quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A DOUTRINA DO BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO

Referência: At 2.1-13.
Introdução

Vamos estudar a controvertida doutrina do batismo no Espírito Santo. Visando apresentar o assunto de forma didática, optamos pelo método escolástico de perguntas e respostas. Então, afinal, o que o batismo no Espírito Santo?

I – O QUE É O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO?

O Batismo com/no espírito Santo é indefinível. Todos os conceitos são limitantes, delimitadores, uma camisa de força. Conceituar é, de alguma forma, assassinar o objeto da conceituação, é domestica-lo. Portanto, tudo o que temos são pistas, pegadas, indícios, eventos. Nenhum conceito pode conter essa experiência, por isso, o melhor a fazer é seguir as pegadas, as palavras usadas pelos escritores sagrados, principalmente Lucas, para descrever (mos) o (s) acontecimento (s).

1) Um Batismo (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 13.16; 24.49; Jo 1.33; At 1.5)

a) É chamado de um batismo para lembrar a profecia de João Batista (Mt 3.11).

b) É chamado de um batismo para compará-lo com o de João e, ao mesmo tempo, para distingui-lo daquele.

1) É semelhante na forma. Um oficiante, um candidato e o elemento no qual ocorre a imersão ou batismo.

2) É distinto no propósito. O batismo de João era dramatização do arrependimento do pecador. O batismo com o Espírito é poder para testemunhar, servir na causa do Mestre. O batismo com o Espírito é imersão num relacionamento com uma pessoa divina, e não em um fluido ou influência.

3) É distinto pela natureza das pessoas envolvidas. João Batista, o candidato arrependido e a água, no caso do primeiro. Jesus, o crente e o Espírito Santo, no caso do segundo.

2) Um enchimento (At 2.4)
a) Foi um derramamento (Jl 2.28-32)
b) Foi um recebimento de uma dádiva (Jl 2.38)
c) Foi um cair sobre (At 8.16; 10.44; 11.15)
d) Foi um derramamento do dom (At 10.45)
e) Foi uma vinda sobre (At 19.6)
3) Um dom (At 2.38; 10.45)
4) Um poder ou virtude (At 1.8)

II – QUANDO OCORRE O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO?

Segundo HORTON, existem quatro possíveis posições quanto à distinção e as línguas como evidência. 

1) Há os que pensam ser o batismo no Espírito Santo parte da experiência da conversão, sem qualquer evidência inicial, como o falar em outras línguas. 

2) Há os que admitem o batismo no Espírito Santo como parte da experiência da conversão, sempre acompanhado pela evidência especial do falar em outras línguas. 

3) Há os que acreditam que o batismo no Espírito Santo usualmente vem após a regeneração, mas a experiência nem sempre é acompanhada pelo falar em outras línguas. 

4) Há os que defendem o batismo no Espírito Santo como uma experiência geralmente ocorrida após a regeneração e sempre acompanhada pela evidência especial do falar em outras línguas. 

Com base no livro de Atos, podemos destacar alguns aspectos esclarecedores quanto a essa questão. Podemos afirmar que o Batismo no Espírito Santo 

1) É uma experiência subsequente a regeneração. A subsequência enfatiza o segmento posterior no tempo ou na ordem.

2) É uma experiência separada da regeneração. A separabilidade refere-se à dessemelhança quanto à natureza ou identidade.

3) É uma experiência distinta da regeneração, e portanto, da habitação do Espírito Santo. A qualidade distintiva mostra as diferenças de caráter ou propósito, ou de ambos.





terça-feira, 10 de dezembro de 2013



SALVAÇÃO: UMA CONQUISTA HUMANA OU DOM DE DEUS? - PARTE I
Ref. Fl 2.1-2.

INTRODUÇÃO

Uma das questões mais inquietantes no mundo cristão é de saber como podemos ser salvos. A salvação é uma obra humana? Divina? Humana e Divina? Segundo MATOS, desde o início têm existido duas tendências no cristianismo com respeito à salvação. De um lado, salienta-se a prioridade da graça divina e a salvação como resultado da iniciativa soberana e misericordiosa de Deus. Nessa perspectiva, a única participação do indivíduo é receber, por meio da fé, o que lhe é oferecido graciosamente por Deus. De outro lado, dá-se ênfase a um maior envolvimento do ser humano na experiência de salvação. Ao invés da aparente passividade da fé, acentua-se a prática de ações positivas ou “boas obras” como requisito igualmente importante para o recebimento da salvação. No Novo Testamento, a primeira abordagem é representada principalmente pelo apóstolo Paulo e a segunda, por Tiago[1]. O que o nosso texto tem a ver com isso? Tudo.

I – UMA APLICAÇÃO PENETRANTE

1) O PONTO DE CONTATO – “PORTANTO”.

a) O mal estar na igreja de Filipos causado por problemas

· Externos – os falsos mestres e a perseguição (Fl 1.27-30)
· Internos – a desunião promovida pelo egoísmo e pela vanglória (2.1-4)

b) A solução apresentada por Paulo: 

· “Mas por humildade” (2.3,4). Comentando esse texto, LOPES[2] o aborda a partir de duas perguntas: a) O que é humildade? Ser humilde envolve ter uma correta perspectiva sobre nós mesmos em relação a Deus (Rm 12.30, que por sua vez nos coloca numa correta perspectiva em relação ao próximo”. b) Como a humildade se manifesta? Em primeiro lugar, a humildade olha para o outro com honra. Em segundo lugar, a humildade busca o interesse do outro com solicitude.
· O exemplo de Cristo é o nosso maior estimulo à obediência e à humildade. É como se Paulo estivesse dizendo:
“Visto que Cristo Jesus, por meio de sua obediência irrestrita e voluntária, lhes deu um exemplo a seguir” (vs.5-8); e
“Visto que o prêmio que ele recebeu mostra que há grandes coisas em depósito para aqueles que seguem este exemplo” (vs. 9-11); e, finalmente,
“Visto que este Mediador divino-humano, sublimemente exaltado, outorga forças celestiais a todos os que confiam nele e anelam viver conforme ele deseja que vivam” (implícito nos vs. 9-11), portanto, etc. (HENDRIKSEN[3])

II – PASTOR SIM, INDISPENSÁVEL NÃO – “NÃO SÓ NA MINHA PRESENÇA...AUSÊNCIA”.

1) OVELHAS QUE SE PREOCUPAM COM O SEU PASTOR (2.25-30; 4.18).
2) OVELHAS DEPENDENTES DO SEU PASTOR.

a) Uma concepção errada do papel do pastor. 
b) Uma concepção errada da vida cristã. Não vamos conseguir sem Paulo.

3) O AMOR DO PASTOR PELAS OVELHAS

Revelado na
a) Maneira diplomática de lidar com os irmãos – “sempre obedecestes”;
b) Exortação à obediência perseverante na sua ausência – “muito mais agora na minha ausência”.
c) Encorajamento a depender inteiramente de Deus – “opera tanto o querer como o efetuar”.
d) Esclarecendo sobre a verdadeira origem da vida crista – “Deus”. Paulo diz que não devem achar que tudo está perdido porque ele não está lá. O que realmente importa é Deus, e Deus está lá; é Deus que está operando neles “tanto o querer como o efetuar”.

III – UMA APLICAÇÃO NECESSÁRIA

1) O exemplo de Cristo é o nosso maior estimulo à obediência e à humildade.
2) Os mestres e pregadores podem ser úteis e valiosos, porém não são essenciais.
3) Quantas vezes, em nossa ignorância e em nossa incapacidade de entender doutrina, nos tornamo-nos muito dependentes de pessoas, e com isso nos privamos de alguns dos mais grandiosos benefícios da vida cristã.

[1] Retirado do site: <www.mackenzie.br/10990.html> Acesso em 10 dez de 2013. 
[2] LOPES, Hernandes Dias. Filipenses: a alegria triunfante no meio das provas. São Paulo: Hagnos, 2007. 
[3] HENDRIKSEN, William. Efésios e Filipenses: Comentário do Novo Testamento. São Paulo:Editora Cultura Cristã, 1992.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

INCREDULIDADE NO DESERTO

Autor: Rev. Arival Dias Casimiro
Texto Básico: Números 13.25-33 e 14.1-38
Deus não tirou o povo de Israel do cativeiro para matá-lo no deserto. O destino de Israel era a terra prometida, a terra que mana leite e mel. Havia um pacto, uma aliança de Deus com Israel que garantia a possessão da terra. E Deus não é mentiroso (Nm 23.19). O povo de Israel, porém, não acreditou em Deus. Foram tomados pela incredulidade e sucumbiram no deserto.
1. O QUE É A INCREDULIDADE
A Bíblia diz que o “justo viverá pela fé” (Rm1.17) e anda ou marcha por fé (2Co5.7). Sem fé é impossível agradar a Deus e ser abençoado por Ele (Rm 11.6).
Conclui-se, portanto, que a falta de fé ou a incredulidade mata, paralisa, desagrada e impede o recebimento de bênçãos.
Em Atos 7.51 lemos: Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis. Estas metáforas “dura cerviz”e “incircuncisos de coração” são usadas para significar incredulidade, rebeldia, teimosia e ausência de regeneração espiritual (Êx 32.9; 33.3,5; Dt 9.6; Jr 4.4).
O povo de Israel estava no limiar da terra prometida. Moisés narra: (Dt 1.19-26).
Observe que a incredulidade possui duas características fundamentais:
· Ela está enraizada no coração, na vontade ou no querer das pessoas: não quisestes subir. (Jo 5.40). Incredulidade = “dureza de coração” (Mc 16.14).
· Ela é uma rebeldia ou uma oposição consciente e deliberada à Palavra de Deus: fostes rebeldes à ordem do SENHOR, vosso Deus. (Sl 81.11).
Israel estava vivendo um momento decisivo. Estava diante de uma “terra boa”, presente de Deus, que seria possuída apenas pela fé. Moisés disse ao povo que o Senhor iria adiante deles e pelejaria por eles: (Dt 1.30-33). Observe a ênfase de Moisés: nem por isso crestes no Senhor. Mais adiante é o próprio Deus que faz o diagnóstico da incredulidade: Disse o SENHOR a Moisés: Até quando me provocará este povo e até quando não crerá em mim, a despeito de todos os sinais que fiz no meio dele? (Nm 14.11).
2. AS MANIFESTAÇÕES DA INCREDULIDADE
A incredulidade se manifesta de várias maneiras. Vejamos duas:
2.1. MEDO
Disse Moisés ao povo: Eis que o SENHOR, teu Deus, te colocou esta terra diante de ti. Sobe, possui-a, como te falou o SENHOR, Deus de teus pais: Não temas e não te assustes. (Dt 1.21). Não tenhas medo! Esta é a terra que dou a vocês. Tomem posse!
O povo, porém, teve medo. David Jeremiah comentando o texto de Deuteronômio 1, fala sobre as consequencias do medo: (1) O medo ignora o plano de Deus – Dt 1.19-21. (2) O medo distorce os propósitos de Deus - Dt 1.27-28. (3) O medo desestimula o povo de Deus – 2Tm 1.7. (4) O medo se recusa a crer nas promessas divinas – Dt 1.29-33 (5) O medo desobedece aos princípios de Deus – Dt 1.26.
Além destas, entendemos que o medo gera um sentimento de impotência ou incompetência diante do inimigo (Nm 13.30-31). Os dez espias tomados pelo medo olharam para a força do inimigo, ao invés de olhar para Deus.
2.2. INFÂMIA
A palavra: Deus disse que a terra era boa. Os espias constataram isto, mas, ao prestarem o relatório, os dez espias infamaram a terra: E, diante dos filhos de Israel, infamaram a terra que haviam espiado, dizendo: A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra que devora os seus moradores (13.32). A palavra “infâmia” significa “dano ou abalo a boa fama” (Nm 14.36).
A incredulidade leva-nos a desvalorizar aquilo que realmente tem valor. Observe que os espias foram tomados por uma baixa auto-estima. Eles nutriam um complexo de inferioridade, que os levou a superestimar o valor dos moradores da terra em detrimento do valor de si mesmos: (Nm 13.32-33).
3. AS CONSEQUÊNCIAS DA INCREDULIDADE
A incredulidade quando disseminada produz consequências desatrosas. É mais fácil ser mensageiro da incredulidade do que profeta da fé. A incredulidade é contagiante.
3.1. A incredulidade contagia o povo ao desespero.
Levantou-se, pois, toda a congregação e gritou em voz alta; e o povo chorou aquela noite. (14.1). O povo foi tomado pelo desespero e pela angústia. Foi uma comoção coletiva gerada a partir de um discurso feito por dez pessoas. Só podemos entender tal comoção aceitando que a incredulidade já existia no coração deles.
3.2. A incredulidade contagia o povo a murmuração.
Todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra Arão; e toda a congregação lhes disse: Tomara tivéssemos morrido na terra do Egito ou mesmo neste deserto! E por que nos traz o SENHOR a esta terra, para cairmos à espada e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos para o Egito? (14.2-3). Observe que a murmuração foi geral. Todos os filhos de Israel se queixaram contra Moisés e Arão. O murmurador imagina que acharia prazer nas coisas que lhe foram negadas.
Por causa do descontentamento eles não viam o quanto Deus já tinha feito por eles e os grandes milagres que ainda aconteceriam – Hb 13.5. Eles esqueceram também do castigo de Deus contra os murmuradores (Nm 11.1).
3.3. A incredulidade contagia o povo à apostasia
E diziam uns aos outros: Levantemos um capitão e voltemos para o Egito. (14.4).
Voltar para o Egito era retornar à vida antiga, a escravidão, abrindo mão da Aliança com o Senhor. Isto pode ser chamado de apostasia, um completo abandono da fé. Apostasia é rebelião contra Deus. Quando o cristão passa a dar ouvidos a "espíritos enganadores e a doutrinas de demônios", afasta-se das verdades bíblicas e comete apostasia (1 Tm 4.1).
É interessante observar que esta geração do êxodo tornou-se um exemplo de apostasia para os escritores do Novo Testamento (1Co 10.5; Hb 3.12-19).
A bíblia fala que nos últimos dias haverá um crescimento da apostasia (2 Ts 2.3).
3.4. A incredulidade contagia o povo a violência
Moisés, Arão, Josué e Calebe tentaram persuadir o povo a fé a obediência. A tentativa foi vã, pois o povo estava disposto a agredir os líderes: Apesar disso, toda a congregação disse que os apedrejassem; porém a glória do SENHOR apareceu na tenda da congregação a todos os filhos de Israel. (14.10).
O desejo do povo era apedrejar a Moises (cf Êx 17.4; At.7.58). Deus, porém, tomou a defesa dos fiéis e resolveu punir os incrédulos. Aquela geração morreria no deserto e os dez espias responsáveis pela difusão da incredulidade foram mortos: (Nm 14.34-37)
3.5. A incredulidade contagia o povo a querer prosperar sem Deus.
Mesmo após o julgamento de Deus, o povo manifestou a sua incredulidade, por intermédio de uma tentativa fútil de conquistar a terra de Canaã. Eles queriam conquistar sem a ajuda de Deus. Leia a narrativa bíblica: Porém Moisés respondeu: Por que transgredis o mandado do SENHOR? Pois isso não prosperará. Não subais, pois o SENHOR não estará no meio de vós, para que não sejais feridos diante dos vossos inimigos.
Porque os amalequitas e os cananeus ali estão diante de vós, e caireis à espada; pois, uma vez que vos desviastes do SENHOR, o SENHOR não será convosco. Contudo, temerariamente, tentaram subir ao cimo do monte, mas a arca da Aliança do SENHOR e Moisés não se apartaram do meio do arraial. Então, desceram os amalequitas e os cananeus que habitavam na montanha e os feriram, derrotando-os até Horma. (Nm 14.41-45).
A nossa lição termina com uma palavra positiva. Vale a pena ser crente! Deus recompensou a Josué e Calebe, os únicos daquela geração que possuíram a terra prometida. Mais tarde, Josué foi o escolhido de Deus para liderar o povo na conquista da terra prometida.


GENTE PRECISA DE GENTE

Texto: Ec 4.7-12

INTRODUÇÃO

Outro dia, lendo algumas mensagens no facebook, me deparei com algumas imagens de cachorros, das mais variadas raças, com muitos comentários e curtidas. Curioso, procurei saber quem postava aquelas imagens tão atrativas, habilmente editadas e selecionadas. Foi quando cheguei à comunidade “Prefiro bicho do que de gente”. Achei estranho o mote da comunidade, principalmente por se tratar de uma “comunidade”, e de ela estar construída em uma rede “social”. Nesse momento, lembrei-me do texto de Gênesis “não é bom que o homem esteja só”. Ironicamente, a comunidade revela uma carência essencial no homem pós-moderno: a necessidade de relacionamentos sólidos. O texto que temos diante nós, mostra-nos algumas questões fundamentais, as quais passamos a expor. inicialmente, perguntemos "quais as consequências de se viver isolado?"


I. AS CONSEQUÊNCIAS DO ISOLAMENTO SOCIAL


Para que uma pessoa se convença do valor da convivência social, do envolvimento com outros, é preciso que enxergue as consequências do isolamento social. Quais são as consequências do isolamento social?

1) Pessoas que não cultivam relacionamentos profundos umas com as outras não conseguem atuar com eficiência.

2) O isolamento total é praticamente intolerável para o ser humano adulto – mesmo que suas necessidades físicas sejam supridas.

3) O isolamento social aumenta o risco de morte tanto quanto o cigarro, e mais do que o sedentarismo ou a obesidade. Pessoas com maior isolamento social apresentam um risco maior de mortalidade por qualquer causa, quando comparados com as pessoas de menor isolamento social. 

4) O isolamento social pode contribuir para o desenvolvimento de doenças infecciosas e cardiovasculares, o aumento da pressão arterial e do hormônio do estresse (cortisol), e a deterioração do funcionamento cerebral. Segundo o estudo, a solidão também interfere na pressão, nos níveis de cortisol e outros hormônios, e nos processos inflamatórios do organismo.

II. O BENEFÍCIO DOS RELACIONAMENTOS

Vejamos agora porque é melhor serem dois do que um.

1) Tem melhor paga do seu trabalho – v. 9
Esforço Mútuo

2) Um levanta o companheiro – v. 10
Apoio mútuo

3) Eles se aquentam um ao outro – v. 11
Estímulo mútuo

4) Os dois resistirão ao ataque – v. 12
Força mútua.

CONCLUSÃO

A absoluta necessidade de integração
A absoluta necessidade de relacionamentos benéficos e sólidos.
A absoluta necessidade de relacionamento com Deus, mediante Jesus Cristo.

O BATISMO COM (NO) ESPÍRITO SANTO - PERSPECTIVAS DIVERSAS SOB UM OLHAR PENTECOSTAL CLÁSSICO

Autor: Altair Germano


INTRODUÇÃO

O derramamento do Espírito Santo no Pentecostes, designado no pentecostalismo clássico como "batismo com (no) Espírito Santo", evidenciado pelo falar em "línguas", é sem dúvida alguma o tema central nos estudos sobre a obra do Espírito no meio pentecostal assembleiano.

Ao longo da história da Igreja, a doutrina do Batismo com (no) Espírito Santo tem dividido pessoas, grupos, igrejas e denominações. Depois das comemorações do centenário da história do avivamento pentecostal da Rua Azusa em 2006, e próximo às comemorações do centenário das Assembleias de Deus no Brasil em 2011, penso ser um momento oportuno para escrever sobre o assunto.

Neste texto, o leitor poderá conhecer algo da perspectiva pentecostal clássica e assembleiana sobre o tema, e também ter acesso às diversas perspectivas contrárias, podendo compará-las, entre si, e com a perspectiva pentecostal clássica, percebendo os pontos de convergência e divergência entre elas.

Pensar a doutrina pentecostal, em vez de simplesmente reproduzi-la acriticamente, eis o grande desafio para os herdeiros da atual e bíblica obra do Espírito.

A todos, uma boa leitura, e acima de tudo, uma boa reflexão.

1 O BATISMO COM (NO) ESPÍRITO SANTO

Iniciaremos trazendo alguns conceitos sobre o batismo com (no) Espírito Santo, que correspondem em sua totalidade, ou em parte, a perspectiva do mesmo no pentecostalismo clássico, e mais especificamente, na doutrina assembleiana:

O batismo no Espírito Santo é uma obra distinta e à parte da regeneração, também por Ele efetuada. Assim como a obra santificadora do Espírito é distinta e completiva em relação à obra regeneradora do mesmo Espírito, assim também o batismo no Espírito complementa a obra regeneradora e santificadora do Espírito. [...] Ser batizado no Espírito significa experimentar a plenitude do Espírito (cf. At 1.5; 2.4). Este batismo teria lugar somente a partir do dia de Pentecoste. Quanto aos que foram cheios do Espírito Santo antes do pentecoste (e.g. Lc 1.15, 67), Lucas não emprega a expressão 'batizados no Espírito Santo'. Este evento só ocorreria depois da ascensão de Cristo (At 1.2-5; Lc 24.49-51, Jo 16.7-14). (Bíblia de Estudo Pentecostal, p. 1627, 1995)

Na nota de rodapé de At 1.5, a Bíblia de Estudo Pentecostal (idem, p. 1626) esclarece que a preposição "com" é a partícula grega en, que pode ser traduzida como "em" ou "com". Dessa forma, muitos optam pela tradução "sereis batizados no Espírito Santo".

Arrington e Stronstad (2003, p. 632), afirmam que:

O batismo com o Espírito Santo não salva ou faz da pessoa um membro da família de Deus; antes é uma unção subsequente, um enchimento que equipa com poder para servir.

Para Pearlman (1987, p. 195):

Esse revestimento é descrito como um batismo (Atos 1.5). [...] Quando a palavra 'batismo' é aplicada à experiência espiritual, é usada figurativamente para descrever a imersão no poder vitalizante do Espírito Divino.

Andrade (1998, p. 65), em seu Dicionário Teológico, define o batismo com (no) Espírito Santo como:

Revestimento de poder que, segundo os evangelhos e os Atos dos Apóstolos, segue-se à conversão a Cristo Jesus. Tornando-se realidade no cenáculo, na casa de Cornélio e entre os doze de Éfeso, a experiência do batismo no Espírito Santo fez-se padrão na vida dos seguidores do Nazareno.

O pastor e teólogo assembleiano Antonio Gilberto define o batismo com (no) Espírito Santo como:

[...] um revestimento e derramamento de poder do Alto, com a evidência física inicial de línguas estranhas, conforme o Espírito Santo concede, pela instrumentalidade do Senhor Jesus, para o ingresso do crente numa vida de mais profunda adoração e eficiente serviço para Deus (Lc 24.49; At 1.8; 10.46; 1 Co 14.15, 26). (GILBERTO, 2006, p. 57)

Esta mesma definição é encontrada na obra "Teologia Sistemática Pentecostal" (p. 191, 2008).

Vale ressaltar, que o termo "estranha" e "outra", acrescentados à "língua" (glossa), que aparecem respectivamente nos textos de 1 Co 14.2, 4, 5, 6, 13, 14, 23, 27 (Almeida Revista e Corrigida, 1995 e Almeida Revista e Atualizada, 1993), não constam no texto grego do Novo Testamento, sendo acrescentados nestas versões para dar ênfase ao caráter distintivo dessas línguas.

O pastor e teólogo batista Enéas Tognini (2000, p. 31) afirma:

O batismo no Espírito que os 120 receberam no Pentecostes, foi um bênção distinta do NOVO NASCIMENTO ou regeneração, porque já tinham nascido de novo, portanto eram regenerados [...] essa BÊNÇÃO (do batismo no Espírito) transformou os discípulos covardes e negadores - em fiéis testemunhas do Senhor Crucificado.

O Dr. Lloyd-Jones (1998, p. 314), teólogo e ministro protestante de linha reformada e calvinista, faz a seguinte definição:

[...] o batismo do Espírito Santo é a experiência inicial da glória, a realidade e o amor do Pai e do Filho. Sim, vocês podem ter muitas experiências ulteriores disso, porém a primeira experiência, eu proporia, é o batismo do Espírito Santo. O piedoso John Fletcher de Madeley o expressou assim: 'Cada cristão deve ter o seu Pentecoste.

Estas definições se alinham aos ensinos de Keswick, na Inglaterra, no século XIX, iniciadas em 1875. Conforme Synan (2009, p. 48):

A configuração doutrinária de Keswick destituiu o conceito de 'segunda bênção' como 'erradicação' do pecado a favor de um 'batismo no Espírito Santo' e um 'revestimento de poder para o serviço'. A experiência aguardada com ardente expectativa pelos crentes de Keswic era concebida não tanto em termos de purificação, mas de unção do Espírito.

R. A. Torrey (1910, p. 176-210 apud SYNAN, idem, p. 49), exemplifica notavelmente a ideia de batismo com (no) Espírito Santo difundida em Keswick:

O batismo com o Espírito Santo é uma operação do Espírito Santo distinta e subsequente à sua obra de regeneração, uma concessão de poder para o serviço, [uma experiência outorgada] não apenas para os apóstolos, não apenas para os crentes da era apostólica, mas 'para todos os que estão longe, para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar'. [...] Ela é outorgada a cada crente, de todas as épocas da história da Igreja.

Fica claro nas presentes definições, que o batismo com (no) Espírito Santo é entendido como um acontecimento distinto da regeneração do Espírito (At 2. 1-4; 8.12-17; 19.1-7).

2 OBJEÇÕES QUANTO AO BATISMO COM (NO) ESPÍRITO SANTO

O batismo com (no) Espírito Santo, entendido como um acontecimento distinto da regeneração do Espírito, é por muitos questionado. Grudem (p. 636-652, 1999), apresenta alguns destes questionamentos:

2.1 O batismo como (no) Espírito Santo não é um acontecimento distinto da regeneração do Espírito (cf. 1 Co 12.13)

Os que defendem essa ideia alegam que o texto de 1 Co 12.13 afirmam que "todos nós" (gr. hemeís pántes) fomos batizados em um só Espírito, o que faria dessa experiência algo vivenciado por todos os verdadeiros cristãos:

Stott (2007, p. 45) chega a conclusão de que as evidências reunidas do Novo Testamento em geral, do sermão de Pedro em Atos 2 e do ensino de Paulo em 1 Coríntios 12.13 em particular, lhe indicam que o "batismo" do Espírito é idêntico ao "dom" do Espírito. Procurando ser mais específico, apela aos seus leitores que não exijam dos outros "um 'batismo' como uma segunda experiência subsequente, totalmente distinta da conversão, porque isto não pode ser provado na Escritura." (idem, p. 76)

Packer (2010, p. 197) refuta a ideia de que o batismo no Espírito é uma experiência distinta e geralmente subsequentes à conversão, em que a pessoa recebe a plenitude do Espírito na sua vida e, dessa forma, é totalmente cheia de poder para testemunho e serviço, tendo como evidência e sinal exterior a glossolalia:

Recentes exames minuciosos desta opinião, feitos por James D. G. Dunn, F. D. Bruner, J. R. W. Stott e A. A. Hoekema, tornam desnecessário que aquilatemos detalhadamente aqui. É suficiente dizer, primeiro, que, se aceita, ela compele uma avaliação do cristianismo não-carismático - isto é, do cristianismo que não conhece nem busca um batismo no Espírito após a conversão - como inferiro, secundário e carecendo de algo vital; mas, segundo, que ela não pode ser estabelecida de acordo com a Escritura [...].

Dessa forma:

Os que insistem que o batismo com o Espírito Santo é uma experiência distinta da bênção da conversão, uma obra especial da graça desfrutada por alguns e não por todos os crentes, deixam de perceber que o que dá unidade ao corpo de Cristo é exatamente o fato de que todos os crentes genuínos foram batizados pelo mesmo Espírito. (LOPES, 2004, p. 126)

Essa perspectiva não é aceita no pentecostalismo clássico, que faz distinção entre "batismo com (no) Espírito Santo" do "batismo do Espírito":

Já o batismo do Espírito, como vemos em 1 Co 12.13, Gálatas 3.27 e Efésios 4.5, trata-se de um batismo figurado, apesar de ser real. Todos aqueles que experimentam o novo nascimento, que é também efetuado pelo Espírito Santo (Jo 3.5), são por Ele imersos, batizados, feito participantes do corpo místico de Cristo, que é a sua Igreja, no sentido universal (Hb 12.23; 1 Co 12.12ss). (GILBERTO, idem)

Na nota de rodapé da Bíblia de Estudo Pentecostal (idem, p. 1755), sobre o texto de 1 Co 12.13, lemos:

[...] O batismo 'em um Espírito' não se refere, nem ao batismo em água, nem ao batismo no Espírito Santo que Cristo outorga ao crente como no dia de Pentecoste (ver Mc 1.8; At 2.4 nota). Refere-se, pelo contrário, ao ato do Espírito Santo batizar o crente no corpo de Cristo - a igreja, unindo-o a esse corpo; fazendo com que ele seja um só com os demais crentes. É a transformação espiritual (i.e., a regeneração) que ocorre na conversão e que coloca o crente "em Cristo" biblicamente.

À luz do Novo Testamento, fica claro que 1 Co 12.13 não se refere aos episódios de Atos 2. 1-4; e 8.12-17. Dessa forma, a única maneira de se conciliar a questão é entendendo a distinção entre o "batismo com (no) Espírito Santo" do "batismo do Espírito Santo".

Quanto ao acontecimento na casa de Cornélio (At 10.44-47), pode-se entender que naquela ocasião o batismo do Espírito e o batismo com (no) Espírito Santo, podem ter acontecido simultaneamente.

Em Atos 19.1-7, embora o texto não afirme claramente que os discípulos já haviam experienciado a regeneração, isto fica subentendido. A negação de tal fato nos levaria a compreender o evento da mesma forma como aconteceu na casa de Cornélio, onde simultaneamente (ou imediatamente) a regeneração e o batismo com (no) Espírito Santo aconteceram:

O capítulo 10 de Atos registra a conversão de Cornélio e seus familiares, por instrumentalidade de Pedro. Cornélio se converteu a Cristo, portanto passou a possuir o Espírito Santo; antes que fosse batizado em água, o foi no Espírito Santo, verificando-se na sua casa um verdadeiro pentecostes. Temos também nesta experiência as duas etapas da vida cristã - a conversão e o batismo no Espírito Santo. (TOGNINI, ibdem, p. 37)

É neste sentido que Lloyd-Jones (ibdem, p. 318) esclarece:

[...] não estou afirmando que deve haver sempre, de qualquer modo, um intervalo entre tornar-se cristão e esta experiência; ambos podem ocorrer concomitantemente, e é o que tem ocorrido amiúde, mas às vezes não ocorre assim. Portanto mantenhamo-los distinguidos.

2.2 O batismo com (no) Espírito Santo foi um momento único na história, não sendo um padrão que devemos buscar ou imitar

Hulse (2006, p. 7, 17-18), é categórico em sua oposição:

Se omitirmos o livro de Atos, ficamos face a face com o fato de que não há um batismo do Espírito prometido, recomendado, ordenado ou sugerido no Novo Testamento. [...] Estou chamando a atenção para o fato de que nenhum batismo do Espírito ou qualquer experiência de crise é prometida, recomendada, oferecida e, ainda menos, ordenada no Novo Testamento. O Pentecostes foi prometido e há extensão disto, tal como é explicado em Atos 15.8,9. Este é um fato histórico. Daí em diante, em nenhum lugar do Novo Testamento há referência a uma experiência semelhante a esta como sendo a resposta.

Em sua obra, Hulse não comenta o texto de Atos 2.39, nem parece considerar a "promessa" nos Evangelhos (Mc 1.8; Lc 24.49).

Diferente de Hulse, Lloyd-Jones (ibdem, p. 307) afirma:

Segundo o meu entendimento deste ensino, eis aqui uma experiência que é o patrimônio hereditário de todo o cristão. diz o apóstolo Pedro ; 'Porque a promessa vos pertence a vós' - e não somente a vós, mas - ' a vossos filhos, e a todos os que estão longe: a quantos o Senhor nosso Deus chamar' (Atos 2.39). Ela não se restringe apenas àquelas pessoas no dia de Pentecoste, mas é oferecida e prometida a todas as pessoas cristãs.

Para Stott (ibdem, p. 31):

A experiência dos 120 ocorreu em dois momentos diferentes, simplesmente em razão de circunstâncias históricas. Eles não poderiam ter recebido o dom pentecostal antes do Pentecoste. Todavia, estas circunstâncias históricas há muito deixaram de existir.

Buscando uma posição conciliadora, o pastor e teólogo presbiteriano Hernandes Dias Lopes (1999, p. 13) afirma que:

O Pentecoste no seu sentido pleno é irrepetível. O Espírito Santo foi derramado para permanecer para sempre com a igreja. [...] Nesse sentido não há mais Pentecoste. Todavia, a promessa de novos derramamentos do Espírito para despertar a igreja é uma promessa viva à qual devemos agarrar-nos. É nesse sentido que vamos usar o termo Pentecoste. O apóstolo Pedro disse naquele dia memorável: '...e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar' (At 2.38-39)."

Tognini (idem, p. 19), refutanto tais argumentos, afirma que:

[...] finalmente, há os mais dogmáticos que, sem hermenêutica, e com exegese claudicante, unilateral, temerosa da verdade, se lançam no encapelado mar da confusão; então, lutam e insistem em que o Pentecostes não mais se repete.

2.3 A distinção entre "batismo do Espírito Santo" e "batismo com (no) Espírito Santo criaria duas categorias de cristãos

Reforçando a ideia separatista das duas categorias de cristãos, Hulse (idem, p. 23) afirma já ter ouvido líderes pentecostais afirmar que há dois tipos de cristãos: os batizados e os não batizados no Espírito. Para ele, isso cria divisão no corpo de nosso Senhor.

Stott (ibdem, p. 71-72), parece não se preocupar com a possibilidade das distinções bíblicas criarem a ideia equivocada de duas classes ou categorias de crentes, pois argumentando em favor da atualidade de algumas experiências espirituais, diz:

Estas experiências das quais eu falei até agora podem ser chamadas de 'comuns', porque se realcionam com a certeza, o amor, a alegria, e a paz que, de acordo com a Escritura, são comuns a todos os crentes, em alguma medida. Eu ficaria surpreso se algum leitor cristão não tivesse nenhuma noção delas. Todavia, existem outras experiências, às quais preciso chegar agora, de caráter mais 'incomum', por não serem parte da experiência normal do cristão que o Novo Testamento apresenta.

Apesar da ideia sobre crentes de duas categorias ter sido difundida no movimento holiness, e posteriormente reproduzida no pentecostalismo clássico, o batismo com (no) Espírito Santo

não cria uma classe especial de cristãos, apenas capacita os mesmos para fazerem a obra de Deus, testemunhando de Jesus com maior eficiência e eficácia conforme Atos 1.8. (GERMANO, p. 38, 2009)

O equívoco interpretativo ou comportamental de alguns em qualquer questão doutrinária, não anula, nem diminui a verdade bíblica.

2.4 A inadequação do termo "batismo com (no) Espírito Santo" para definir a experiência

A questão da terminologia, parece ter sido o ponto central da tese de Hulse (LOPES, idem, p. 128):

A tese de Hulse, nesse livro, é que os cristãos podem ter experiências legítimas e edificantes após a conversão, mas que devem usar a teminologia correta para identificá-las.

A experiência que no pentecostalismo clássico define-se como "batismo com (no) Espírito Santo, ou seja, o revestimento de poder posterior à regeneração, para conciliar com a ideia da existência de um único "batismo do Espírito", Stott (ibdem, p. 50) a define como "plenitude do Espírito", classificando-a como "consequência", e acrescentando que pode se experienciada várias vezes:

Deixe-me procurar expandir o que tentei mostrar antes. O que aconteceu no dia de Pentecoste foi que Jesus 'derramou' o Espírito do céu e, assim 'batizou' com o Espírito, primeiro os 120 e depois os 3 mil. A consequência deste batismo do Espírito foi que 'todos ficaram cheios do Espírito Santo' (At 2.4). Portanto, a plenitude do Espírito foi a consequência do batismo do Espírito. O batismo é o que Jesus fez (ao derramar o seu Espírito do céu); a plenitude foi o que eles recebram. O batismo foi uma experiência inicial única; a plenitude porém, Deus queria que fosse contínua, o resultado permanente, a norma. Como acontecimento inicial, o batismo não pode ser repetido nem pode ser perdido, mas o ato de ser enchido pode ser repetido e, no mínimo, precisa ser mantido. Quando a plenitude não é mantida, ela se perde. Se foi perdida, pode ser recuperada.

Neste sentido, a "experiência" pode e deve ser buscada:

Enfaticamente, a plenitude do Espírito Santo não é um privilégio reservado para alguns, mas uma obrigação de todos. Assim como a exigência de sobriedade e domínio próprio, a ordem de buscar a plenitude do Espírito é dirigida a todo o povo de Deus, sem exceção. (ibdem, p. 62)


Grudem (idem, p. 650-651), procurando evitar a suposta confusão em torno do "batismo do Espírito" e o "batismo com (no) Espírito Santo", diz que alguns termos seriam mais apropriados para o segundo. Dessa forma ele sugere "um grande passo de crescimento", "nova capacitação para o ministério" e " ser cheio do Espírito Santo". Este último, para Grudem, é "o melhor termo a ser usado para descrever genuínas 'segundas experiências' hoje (ou terceira ou quarta experiência, etc.)".

Para sustentar seu argumento, Grudem cita Efésios 5.18, e afirma que o verbo "enchei-vos" (gr. plerousthe), por encontrar-se no presente do imperativo, poderia ser traduzido de modo mais explícito por "sejam continuamente cheios pelo Espírito". Nessa perspectiva, o batismo com (no) Espírito Santo perderia o caráter de evento único, podendo ser experienciado diversas vezes na vida do cristão.

Ainda sobre o uso de "ser cheio do Espírito Santo" em lugar de "ser batizado com (no) Espírito Santos", Marshall (1982, p. 69) afirma a expressão ficaram "cheios" se emprega tanto ao revestimento inicial do Espírito para capacitá-las para o serviço de Deus (At 9.17; Lc 1.15), quanto para descrever o processo contínuo de ser estar cheio (At 6.3; 7.55; 11.24; Lc 4.1). Dessa forma, uma pessoa que já está cheia do Espírito, pode receber contínuos enchimentos. Neste caso, não teríamos um batismo com (no) Espírito Santo, mas, a possibilidade de um cristão experienciar vários batismos. Pfeiffer e Harrison (1987, p. 242), concordam com este argumento, e escrevem que "O enchimento com o Espírito foi muitas vezes repetido [...]".

Na Bíblia de Estudo Pentecostal (ibdem, p. 1818), a nota de rodapé sobre Efésios 5.8 diz que:

Enchei-vos (imperativo passivo presente) tem o significado, em grego, de 'ser enchido repetidas vezes'. [...] O cristão deve ser batizado no Espírito Santo após a conversão (ver At 1.5; 2.4), mas também deve renovar-se no Espírito repetidas vezes, para adoração a Deus, serviço e testemunho.

Se considerarmos o que muitos gramáticos da língua grega afirmam (CARSON, 65-67), o verbo eplesthesan (ficaram cheios) em Atos 2.4, por se encontrar num tempo aoristo "que aponta para um ato único, já realizado e consumado" (LOPES, idem p. 125), faz com que o evento de Pentecoste (At 2.4) se diferencie daquilo que Paulo fala escrevendo à igreja em Éfeso (Ef 5.18).

Stott (ibdem, p. 62), comentando sobre o tempo verbal de plerousthe (enchei-vos) em Efésios 5.18, diz que: "o verbo está no tempo presente. É bem sabido que, na língua grega, se o imperativo está no aoristo, ele se refere a uma ação única; se está no presente, a uma ação contínua.”

No Comentário Bíblico Pentecostal (ARRINGTON e STRONSTAD, idem), é especificado que Lucas usa o verbo "encher" em At 2.4 para indicar o processo de ser ungido com o poder do Espírito para o serviço divino. Acrescenta ainda que "Ser cheio com o Espírito significa o mesmo que ser batizado com o Espírito ou receber o dom do Espírito (cf. At 1.5; 2.4, 38)."

Pearlman (idem), escreve:

Que essa comunicação de poder é descrita como ser cheio do Espírito. Aqueles que foram batizados com o Espírito Santo no dia de Pentecoste também foram cheios do Espírito.

Tognini (ibdem, p. 35) é enfático quando diz:

[...] Lucas, para descrever o cumprimento de Atos 1.5, usa a sua própria terminologia, que é CHEIO DO ESPÍRITO. De onde se conclui que BATISMO no Espírito Santo e CHEIO do Espírito Santo são a mesma coisa.

Estas declarações, à luz do entendimento pentecostal clássico, fala-nos que no batismo com (no) Espírito Santo (evento único), os crentes são cheios do Espírito, podendo ainda experienciar outros enchimentos, enchimentos estes não mais designados de batismo com (no) Espírito Santo.

CONCLUSÃO

Lloyd-Jones (ibdem p. 314), afirmou que o tema "batismo com (no) Espírito Santo", em muitos aspectos, é a mais difícil de todas as doutrinas, em razão de ser ela particularmente passível de exageros. Mesmo assim, escreveu:

[...] o que é o batismo do Espírito Santo? Ora, segundo alguns, como já vimos, realmente não existe dificuldade alguma sobre isso. Dizem que ele é simplesmente uma referência à regeneração e nada mais. É o que ocorre com as pessoas quando são regeneradas e incorporadas em Cristo, segundo Paulo ensina em 1 Co 12.13: 'Pois em um só Espírito fomos todos batizados'. Vocês não podem ser cristãos sem ser membros desse corpo, e vocês são batizados nesse corpo pelo Espírito Santo. Portanto, dizem, esse batismo do Espírito Santo é simplesmente a regeneração. Quanto a mim, porém, não posso aceitar tal explicação, e aqui é onde nos agarramos diretamente com as dificuldades. Não posso aceitar isso porque, se eu cresse nisso, teria de crer que os discípulos e os apóstolos não haviam sido regenerados até o dia de Pentecoste - suposição essa que ao meu ver é completamente inadmissível. [...] Teríamos também de dizer que os samaritanos, a quem o evangelista Filipe pregou, não foram regenerados até Pedro e João descerem a eles. (idem, 304-305)

As diversas questões, e os variados pontos de vistas aqui expostos provam isto.

Parcker (ibdem, p. 213), na tentativa de buscar um ponto intermediário entre sua analise exegética e a atualidade do batismo com (no) Espírito Santo, chega a afirmar:

Um grupo com os seus próprios mestres e sua literatura pode moldar os pensamentos e experiências de seus membros até um grau estranho. Especificamente, quando se crê que uma sensação ampliada de Deus, de seu amor por você em Cristo e de seu poder capacitador (a unção do Espírito), acompanhada por línguas, é a norma, segundo a experiência dos apóstolos em Atos 2, esta experiência certamente será buscada e encontrada. Da mesma forma, ela não será uma experiência ilusória, desprovida do Espírito, auto-gerada, só porque a ela estão ligadas certas noções incorretas. Deus, como continuamos dizendo, é muito misericordioso e abençoa os que o buscam, mesmo quando as suas ideias não são todas verdadeiras.

O fato, é que quando comparamos os escritos daqueles que não concebem o batismo com (no) Espírito Santo da perspectiva pentecostal clássica e assembleiana, o que encontramos é a falta de uniformidade e unidade sobre a questão.

Entre os cessacionistas (que negam a atualidade da experiência), encontramos, por exemplo, as seguintes posições:

- O batismo com (no) Espírito Santo foi uma experiência simultânea à regeneração, cuja terminologia é adequada.

- O batismo com (no) Espírito Santo foi uma experiência simultânea à regeneração, cuja terminologia é inadequada.

- O batismo com (no) Espírito Santo foi uma experiência subsequente à regeneração, cuja terminologia é adequada.

- O batismo com (no) Espírito Santo foi uma experiência subsequente à regeneração, cuja terminologia é inadequada.

Entre aqueles que não apoiam o conceito pentecostal clássico, mas acreditam na atualidade do batismo com (no) Espírito Santo, temos as seguintes ideias:

- O batismo com (no) Espírito Santo é uma experiência simultânea à regeneração, cuja terminologia é adequada.

- O batismo com (no) Espírito Santo é uma experiência simultânea à regeneração, cuja terminologia é inadequada.

- O batismo com (no) Espírito Santo é uma experiência subsequente à regeneração, cuja terminologia é adequada.

- O batismo com (no) Espírito Santo é uma experiência subsequente à regeneração, cuja terminologia é inadequada.

Dessa forma, uma maneira geralmente utilizada para invalidar ou resistir ao conceito pentecostal clássico sobre o batismo com (no) Espírito Santo, é utilizar uma destas perspectivas acima, com algumas variantes, ou utilizar todas elas em conjunto.

Diante dos grandes desafios impostos pela pós-modernidade à igreja evangélica brasileira no início do século XXI, é preciso buscar um ponto de equilíbrio, onde a experiência real e atual do batismo com (no) Espírito Santo caminhe junto com a ortodoxia bíblica.

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