Por John MacArthur
Ele é antes de todas as cousas.
Nele tudo subsiste.
Ele é a cabeça do corpo, da
igreja. Ele é o princípio,o primogênito de entre os mortos, para em todas as
cousas ter a primazia.
Colossenses 1.17-18
Porquanto nele habita
corporalmente toda a plenitude da Divindade. Também nele estais aperfeiçoados.
Colossenses 2.9-10
Conta-se uma história sobre
William Randolph Hearst, o falecido editor jornalístico. Hearst investiu uma
fortuna em colecionar grandes obras de arte. Um dia ele leu sobre algumas
valiosas obras de arte e decidiu que deveria adicioná-las à sua coleção. Enviou
seu agente ao exterior para localizá-las e comprá-las. Meses se passaram antes
que o agente voltasse e relatasse a Hearst que os itens haviam finalmente sido
achados — eles estavam guardados em seu próprio armazém. Hearst os havia
comprado anos atrás!
Isso é análogo ao alarmante
número de cristãos que hoje estão numa busca desesperada por recursos
espirituais que já possuem. Eles praticam uma busca fútil por algo mais. Esse é
um fogo herético em parte abanado pela falsa noção de que a salvação é
insuficiente para transformar os crentes e equipá-los
para a vida cristã. Aqueles que estão sob a influência desta falsa noção acreditam que precisam de algo mais — mais de Cristo, mais do
Espírito Santo, um tipo de experiência de êxtase, visões místicas, sinais, maravilhas, milagres, uma segunda bênção, línguas, níveis espirituais mais elevados
ou mais profundos, ou o que quer que seja.
Mas ter
Jesus é ter todo recurso espiritual. Tudo que necessitamos se acha nEle. Em vez de tentarmos
acrescentar algo a Cristo, devemos simplesmente aprender a usar os
recursos que já possuímos nEle.
Em toda a Escritura, talvez o
texto mais definitivo sobre a suficiência de Cristo é o livro aos Colossenses. Paulo o escreveu para crentes
que eram fortes na fé e no amor
(Colossenses 1.4), mas confundidos por uma heresia que negava a suficiência de Cristo. Nosso estudo exige uma observação
cuidadosa em algumas porções desse texto-chave.
Não sabemos a exata natureza da
heresia em Colossos, porque Paulo não a
definiu em detalhes nem gastou tempo
nomeando e denunciando seus líderes. Em vez disso, ele a refutou
generalizada-mente, mostrando que se baseava num conceito inadequado e errôneo
a respeito da pessoa e do trabalho de Cristo. Ele escreveu à igreja de Colossos uma epístola inteira focalizando a
Cristo — seu lugar no universo, sua obra na salvação, sua preeminência
como Deus, sua posição como Cabeça da igreja e sua absoluta suficiência para
toda necessidade humana. Ao fazer isso, Paulo demonstrou
que a melhor defesa contra a falsa doutrina
é uma cristologia bíblica integral. Ele avisou aos Colossenses que
tentar acrescentar ou retirar algo da
pessoa e da obra de Cristo sempre termina em desastre espiritual.
No capítulo 1, Paulo escreveu:
Ele nos libertou do império das
trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a
redenção, a remissão dos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível, o
primogênito de toda a criação; pois nele foram criadas todas as cousas, nos céus
e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer
principados, quer potestades. Tudo foi
criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as cousas. Nele tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio,
o primogênito de entre os mortos, para em todas as cousas ter a primazia, porque
aprouve a Deus que nele residisse toda a
plenitude, e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele
reconciliasse
consigo mesmo todas as cousas, quer sobre a terra, quer nos céus. (vv. 13-20)
O apóstolo
faz um profundo sumário quando diz que em
Cristo estão escondidos todos os tesouros da
sabedoria e do conhecimento (2.3), porque nEle habita corporalmente toda
a plenitude da Deidade (2.9). Ele é o Cabeça
de todo principado e potestade (2.10). Ele é a própria vida (3.4)! O que mais poderia dizer o apóstolo para asseverar
a absoluta suficiência de nosso
Senhor?
O erro com
o qual Paulo estava lidando tinha muitas
facetas. Parece claramente ter sido uma antiga forma de gnosticismo. Os hereges
de Colossos alegavam que Cristo sozinho não poderia levantar alguém ao nível espiritual mais alto. Eles defendiam uma
variedade de aditivos espirituais, incluindo
a filosofia (2.8-10), o legalismo (2.11-17), o misticismo (2.18-19) e o ascetismo (2.20-23).
Cristo + Filosofia
A palavra "filosofia"
é a transliteração da palavra grega philosophia, a qual é formada de
duas palavras gregas comuns: phileo
(amar) e sophia, (sabedoria). Ela literalmente significa
"o amor à sabedoria humana". Em
seu sentido mais amplo, é a tentativa da parte do homem para explicar a natureza do universo, incluindo os fenômenos de existência,
pensamento, ética, comportamento, estética e assim por diante.
No tempo
de Paulo, "tudo que tinha a ver com teorias sobre Deus, sobre o mundo e
sobre o significado da vida humana se
chamava 'filosofia'... não somente nas
escolas pagas, mas também nas escolas judaicas das cidades gregas".
Josefo, o historiador judeu do primeiro século, acrescenta que havia três correntes filosóficas entre os judeus: a dos
fariseus, a dos saduceus e a dos essênios.
Paulo
condenou com veemência qualquer teoria filosófica,
a respeito de Deus, que professasse mostrar
a causa da existência do mundo e oferecer orientação moral à parte da revelação divina. Em Colossenses
2.8-10, ele diz:
Cuidado
que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia
e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo, e não segundo
Cristo: porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade. Também nele estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e
potestade.
A frase
"venha a enredar" (v.8) vem da palavra grega sylagogeo, que se referia a levar os cativos ou outros
despojos da guerra. Nesse sentido, ela transmitia
a idéia de um rapto. Ela retrata o modo como a heresia "Cristo +
filosofia" estava seqüestrando os colossenses para longe da
verdade, levando-os à escravidão do erro.
Assim o apóstolo retratou a filosofia como uma predadora que procura escravizar cristãos sem discernimento, por
meio de "vãs sutilezas" (v.8).
"Vãs"
fala de algo vazio, destituído da verdade, fútil, infrutífero e sem efeito. A filosofia declara ser verdadeira mas é
totalmente enganosa, como um pescador que captura sua presa involuntária, ao esconder um anzol mortal dentro de um saboroso
bocado de alimento. O peixe pensa
que está sendo alimentado quando, em
vez disso, torna-se alimento. Igualmente, aqueles que abraçam uma
filosofia humana sobre Deus e o homem podem
pensar que estão recebendo a
verdade, mas, em vez disso, estão recebendo vão engano, que pode levar à
condenação eterna.
A filosofia é inútil porque se
fundamenta na "tradição dos homens" e nos "rudimentos do mundo" (v.8), e não em Cristo. A "tradição
dos homens" se refere às
especulações humanas passadas de geração a geração. A maioria dos
filósofos amontoam seus ensinamentos sobre
a pilha de ensinamentos dos seus predecessores. Um desenvolve um
pensamento até tal ponto, depois outro o desenvolve além, e assim vai. Isso é uma
série de variações dentro da tradição
humana que apenas perpetua o erro e agrava a ignorância.
A frase "rudimentos do
mundo" literalmente significa "coisas em coluna" ou "coisas
em fila" (tais como 1,2,3, ou A,B,C). Ela se refere ao tipo de instrução que se daria a uma criança. Paulo estava
dizendo que, embora intente ser sofisticada, a
filosofia humana é de fato rudimentar— infantil e sem refinamento. Abandonar a revelação bíblica em favor da
filosofia é como voltar ao jardim da infância
após formar-se numa universidade. Mesmo a mais refinada filosofia humana nada
pode oferecer para ampliar a verdade de Cristo. Ela impede e retarda a verdadeira sabedoria, produzindo apenas
tolice, erro e engano infantis.
Em 1 Coríntios 1.18-21, Paulo
diz:
Certamente a palavra da cruz é
loucura para os que se
perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. Pois está escrito:
Destruirei a sabedoria dos
sábios e aniquilarei a inteligência dos entendidos.
Onde está
o sábio? onde o escriba? onde o inquiridor deste século?
Porventura não tornou Deus louca
a sabedoria do mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por
sua própria sabedoria,
aprouve a Deus salvar aos que crêem, pela loucura da pregação.
A sabedoria humana não pode
enriquecer a revelação dada por Deus. De fato, ela inevitavelmente resiste e contradiz a verdade divina. Mesmo o
melhor da sabedoria humana é mera tolice em comparação com a infinita sabedoria
de Deus.
Os cristãos, de forma nenhuma,
precisam se dirigir à sabedoria humana.
Eles possuem a mente de Cristo (1 Coríntios 2.16). A grande, perfeita e incompreensível sabedoria de Cristo se revela a
nós na Palavra de Deus pelo Espírito Santo. Isso deveria revolver nossos corações e nos fazer declarar
juntamente com o salmista:
Quanto amo a tua lei!
É a minha meditação todo o dia.
Os teus mandamentos me fazem
mais sábio que os meus inimigos; porque aqueles eu os tenho sempre comigo.
Compreendo mais do que todos os
meus mestres, porque medito nos teus testemunhos.
Sou mais entendido que os
idosos, porque guardo os teus preceitos.
De todo mau caminho desvio os
meus pés, para observar a tua palavra. Não me aparto dos teus juízos, pois tu me ensinas.
Quão doces são as tuas palavras
ao meu paladar! mais que o mel à minha boca.
Por meio dos teus preceitos
consigo entendimento; por isso detesto todo caminho de falsidade.
(Salmo 119.97-104)
Por que se deixar capturar pela
filosofia quando se pode ascender à
perfeita verdade de Deus?
Em Colossenses 2.9-10, Paulo
traça um significativo paralelo: "Porquanto nele habita corporalmente toda
a plenitude da Divindade. Também nele estais aperfeiçoados".
"Plenitude" e "aperfeiçoados",
nessa passagem, são originadas da mesma palavra grega (plêroma). Assim como Cristo é absolutamente divino, também nós somos totalmente suficientes
nEle. A sabedoria humana nada acrescenta ao
que já está revelado em Cristo.
Nossa suficiência em Cristo se
fundamenta na completa salvação e no
completo perdão, os quais Paulo descreve nos versículos 11 a 14. Ele diz
que temos passado da morte espiritual para a
vida espiritual através do perdão das nossas transgressões (v. 13). No
versículo 14, ele traça um quadro vivido desse
perdão, dizendo que Cristo "tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de
ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o
inteiramente, encravando-o na cruz". Quando alguém era crucificado,
a lista de seus crimes era sempre pregada à cruz exatamente acima de sua
cabeça. Sua morte era o pagamento por aqueles crimes. Os crimes que pregaram
Jesus à cruz não foram os dEle, mas os
nossos. Por haver Ele tomado sobre Si a nossa pena, Deus apagou o "escrito de dívida" que era contra nós.
Aos pensamentos de completa
salvação e de completo perdão, Paulo acrescenta um terceiro: completa vitória (v. 15). Em sua morte e ressurreição, Cristo triunfou sobre as forças demoníacas, nos
concedendo assim vitória contra o próprio maligno.
Em Cristo nós temos completa
salvação, completo perdão e completa vitória
— amplos recursos para cada questão
da vida. Esta é a verdadeira suficiência! O que a filosofia pode
acrescentar a isso?
Fonte: MACARTHUR, John. Nossa suficiência em Cristo. São José dos Campos: Editara Fiel, 1995.
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