 a 14. Ele diz que temos passado da morte espiritual para a vida espiritual através do perdão das nossas transgressões (v. 13). No versículo 14, ele traça um quadro vivido desse perdão, dizendo que Cristo "tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz". Quando alguém era crucificado, a lista de seus crimes era sempre pregada à cruz exatamente acima de sua cabeça. Sua morte era o pagamento por aqueles crimes. Os crimes que pregaram Jesus à cruz não foram os dEle, mas os nossos. Por haver Ele tomado sobre Si a nossa pena, Deus apagou o "escrito de dívida" que era contra nós.
Aos pensamentos de completa salvação e de completo perdão, Paulo acrescenta um terceiro: completa vitória (v. 15). Em sua morte e ressurreição, Cristo triunfou sobre as forças demoníacas, nos concedendo assim vitória contra o próprio maligno.

Em Cristo nós temos completa salvação, completo perdão e completa vitória — amplos recursos para cada questão da vida. Esta é a verdadeira suficiência! O que a filosofia pode acrescentar a isso?

Fonte: MACARTHUR, John. Nossa suficiência em Cristo. São José dos Campos: Editara Fiel, 1995. 

domingo, 26 de julho de 2015

Olha por onde andas

Há caminho que parece certo ao homem, mas no final conduz à morte. (Pv 14.12; 16.25 - NVI)

Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte. (Pv 14.12 – Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

Há um caminho que ao homem parece direito, mas no fim guia para a morte. (Pv 14.12 – SBB)

Há caminho que parece reto ao homem; seu fim, porém, é o caminho da morte. (Pv 14.12 – versão Católica)

Por que é tão difícil fazer escolhas? Ou melhor, fazer as escolhas certas, em todas as situações dadas? Quando leio este provérbio sinto-me questionado, inquieto diante do pragmatismo que guia nossas decisões. Geralmente, escolhemos baseados nos afetos, no grau de prazer ou felicidade que algo possa nos proporcionar mediata ou imediatamente, concreta ou imaginariamente, sem possíveis consequências desastrosas posteriores. O exemplo mais acessível que me vem à cabeça é o da corrupção. Maior ganho possível com o menor esforço possível, com expectativa de impunidade muito pequena. Mas o mesmo princípio, acredito, pode ser ampliado. No Brasil, o pragmatismo é a ética fundamentadora das ações, de maneira transversal. Segundo o dicionarista Aurélio Buarque de Holanda, pragmatismo:

As doutrinas de C. S. Peirce (v. peirciano), W. James (v. jamesiano1), J. Dewey (v. deweyano) e do literato alemão Friedrich J. C. Schiller (1759-1805), cuja tese fundamental é que a verdade de uma doutrina consiste no fato de que ela seja útil e propicie alguma espécie de êxito ou satisfação.

Utilidade, êxito ou satisfação, sucesso e felicidade, fuga do fracasso e da dor, o que dá certo é o que é bom. Eis aí uma das premissas fundamentais da nossa cultura, embora não fique muito claro de que maneira podemos alcança-los. 

O provérbio que temos diante de nós questiona a validade do nosso pragmatismo e nos mostra que nem sempre o que é fácil, útil e proporciona êxito ou satisfação é bom. Mostra-nos que o insensato e que faz isso, olvidando a voz da sabedoria. Gostaria de destacar três coisas que este pequeno versículo nos ensina:

Em primeiro lugar, a percepção[1] humana é falha – “há caminho que parece”. Os sentidos humanos estão tão corrompidos pelo pecado quanto qualquer outra parte do nosso ser. Ló, por exemplo, escolheu as campinas verdes de Sodoma e Gomorra, num ato claro de pragmatismo, vindo, posteriormente, perder tudo por causa da destruição daquelas cidades em vista da medida do pecado delas ter transbordado (Gn 19).

Em segundo lugar, nem sempre o que é fácil é certo – “há um caminho que ao homem parece direito (reto, plano, sem dificuldades”). Como diz Champlin (2001, p. 2606) “a vereda falsa é reta (conforme diz, literalmente, o original hebraico) e fácil de seguir, e, sendo reta, parece correta. Esse caminho reto promete sucesso e felicidade, mas é uma vereda traiçoeira e enganadora”.

Em terceiro lugar, toda escolha tem consequências – “mas no final conduz à morte”. Que consequência terrível. Veja que “há um caminho” e ao final “o fim dele são os caminhos da morte. (Pv 14.12 – Almeida Corrigida e Revisada Fiel). Entra-se por um caminho e ao final, em vez de chegarmos a um destino certo, encontramos outros tantos, numa espiral infernal do desejo e satisfação ilimitados, que por fim nos conduz à morte (física, espiritual e eterna). Mas uma vez Champlin (2001, p. 2606) nos ensina que “embora a vereda do pecador seja reta e aparentemente correta, leva o pobre homem à ruína, à morte prematura, com muitos desastres ao longo do caminho”.

“Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho” (Sl 119:105). Escolher é difícil, é verdade, mas segundo o salmista temos um referencial confiável para fundamentar nossas escolhas e andar no caminho com segurança – a Palavra de Deus. Olha por onde andas, ilumina teu caminho com a Palavra de Deus, se necessário dá meia volta e toma o rumo certo, o caminho certo – JESUS (Jo 14.6).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Faculdade de apreender por meio dos sentidos ou da mente; consciência (de alguma coisa ou pessoa), impressão ou intuição, esp. Moral (HOUAISS, 2009). 

CHAMPLIN, R. N., O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. vol. 1. São Paulo: Hagnos, 2001.

DICIONÁRIO Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. (v.1.0) Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

DICIONÁRIO Eletrônico da Língua Portuguesa Novo Aurélio - Século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

As bíblias citadas foram consultadas no site: www.bibliaonline.com.br. Acesso em: 26 jul 2015.


quinta-feira, 23 de julho de 2015

O prazer de Deus na salvação dos pecadores


Referência: Ez. 3. 17.
Um conhecimento de nós mesmos vai mostrar-nos o quanto precisamos de arrependimento, e um conhecimento de Deus nos encoraja a se arrepender. Muitas são as descrições que temos de Deus no volume inspirado, mas ninguém merece a nossa atenção mais do que esse texto que temos diante de nós. Nele vemos
I. O poder de Deus para salvar
Não vamos falar do poder de Deus em geral, mas como ele se manifesta na salvação de sua igreja e dos povos. Ele habitava "no meio" do seu povo no deserto. "E mostrou seu" poder para salvá-los, "livrando-os de todos os seus inimigos, e suprindo todos os seus desejos, portanto, o mesmo é verdadeiro no meio de sua igreja, é tão capaz quanto antes para salvar seu povo, para este fim ele ordena cada coisa por sua providência", e faz isso com a sua palavra eficaz através das operações onipotentes de seu Espírito Santo.
II. Sua determinação para salvar
Se ele nos deixasse a nós mesmos, nenhum de nós seriamos salvos. Nós todos dizemos a ele: "Apartai-vos de nós", nem nós nunca transformar efetivamente a ele até que ele nos fez voluntariamente no dia do seu poder". Por conta disso, ele leva o assunto em suas próprias mãos, e determina para salvar aqueles a quem ele deu a seu Filho. "Tendo comprado-os com o sangue de seu Filho, ele vai nos proteger a si mesmo, pela operação do seu Espírito. Ele de fato não destruir o nosso livre-arbítrio, mas ele supera a nossa relutância, e nos atrai para si por uma operação não menos poderoso do que isso, que ele exerceu na criação de seu Filho, Jesus Cristo dentre os mortos.
III. Seu prazer em salvar
Não há qualquer coisa assim delicioso para Deus como o trabalho de salvar os pecadores. Nem ele simplesmente sentir um prazer para dentro, mas, como um homem, cheio de alegria, em qualquer caso, involuntariamente expressa sua alegria cantando, ou algum outro sinal exterior, de modo que Deus manifesta o seu prazer para a alma de retornar. O homem por natureza não conhece a felicidade maior do que um noivo se sente, quando, após um longo suspense e muitos medos, ele se une à sua noiva. No entanto, tal é a imagem que o próprio Deus usa, para ilustrar sua alegria por retornar pecadores.
IV. Sua imutabilidade para aqueles a quem ele pretende salvar
O homem é muitas vezes alienado do objeto de suas afeições, ou por meio de algum mal inesperado, ele descobriu, ou através de sua própria instabilidade e inconstância. Mas Deus não muda. "A quem ele ama, ele ama até o fim. Ele odeia o repúdio. E, como ele amava o seu povo desde a eternidade", e escolheu-os sem qualquer referência à boa ou visto ou previsto neles, assim que ele não abandoná-los por causa de suas enfermidades. Ele vai realmente punir as transgressões com todo rigor necessário ", mas os seus dons e chamadas são sem arrependimento, nem ele vai abandonar o povo, que ele escolheu em Cristo, e dado a ele.
Usos - Neste glorioso caráter de Deus, podemos ver
1. O mal do pecado
O pecado, sob qualquer circunstâncias, talvez cometido, está diretamente dirigida contra ele. E, se a nossa consciência não pode ser queimado como com um ferro quente, o pensamento de ter tantas vezes que cometeu, que milita contra a honra, a autoridade, ea própria existência de tal Deus, deve nos tornar odioso aos nossos próprios olhos, e levar-nos a nós mesmos abomino no pó e na cinza. "
2. O risco de morrer em um estado de não-convertidos.
Aqueles a quem nosso Senhor pregado, e entre os quais ele operou seus milagres, tinha uma condenação muito mais pesado do que teria recebido, se nunca tinha gostado dessas vantagens.'' E vai haver agravamento de nossa culpa no dia do julgamento ter desprezado um Deus tão amoroso e misericordioso? Certamente, então ele vai mostrar-se poderoso para destruir tais rebeldes obstinados, e vai se sentir uma satisfação permanente em vindicar a honra de sua majestade insultado, como ele agora faria em exibindo as riquezas da sua misericórdia. Será "uma coisa terrível cair nas suas mãos", sob tal culpa agravada.
3. A obrigação que recai sobre os crentes para servir ao Senhor.

Você foi escolhido por Deus como objetos de seu amor imerecido? Você foi resgatado pelo sangue de seu Filho amado? E ter uma boa esperança, que deve ser feita monumentos eternos de seu poder e graça? O que você deve prestar ao Senhor por esses benefícios? O amais; nele se alegra com alegria indizível e descanso em seu amor a ele, não tendo qualquer fim, sem objetivo, lio desejo, mas para agradar e honrar a Deus da sua salvação.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Lembranças, doces lembranças

Fonte da figura: http://conceito.de/memoria

"Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós..."
Filipenses 1:3


Que tipo de memorias inspiramos nos outros? Doces ou amargas – para usar uma metáfora do palato? Essa pergunta, em relação ao contexto da carta aos Filipenses, é uma via de mão dupla, pois ela remete tanto às lembranças que Paulo tem dos filipenses, quanto a que os filipenses têm de Paulo.
A narrativa da fundação da igreja em Filipos está em Atos dos Apóstolos 16. Vamos agrupar a narrativa em torno dos três elementos estruturantes ou constitutivos da memória individual:

Em primeiro lugar, toda memória é constituída de acontecimentos. Segundo o dicionarista Houaiss, o verbo acontecer significa “ser ou tornar-se realidade no tempo e no espaço, seja por acaso, seja como resultado de uma ação, ou como o desenvolvimento de um processo ou a modificação de um estado de coisas, envolvendo ou afetando (algo ou alguém)”. Ao lermos Atos 16, logo descartamos a eventualidade dos acontecimentos que conduziram e ocorreram a Paulo em Filipos, o texto fala claramente que o Espírito Santo o dirigiu àquela cidade e possibilitou-lhe encontros e desencontros.

Em segundo lugar, toda memória é constituída de pessoas, de personagens. Em Filipos Paulo conheceu várias pessoas, de diferentes classes sociais e procedências religiosas. Uma vendedora de púrpura chamada Lídia, uma jovem possessa por um espírito de adivinhação, o carcereiro da cidade, além de vários anônimos que são referidos na passagem acima, mas que o Senhor não nos permitiu conhecer-lhes os nomes.

Em terceiro lugar, toda memória é constituída de lugares. Os acontecimentos e as pessoas estão ancorados, emoldurados em lugares por onde passamos, permanecemos, vivemos. O lugar que emoldura a narrativa é a cidade de Filipos, uma das principais cidades da Macedônia, orgulhosa de sua condição de colônia romana, de ser, melhor dizendo, uma miniatura de Roma. É nesse lugar que Paulo vai desenvolver seu ministério e fundar a primeira igreja da Europa.


Tudo isso nos leva a concluir que os encontros e desencontros não são ocasionais. “Dou graças ao meu Deus”, Paulo entende que é Deus que proporciona a ocorrência de acontecimentos, o encontro com pessoas e o trânsito pelos lugares para, acima de tudo, cumprir os Seus propósitos. Valorize os acontecimentos que te conduzem à lugares e pessoas, por não é por acaso que as encontramos. Lembranças, doces lembranças dos filipenses Paulo carrega na memória, e depois de cerca de 10 anos distante, ainda inspira o apóstolo a interceder por aqueles irmãos. O melhor lugar para se lembrar de alguém é diante de Deus em oração.

CRISTO, NOSSO ADVOGADO

Fonte da figura: http://www.reflexoesevangelicas.com.br/

Texto: Jo 2.1,2

2.1 Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo;
2.2 e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro.

INTRODUÇÃO

Uma das maiores dificuldades que o crente sincero e fervoroso encontra na vida cristã é a de lidar com seus próprios fracassos. E quanto a isso, existe dois extremos perigosos: ser demasiado indulgente e demasiado severo para com o pecado. Indulgência demasiado grande seria quase encorajar o pecado no cristão salientando a provisão de Deus para o pecador. Uma severidade exagerada, por outro lado, seria, ou negar a possibilidade de um cristão pecar, ou recusar-lhe perdão e restauração, se ele cai. Ambas as posições extremas são contestadas por João. Portanto, hoje vamos estudar sobre a provisão de Deus para aqueles que pecam.

I – ENCORAJAMENTO DE DEUS PARA OS CRISTÃOS
Filhinhos meus, estas cousas vos escrevo para que não pequeis (2.1a).

1 – Um pastor afetuoso com seu rebanho – “Filhinhos meus”. A frase, Filhinhos meus, sugere tanto a idade avançada do autor como o terno e afetuoso relacionamento que havia entre ele e seus leitores.

2 – Um pastor preocupado com seu rebanho – “estas cousas vos escrevo para que não pequeis (2.1a)”.
2.1 – Aprendemos da declaração de João que Deus nos deu a Bíblia para que aprendamos a não pecar.
2.2 – Aprendemos da declaração de João que o perdão repetido de pecados por meio da confissão (1.9) não funciona como uma espécie de “válvula de escape” para uma vida irregular, ou para um cristianismo de baixo padrão moral. “Não”, diz João, “escrevi estas coisas exatamente para que vocês não pequem.”
2.3 – Aprendemos da declaração de João que ainda não somos perfeitos. De fato, existem várias passagens, como essa agora comentada (2.1a), que aparentemente ensinam que a perfeição cristã moral absoluta é algo possível de ser obtido aqui nessa vida. Ao longo da história, vários movimentos têm surgido dentro da Igreja Cristã ensinando algum tipo de perfeição. O perfeccionismo, entretanto, não é bíblico. O ensino bíblico sobre a perfeição cristã pode ser resumido em alguns pontos. Primeiro, todos os crentes já são perfeitos em Cristo Jesus (Cl 2.10; 3.1-4; Ef 2.6; Rm 8.30). Estas passagens bíblicas se referem à posição ocupada pelo crente diante de Deus, em Cristo. Esta perfeição é um ato de Deus, pela graça. Segundo, durante a vida presente, há um processo de aperfeiçoamento (santificação), em que a perfeição já obtida em Cristo é operada gradualmente em nós (2Co 7.1); nesse processo, o crente coopera por meio do aprendizado e obediência (Fp 2.12,13). Terceiro, esse processo é incompleto aqui nessa vida, mas é completado na morte do crente (2Co 5.1-5), ou no retorno do Senhor Jesus (ICo 15.51,52). Por último, as Escrituras preveem uma vida santa e vitoriosa para o verdadeiro cristão, como sinal da sua eleição (2Ts 2.13; Hb 12.14) e como sendo o seu andar normal (3.9; Rm 6.12-14; G1 5.16).

II – PROVISÃO DE DEUS PARA A RESTAURAÇÃO DOS CRISTÃOS
Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, O Justo (2.1 b).

1 - O pecado no crente é um “acidente”, e não a situação normal em que ele vive. No original, essa frase expressa uma possibilidade, não algo que fatalmente irá ocorrer. Para João, o pecado no crente é um “acidente”, e não a situação normal em que ele vive. A ideia é que o crente, pela graça de Deus, pode levar uma vida onde o pecado é acidental, e não normal (3.6; 3.9). Mas acidentes espirituais infelizmente acontecem.

2 – A provisão que Deus fez para o cristão que peca “temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (2.1b).

2.1 – Advogado junto ao Pai. A palavra “advogado” aparece mais quatro vezes no Novo Testamento, todas no Evangelho de João, onde é traduzida como “Consolador”, e se refere ao Espírito Santo (ver Jo 14.16,26; 15.26; 16.7). Essa palavra significa, em geral, alguém que se coloca ao lado de outro para ajudar. Quando João usa a palavra aqui, aplicada a Cristo, a ideia é que ele fala sobre nós com o Pai, em nossa defesa, e intercede para que sejamos perdoados (Rm 8.34; I Tm 2.5). Não se trata interceder diante do Juiz, pois já fomos justificados, mas do Pai, pois somos filhos de Deus, parte da família.
            2.1.1 – Sua natureza humana – Jesus (Hb 5.19; 7.24,25);
            2.1.2 – Seu ofício divino – Cristo;
            2.1.3 – Seu caráter justo – Justo;
2.1.4 – Seu sacrifício propiciatório. E ele é a propiciação pelos nossos pecados (2.2a). Essa frase vem da linguagem cerimonial do Antigo Testamento, quando animais eram sacrificados e o sangue derramado como “pagamento” pelo pecado (cf. Lv 16.14,15; 17.11). Cristo é o sacrifício, providenciado pelo próprio Deus, que satisfaz ajusta ira de Deus pelos nossos pecados, e desvia essa ira de sobre nós, apaziguando a Deus e nos reconciliando com ele (veja ainda 4.10; Rm 3.25,26; I Pe 2.24; 3.18). Aqui podemos destacar:
            a) A natureza do seu sacrifício. E ele é a propiciação pelos nossos pecados (2.2a)
            b) O Alcance do seu sacrifício. E não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro (2.2b).

APLICAÇÕES

Vimos que Deus nos deu a Bíblia para que aprendamos a não pecar.

Aprendemos também que podemos confiantemente suplicar pelo perdão de nossos pecados, pois Jesus Cristo nos garante a remissão.


Que Salvador maravilhoso e perfeito! Em Cristo recebemos ânimo e coragem para continuarmos quando, ao pecarmos, recorrermos à sua obra completa.

COMO SABER QUE CONHEÇO A JESUS


Texto:  1 Jo 2.3-6

Introdução
- O contexto mediato - Gnosticismo.
- O contexto imediato – a intercessão de Jesus pelos crentes.
- O objetivo do texto: “De que maneira podemos saber que nós realmente conhecemos a Jesus, e que somos beneficiados por sua intercessão?”
- Para ajudar os crentes a discernir o verdadeiro conhecimento de Deus, João apresenta um critério, um teste moral, para que pudessem avaliar a afirmação daqueles mestres.
I – O TESTE MORAL: A OBEDIÊNCIA É A EVIDÊNCIA DO VERDADEIRO CONHECIMENTO DE DEUS.
1.    Somente podemos saber que viemos a conhecê-lo se guardamos os seus mandamentos. A nossa teologia deve conduzir-nos a ortopraxia.
·         Uma Objeção:Neste caso ninguém conhece a Deus porque ninguém é perfeitamente obediente”.
·         A Resposta. Podemos responder com Calvino: “ele não quer dizer que aqueles que satisfazem totalmente a Lei guardam os Seus mandamentos, mas os que lutam, de acordo com a capacidade da fraqueza humana, para formar a sua vida na obediência a Deus”.
2.    Warren Wiersbe diz que a obediência pode ter três motivações: obedecemos porque somos obrigados, porque precisamos ou porque queremos. O escravo obedece porque é obrigado. Do contrário, será castigado. O empregado obedece porque precisa. Pode não gostar de seu trabalho, mas certamente gosta de receber o salário no final do mês! Precisa obedecer, pois tem uma família para alimentar e vestir. Mas o cristão deve obedecer ao Pai celestial porque quer — porque tem um relacionamento de amor com Deus. Jesus disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14.15).
II – OS EXEMPLOS: SERÁ QUE VOCÊ REALMENTE CONHECE A DEUS?
Após estabelecer que o verdadeiro conhecimento de Deus não pode ser divorciado da conduta moral, João aplica as implicações desse fato como um teste para sabermos quem conhece realmente a Deus, e quem não.
1.    1º EXEMPLO: “Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade”. As palavras de um homem devem ser provadas por suas obras, pela sua consistência moral. John Stott tem razão quando diz que nenhuma experiência religiosa é válida se não tiver consequências morais (Tt 1.16).
2.    2º EXEMPLO: “Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus”. A obediência de um homem à Palavra é a prova de que o amor Deus está em nós amadurecido. O amor de Deus poderia ser subjetivo (o amor de Deus por nós), qualitativo (amor como o de Deus) ou objetivo (o nosso amor a Deus). O verdadeiro amor a Deus se expressa, não em linguagem sentimental ou em experiência mística, mas na obediência moral (Jo 14:15, 21, 23; 15:10). A prova de amor é a lealdade. Esse amor é “aperfeiçoado”.
III - UMA CONCLUSÃO LÓGICA: VIVA COMO JESUS VIVEU
“Nisto sabemos que estamos nele: aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou”.
1)     A obediência de um homem à Palavra deve leva-lo a andar assim como Jesus andou. Não basta guardar a sua palavra (5); temos que andar assim como ele andou.  A conformidade do cristão deve ser com o exemplo de Cristo, bem como os Seus mandamentos (cf. 2:29:  3:3,7; Jo 13:15; 1 Pe 2:21). Não podemos pretender permanecer nele, a menos que nos comportemos como Ele.
APLICAÇÕES
- O Cristianismo tem sido acusado historicamente de ser uma religião que leva seus adeptos a uma vida em pecado, porque ensina que a salvação é gratuita, e que as boas obras e uma vida santa não contribuem em nada para o perdão dos pecados.
- A vontade de Deus é que tenhamos uma vida pura e santa, que não pequemos. Ele sabe que não podemos viver absolutamente sem pecado aqui no mundo, porém espera de nós uma vida na qual o pecado não é a característica maior. Assim, aqui temos mais um teste do verdadeiro crente: ele ama a Cristo e anda nos seus mandamentos; se cair, sabe que tem um advogado diante de Deus. E isso o leva a levantar-se e prosseguir.

- E por fim, o conhecimento verdadeiro de Deus não se resume em acreditar intelectualmente em determinadas doutrinas. É um conhecimento prático, que se expressa no andar obediente à vontade de Deus revelada nas Escrituras.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Retroceder nunca, render-se jamais.

Fonte da imagem: http://www.turmadableia.com/nunca-desista/

Texto Bíblico: Lucas 8.40-42, 49-56.

Eu sei, não precisa me lembrar de que a epígrafe do texto remete ao filme de mesmo nome, que fez muito sucesso entre o público amante das artes maciais na década de 90. Mas, para tristeza desse público, este texto não é uma crítica de cinema, mas uma reflexão sobre outra narrativa, real, que se passou a mais de 2000 mil anos atrás, numa cidadezinha da Galileia, em Israel, chamada Cafarnaum, e que tem por protagonista Jesus e por coadjuvante, Jairo, o príncipe da sinagoga local, um cargo que o distinguia entre os seus pares e lhe dava status, prestígio, respeito e influência entre o seu povo (qualquer semelhança com os políticos atuais é mera coincidência).

Talvez você esteja pensando que interesse essa história teria para você, que vive no século 21, no mundo do prefixo pós (pós-modernidade, pós-industrial, pós-cristão, etc...), globalizado e virtualizado, das grandes metrópoles e megalópoles, com seu frenesi diário. Para não ser prolixo, afinal, você não tem muito tempo para ler este texto, a narrativa é sobre um pai (antes de ser príncipe da sinagoga Jairo era, acima de tudo, pai) que se humilha perante Jesus para que este fosse à sua casa curar a sua filha única que estava à beira da sepultura e de como Jesus prontamente atendeu seu pedido. Chamo a sua atenção para três fatos:

Em primeiro lugar, a posição social de Jairo é fútil diante da morte iminente da sua filha. Mesmo príncipe da sinagoga, possuindo um capital social de prestígio e respeito, nada disso o pode ajudar diante da carranca da morte, que ameaçadora intenta invadir seu lar e levar seu troféu. Aliás, a posição social de Jairo parece ter retardado a sua ida à presença de Jesus.

Em segundo lugar, a posição religiosa de Jairo é fútil diante da morte iminente da sua filha. A religião pode se tornar o maior empecilho no caminha da vida, quando divorciada do princípio do amor. Jairo era, em certo sentido, inimigo declarado de Jesus, pois na sinagoga Jesus havia muitas vezes “quebrado” o sábado, curando pessoas enfermas. A posição religiosa de Jairo parece, também, tê-lo retardado.

Em terceiro lugar, a decisão acertada de Jairo diante da morte iminente da sua filha. Jairo resolveu romper as redes da posição social e religiosa que o imobilizavam e recorrer àquele que é chamado de “a vida” (Jo 14.6), Jesus. O desespero levou Jairo a Jesus, o desespero o levou a romper as malhas da posição social e religiosa, mas nem por isso foi censurado por Jesus, ou acusado de ser um “homem de pequena fé”, por ele pedir a Jesus que fosse com ele a sua casa - diferente do centurião, por exemplo, que se contentou com uma palavra.


Pessoas do século 21 – ou de qualquer outra época – passam (ram) por situações semelhantes e muitas delas “precisam” descer ao abismo do desespero para entenderem que posição social ou religiosa, às vezes, mais atrapalha do que ajuda. A mensagem desta narrativa é que Jesus é a melhor posição diante da vida e da morte, que ele tem o maior interesse em SALVAR você e sua família, independentemente de sua posição social ou religiosa. Por isso, mesmo que digam “não incomodes mais o mestre”, não dê ouvidos, é isso que o mundo atual diz, com sua incredulidade, antes siga o conselho de Jesus a Jairo “não temas, crê somente, e tua filha será salva”. Retroceder nunca, render-se jamais.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Determinações Bíblicas Para Dízimos e Ofertas Alçadas


Por Solano Portela

1. DÍZIMOS

O assunto principal que quero abordar é a base bíblica das ofertas, não pretenderia, portanto, me alongar no tratamento do dízimo. Sinto-me, entretanto, na obrigação de colocar algumas poucas e objetivas palavras sobre a questão do dízimo. Não é minha intenção dar uma exposição detalhada de que o dízimo é uma determinação procedente de Deus, que precedeu a lei cerimonial e judicial da nação de Israel (incorporando-se posteriormente a essas), sendo portanto válido para todas as épocas e situações. Não é, também, minha intenção partir para uma exposição da seriedade com a qual Deus apresentou e tratava essa questão do dízimo. Não vou, portanto, examinar as severas advertências àqueles que desprezavam suas determinações. Tudo isso já foi dito e exposto por outros de uma forma bem melhor e mais completa do que eu poderia aqui fazer.

Gostaria apenas de reforçar dois princípios bíblicos sobre o dízimo, extraídos do Novo Testamento. Por isso os classificaremos como princípios neotestamentários, que devem regular a nossa contribuição sistemática:

a) O primeiro princípio neotestamentário que desejo ressaltar, é que a Palavra de Deus nos ensina que devemos contribuir planejadamente. Temos este ensinamento em 2 Co 9.7, que diz: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por constrangimento (Atualizada: ‘necessidade’); porque Deus ama ao que dá com alegria”.

Freqüentemente nos concentramos apenas no entendimento superficial do versículo, e interpretamos que ele fala simplesmente da voluntariedade da contribuição. Mas o fato de que ele nos ensina que a nossa contribuição deve ser alvo de prévia meditação e entendimento nos indica, com muito mais força, que ele deve ser uma contribuição planejada, não aleatória, não dependente da emoção do momento. O dar com emoção é válido. O dar seguindo o impulso momentâneo do coração, possivelmente, mas ambos não se constituem no cerne do “dar” neotestamentário.

Deus está nos ensinando que o seu “mover do nosso coração” não significa a abdicação de nossas responsabilidades. Ele nos ensina que não podemos simplesmente esquecer as portas abertas que ele coloca à nossa frente, relacionadas com as necessidades de sua igreja, e esperar o “mover do espírito”. Tudo isso soa muito piedoso e espiritual, mas se vamos propor no nosso coração, significa que vamos considerar com seriedade que a nossa contribuição deve ser planejada.

Bem, o irmão pode achar uma excelente forma de planejar, mas eu não encontro melhor forma do que a estabelecida na Bíblia: que é a dádiva do dízimo, reconhecimento simbólico de que tudo o que temos pertence a Deus. O dízimo representa a essência da contribuição planejada e sistemática e, conseqüentemente, deveríamos propor no nosso coração dar o dízimo. Vêem como isso muda a compreensão que tantos têm do verso? Alguns dizem: o dízimo constrange e retira a alegria da contribuição, quando o ensinamento é justamente o contrário: proponha no seu coração, sistematize sua contribuição e a contribuição fluirá de você sistematicamente, sem constrangimentos, com alegria. Não procure inventar: contribua na forma ensinada pelo próprio Deus ao seu povo.

b) Um segundo princípio neotestamentário, é que Deus espera que a nossa contribuição seja proporcional aos nossos ganhos, ou seja, devemos contribuir proporcionalmente. Encontramos esta lição em 1 Co 16.2-3, que diz: “No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder, conforme tiver prosperado, guardando-o, para que se não façam coletas quando eu chegar.”

O ensinamento é, mais uma vez muito claro. É óbvio que Paulo espera uma contribuição sistemática, pois ele diz que ela deveria ser realizada aos domingos (no primeiro dia da semana), que é quando os crentes se reuniam. O versículo é muito rico em instrução, demonstrando até a propriedade de nos reunirmos e cultuarmos ao Senhor aos domingos, contra os ensinamentos dos sabatistas, testemunhas de jeová e, agora, até da Valnice Milhomens, de que deveríamos voltar ao Velho Testamento e estarmos guardando o sábado, o sétimo dia da semana.

Quero chamar a sua atenção, entretanto, para o fato de que Paulo, pela inspiração do Espírito Santo, nos ensina que temos que contribuir conforme Deus permitir que prosperemos, ou seja, conforme os nossos ganhos. Essa é a grande forma de justiça apontada por Deus: as contribuições devem ser proporcionais, ou seja um percentual dos ganhos. Assim, todos contribuem igualmente, não em valor, mas em percentual.

Mais uma vez, o irmão pode querer inventar um percentual qualquer. Admito até que isso pudesse acontecer se nunca tivesse tido acesso ao restante da Bíblia, mas todos nós sabemos qual foi o percentual que o próprio Deus estabeleceu ao seu povo: dez por cento dos nossos ganhos! Isso, para mim me parece satisfatório e óbvio. Não preciso sair procurando por outro meio e forma, principalmente porque se assim eu o fizer posso até dizer, eu contribuo sistematicamente com o percentual que eu escolhi, mas nunca vou puder dizer que o faço em paridade e justiça com os outros irmãos, pois quem garante que o percentual dele é igual ao meu? Eu destruiria com isso, o próprio ensinamento da proporcionalidade que Deus nos ensina através de Paulo. Porque não seguir a forma, o planejamento e a proporção que já havia sido determinada por Deus?

Sabemos que temos muita argumentação falha, a favor do dízimo, que procura utilizar prescrições da lei cerimonial (cumprida em Cristo) ou da lei judicial de Israel (de caráter temporal, para aquela nação). Entretanto, temos, igualmente, muitos princípios válidos e exemplos sobre o dízimo, tanto no Velho como no Novo Testamento. No nosso caso, procurei me concentrar apenas nesses dois princípios.

Acredito, portanto, na primazia da contribuição sistemática, planejada, que não está sujeita ou escravizada às flutuações da nossa natureza pecaminosa, mas que segue o modelo e percentual utilizado pelo povo de Deus e que procedeu das próprias determinações divinas.


2. OFERTAS

Necessitamos, em adição, ir até à Palavra de Deus e verificarmos que a contribuição sistemática, periódica e proporcional não é a única encontrada nas Escrituras, nem como registro histórico, nem como determinação.

Além do dízimo, Deus fez registrar a propriedade das ofertas alçadas, ou seja, de contribuições esporádicas que fluíam dos corações de servos movidos pelo desejo de ir além, de sua contribuição dizimal, quer por mera gratidão, quer por uma causa específica, colocada por Deus perante eles, quer por uma necessidade extrema de auxílio, de caráter social.

Nesse sentido, vamos estudar algumas passagens. Elas não esgotam o assunto, mas são ilustrativas de nossas responsabilidades e privilégios perante Deus, no que diz respeito a essa questão.

a. Velho Testamento:

(1) Êxodo 25-36
Este trecho nos fala da construção do tabernáculo. Foi uma construção ordenada por Deus. Aquela construção atenderia a necessidade de providenciar um local de adoração ao povo que peregrinava pelo deserto. Dizia respeito, portanto, ao acondicionamento físico do povo e dos instrumentos litúrgicos. Muitas das coisas determinadas aqui possuem o simbolismo característico do Velho Testamento e eram destinadas a demonstrar a majestade da presença de Deus, a sua santidade e a apontar para o redentor prometido.

Deus, com todo o seu poder, poderia ter produzido do nada uma casa de adoração. Quis ele que tudo fosse feito com os recursos do povo, entrelaçando a construção com o dia-a-dia de Israel. Para a construção e para os ornamentos havia a necessidade de muitos objetos de valor, utensílios, ouro, prata, cobre. Nenhum estudioso sério da palavra de Deus questionaria que o dízimo estava em vigor, nesta ocasião (no máximo temos os que questionam a sua validade no novo testamento, mas quanto à isso, já nos posicionamos). Porque Deus não utilizou os dízimos de seu povo para esta necessidade? A razão é bem direta: porque os dízimos, sendo a contribuição sistemática, já tinham a sua aplicação normal: serviam ao sustento dos levitas, dos líderes religiosos, e serviriam à manutenção dos atos de adoração, mas não poderiam fazer face à necessidade específica, esporádica e extra-normal que agora era colocada por Deus perante seu povo. Deus os chama, conseqüentemente, a contribuir com ofertas alçadas, extras.

O princípio básico está colocado no versículo 2: “Fala aos filhos de Israel que me tragam uma oferta alçada; de todo homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a minha oferta alçada”. A versão Atualizada, diz apenas “oferta”. O original (hebr.: T’Rumáh—oferta alçada, da raiz Rum­–oferta), entretanto, traz “oferta alçada”. Isso não quer dizer nada com relação ao valor – se seria pouco ou muito. Representa algo (um bem, metal precioso, ou dinheiro) extraído do meio do povo que é levantado (alçado) e apresentado ao Senhor como uma dádiva especial, de forma voluntária. Os rituais levíticos posteriores tinham as ofertas alçadas, que eram levantadas perante o altar apenas uma vez, pelo sacerdote, e a oferta “abanada”, que era levantada ou movida várias vezes perante o altar, representando a consagração da dádiva. Tal oferta não era, nem poderia ser, compulsória. Ela era voluntária. O texto diz com muita clareza: todo o homem cujo coração se mover voluntariamente. Esses eram os contribuintes. Eles deveriam trazer ofertas especiais, de gratidão e reconhecimento, coisas de valor a serem utilizadas nas necessidades físicas da adoração espiritual que é devida somente a Deus.

Os próximos seis capítulos de Êxodo (até o 31) registram em detalhes o que Deus queria que fosse feito em sua casa de adoração. No capítulo 35, Moisés chama o povo e começa a passar a ele as instruções recebidas de Deus. No versículo 5 ele diz: “Tomai de entre vós uma oferta para o Senhor; cada um cujo coração é voluntariamente disposto, a trará por oferta alçada ao Senhor: ouro, prata e bronze…” Mais uma vez, o caráter voluntário da oferta é ressaltado. Nos versículos 21 e 22, temos o registro da ocorrência das ofertas (recapitulando: primeiro Deus ordena a Moisés, depois Moisés ordena ao povo e agora, temos o fato real). Mais uma vez o registro da voluntariedade é ressaltado. Diz o trecho:

(21) E veio todo homem cujo coração o moveu, e todo aquele cujo espírito o estimulava, e trouxeram a oferta alçada do Senhor para a obra da tenda da revelação, e para todo o serviço dela, e para as vestes sagradas.

(22) Vieram, tanto homens como mulheres, todos quantos eram bem dispostos de coração, trazendo broches, pendentes, anéis e braceletes, sendo todos estes jóias de ouro; assim veio todo aquele que queria fazer oferta de ouro ao Senhor.

O versículo 29 reforça ainda mais o princípio:

(29) Trouxe uma oferta todo homem e mulher cujo coração voluntariamente se moveu a trazer alguma coisa para toda a obra que o senhor ordenara se fizesse por intermédio de Moisés; assim trouxeram os filhos de Israel uma oferta voluntária ao Senhor.

Perante essa evidência não podemos, meus irmãos, dizer que o dízimo é a única forma de contribuição encontrada na Palavra de Deus. Ofertas voluntárias têm o seu lugar e são apropriadas em casos específicos, como o que Deus colocou à nossa frente.

Uma segunda coisa que aprendemos nesse trecho, é que a voluntariedade da oferta não significava aleatoriedade. Ou seja, por ser voluntária não significava que não podia ser planejada. Na realidade lemos, no capítulo 36, v. 3, o seguinte: “…e receberam de Moisés toda a oferta alçada, que os filhos de Israel tinham do para a obra do serviço do santuário, para fazê-la; e ainda eles lhe traziam cada manhã ofertas voluntárias”. Ou seja, enquanto durou a construção, as ofertas eram trazidas sistematicamente, repetidamente, a cada manhã. Não vamos pensar, portanto, que o planejamento e sistematização tiram a espiritualidade da oferta planejada e dada de coração. Essa sistematização muito deve ter auxiliado aqueles que necessitavam dar andamento à construção.

Que glorioso resultado foi alcançado com o entendimento correto e com a predisposição do povo de Deus, nessa dádiva de ofertas. Vejam o que registram os versículos 4 a 7, deste mesmo capítulo 36:

(4) Então todos os sábios que faziam toda a obra do santuário vieram, cada um da obra que fazia,

(5) e disseram a Moisés: O povo traz muito mais do que é necessário para o serviço da obra que o Senhor ordenou se fizesse.

(6) Pelo que Moisés deu ordem, a qual fizeram proclamar por todo o arraial, dizendo: Nenhum homem, nem mulher, faça mais obra alguma para a oferta alçada do santuário. Assim o povo foi proibido de trazer mais.

(7) Porque o material que tinham era bastante para toda a obra, e ainda sobejava.

Que coisa gloriosa se Deus fosse servido mover o nosso povo ao ponto em que precisaríamos vir até à frente PROIBIR, para que nada mais se trouxesse!

(2) Levítico 22:18-19 
Este outro trecho da Palavra de Deus está inserido nas regras e determinações sobre o dia-a-dia das práticas do povo de Deus. Temos esta colocação nos versículos 18 e 19:

“Fala a Arão, e a seus filhos, e a todos os filhos de Israel, e dize-lhes: Todo homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros em Israel, que oferecer a sua oferta, seja dos seus votos, seja das suas ofertas voluntárias que oferecerem ao Senhor em holocausto, para que sejais aceitos, oferecereis macho sem defeito, ou dos novilhos, ou dos cordeiros, ou das cabras.”

Desse registro aprendemos:

1. Mesmo sem nenhuma ocasião especial, a prática de ofertas voluntárias era permitida e disciplinada no meio do povo de Deus. Não existe, portanto incompatibilidade entre os dízimos e ofertas.

2. O que era ofertado deveria vir sem defeito, ou seja, não ofertamos daquilo que nós mesmos não queremos, mas sim do que é agradável e aceitável. Deus merece o melhor.

3. A determinação era para os israelitas e para os estrangeiros em Israel, ou seja, não podemos restringir a oferta voluntária apenas aos membros do povo de Deus. Lembremo-nos, entretanto, que são ofertas voluntárias e não demandadas, solicitadas, constrangidas. A responsabilidade primordial é do Povo de Deus.


b. Novo Testamento.

(1) Uma Oferta a Paulo
Paulo estava na prisão quando escreveu a carta aos Filipenses. É uma carta de amor e gratidão, na qual ele expressa a possibilidade do crente exercitar essa alegria em Cristo independentemente das circunstâncias pelas quais está passando. Pensemos na situação de Paulo. Ela era dura e amarga. Estava afastado do convívio dos seus amigos, em uma prisão e certamente tinha várias necessidades.

A igreja de Filipo, consciente das necessidades de Paulo, levantou e enviou uma oferta específica para ele. No capítulo 4 (10-19) temos o registro e alguns detalhes da ocorrência. Lemos ali:

(10) Ora, muito me regozijo no Senhor por terdes finalmente renovado o vosso cuidado para comigo; do qual na verdade andáveis lembrados, mas vos faltava oportunidade.

(11) Não digo isto por causa de necessidade, porque já aprendi a contentar-me com as circunstâncias em que me encontre.

(12) Sei passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer necessidade.

(13) Posso todas as coisas naquele que me fortalece.

(14) Todavia fizestes bem em tomar parte na minha aflição.

(15) Também vós sabeis, ó Filipenses, que, no princípio do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo no sentido de dar e de receber, senão vós somente;

(16) porque estando eu ainda em Tessalônica, não uma só vez, mas duas, mandastes suprir-me as necessidades.

(17) Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa conta.

(18) Mas tenho tudo; tenho-o até em abundância; cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus.

(19) Meu Deus suprirá todas as vossas necessidades segundo as suas riquezas na glória em Cristo Jesus.

Vemos que é o agradecimento de ofertas, remetidas duas vezes e com toda probabilidade em dinheiro, pois no verso 16 lemos: “não somente uma vez, mas duas, mandastes o bastante para as minhas necessidades”. Essas ofertas foram levadas à Paulo por Epafrodito, como nos fala o verso 18, e é exatamente para este versículo que eu gostaria de dirigir a nossa atenção, pois dele extraímos quatro lições sobre ofertas.

Aprendemos que a oferta voluntária:

1. É um ato desejável por Deus (“aroma suave”). A oferta é comparada a um aroma suave, a um perfume não agressivo, mas suave. Aquele cheiro que permanece e que nos traz memórias e lembranças, que nos faz desejar estar de novo sentindo ele. Nesse sentido, é um privilégio poder contribuir, poder fazer algo que é desejável por Deus. Veja no versículo 10 que Paulo diz que “..vos faltava oportunidade”. Isso significa que devemos ver as situações de necessidade de contribuição que Deus coloca à nossa frente, como grandes oportunidades a serem aproveitadas.

2. É um ato aceitável por Deus (“Sacrifício aceitável”). Não podemos, portanto, dizer que ofertas não sejam aceitas por Deus, pois Paulo nos ensina o contrário.

3. É um ato agradável a Deus (“aprazível”). O texto diz que ela é aprazível, ou seja, traz prazer a Deus.

4. É um ato direcionado a Deus (“a Deus”, traz o final do verso). Se vamos contribuir com outro propósito em mente: prosperidade, barganha com Deus, para agradar o Conselho, para agradar o pastor, até para termos mais orgulho da Igreja, tudo isso foge ao propósito principal: a oferta correta é direcionada a Deus e somente a ele. Nesse sentido é que acompanha o dízimo como um ato de gratidão e de louvor.

(2) Uma oferta aos Crentes de Jerusalém
Uma outra situação de necessidade foi registrada no Novo Testamento: os crentes de Jerusalém passaram a ser intensamente perseguidos e começaram a passar dificuldades financeiras. Muitos foram expulsos de suas casas, outros perderam suas ocupações, não podiam exercer suas profissões. Paulo registra que coletas foram feitas em favor das necessidades destes crentes em Romanos 15:25-28 (“…coleta em benefício dos pobres dentre os santos que vivem em Jerusalém.”) pelas igrejas da Grécia (Acáia) e Macedônia. Em 2 Coríntios 8 e 9 ele menciona essas coletas e fornece vários princípios relativos a contribuições.

Peço que os irmãos notem, neste trecho e incidente, os seguintes ensinamentos:

1. Proporcionalidade e voluntariedade não são incompatíveis entre si – 2 Co 8.3: “…na medida de suas posses.” Mais uma vez a questão da proporcionalidade no dar. Teríamos, possivelmente, uma inferência aos dízimos. Mas o versículo continua e registra: “e mesmo acima delas se mostraram voluntários.” Não resta dúvida que fala de contribuições voluntárias, destinadas a fazer face à uma necessidade. Contribuindo, dessa forma eles foram além dos dízimos, além da contribuição sistemática. Os versos 12 e 13 reforçam a questão da proporcionalidade e da justiça nas contribuições: Deus não quer o que o homem não tem. O seu propósito não é o de dar sobrecarga, mas o de proporcionar a igualdade.

2. O privilégio de contribuir – 2 Co 8.4. Lemos que os crentes dessas regiões “pediram com muitos rogos” a graça de participarem da assistência que se apresentava! Que diferença aos dias de hoje. Verificamos que hoje os solicitantes e não os crentes é que emitem “muitos rogos” compelindo os contribuintes a darem tudo de qualquer forma, sob qualquer pretexto. Que bênção seria se tivéssemos os diáconos sendo abordados “com muitos rogos” por crentes ansiando a participação no privilégio de contribuir com suas ofertas às necessidades da igreja! Este privilégio é uma atitude desejável - 2 Co 8.7. Paulo suplica para que eles continuem “abundando nesta graça”, ou seja, a prática da contribuição voluntária é algo desejável, é uma graça da parte de Deus aos seus servos. O desprendimento das coisas materiais e a colocação delas ao serviço do Mestre são um alvo a ser alcançado pelo servo fiel.

3. A procedência da contribuição verdadeira. É o coração sincero. A oferta, na visão de Paulo, era uma prova da “sinceridade do vosso amor” (8.8). Paulo estava dizendo que aquelas ações provariam as palavras de apreço, que não ficaram só nas palavras, mas estavam sendo transformadas em ação.

4. A importância do planejamento. Em 9.3, Paulo escreve que o fato das igrejas da Acáia (Grécia) estarem preparadas desde o ano anterior, para tal contribuição era uma prova do “zelo” deles e representava “um estímulo” para muitos. Não existia, portanto, nada não espiritual no planejar. Na realidade, Paulo informa que mandou um mensageiro de ante-mão, para que a reputação dos irmãos não fosse abalada (9.3) e eles estivessem preparados com a oferta que estavam a coletar. Paulo recomenda, portanto que “preparem de antemão a vossa dádiva”, chamando-a de “expressão de generosidade e não de avareza.” Muitas vezes somos chamados a planejar nossas ofertas porque isso pode auxiliar os que dela precisam e pode servir também de estímulo aos demais que, vendo a fidelidade da Igreja, se animam a contribuir.

(3) Uma oferta de uma pessoa pobre
Em Marcos 12.41-44 e Lucas 21.1-4 temos o registro de uma oferta trazida por uma viúva pobre ao templo. Lemos nesses trechos:

MARCOS 12 

(41) E sentando-se Jesus defronte do gazofilácio (cofre das ofertas), observava como a multidão lançava dinheiro no cofre; e muitos ricos depositavam grandes quantias.

(42) Vindo, porém, uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas correspondentes a um quadrante.

(43) E chamando ele os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos os que deitavam ofertas no gazofilácio;

(44) porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava; mas esta, da sua pobreza, deu tudo o que tinha, mesmo todo o seu sustento.

LUCAS 21

(1) Jesus, levantando os olhos, viu os ricos deitarem as suas ofertas no cofre;

(2) viu também uma pobre viúva lançar ali duas pequenas moedas;

(3) e disse: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos;

(4) porque todos aqueles deram daquilo que lhes sobrava; mas esta, da sua pobreza, deu tudo o que tinha para o seu sustento.


Podemos, desse resgistro, extrair as seguintes lições:

1. Deus se agrada das ofertas. Isso fazia parte da liturgia e não há qualquer palavra de condenação à prática.

2. Faz parte, portanto, de nossos deveres, pois Jesus aprovou a oferta da viúva.

3. A evidência do amor, não é a quantidade dada, mas a quantidade comparada com as nossas posses.

4. Deus requer de nós o mínimo, mas é apropriado até darmos tudo o que temos a Ele.

5. Deus não despreza a oferta humilde, na realidade Ele lhe dá maior valor do que a que procede do sobejo.

6. Não existe pessoa, portanto, que não possa, dessa forma, mostrar o seu amor a Deus.

7. Devemos estar constantemente pesquisando os nossos motivos, nas nossas ofertas.

8. Devemos pesquisar os nossos valores, também: estamos ofertando somente daquilo que sobra, aquilo que não tem serventia para ninguém?


3. CONCLUSÃO

Muitas outras passagens e ensinamentos poderiam ser examinados. Acreditamos, entretanto, que aqueles que tivemos a oportunidade de estudar, representam prova de que Deus se agrada e se tem prazer em nossas ofertas. Essas não tomam o lugar do dízimo, mas representam uma forma adicional de prestarmos a nossa adoração e amor para com Ele. Que possamos ter a visão bíblica da realidade, que não sejamos avarentos, mesquinhos e que estejamos sempre prontos a atender as necessidades que Deus colocou na nossa frente, sempre com ações de graças por termos parte em tão grande privilégio.

* Estudo adaptado de uma palestra originalmente proferida em uma Igreja Presbiteriana formada na “cultura do dízimo” mas com muitos questionamentos com relação a quaisquer outros tipos de ofertas.

FONTE: http://www.solanoportela.net/artigos/dizimos.htm

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