segunda-feira, 8 de julho de 2019

CONSAGRAÇÃO TOTAL A DEUS


Texto Bíblico: Rm 12.1-2.
Introdução
Romanos 12:1–2 é uma das passagens mais conhecidas do NT. Sua fama é justificada: aqui Paulo sucintamente e com imagens vívidas resume como deveria ser a resposta cristã à graça de Deus em Cristo. Os versos têm um papel fundamental em Romanos. Por um lado, eles olham para o argumento dos cap. 1–11. Enquanto Paulo tem em vista todos esses capítulos, os links verbais e temáticos apontam para dois textos como particularmente significativos. O primeiro é Romanos 1, cuja espiral descendente de adoração falsa e tola (cf. v. 25) e mentes corrompidas (cf. v. 28) encontra agora a sua inversão no culto “razoável” dos cristãos e na mente renovada. O segundo é Romanos 6, cuja breve menção da necessidade dos cristãos “se apresentarem” (vv. 13 e 19) como “vivos dentre os mortos” (v. 13) é aqui reiterada e expandida. Ao mesmo tempo, 12:1–2 é o cabeçalho de tudo o que se segue em 12:3–15:13.
I. O APELO DE PAULO PARA A CONSAGRAÇÃO TOTAL DO EU A DEUS.
“Rogo-vos”
Este termo é comum na literatura paulina (por exemplo, Rm 15:30; 16:17; 1 Co 4:16; 16:15; Fm 10), e muitas vezes introduz uma seção em uma carta (1 Co 1:10; 2 Co 10:1; Ef 4:1; Fp 4:2; 1 Ts 4:1; 1 Tm 2:1).
A expressão significa uma questão urgente colocada como um pedido. A exortação vem com autoridade, mas a autoridade de um pregador que é o mediador da verdade de Deus, em vez da autoridade de um superior emitindo uma ordem.
Por isso, as exortações paulinas não contêm meramente bons conselhos ou suas preferências. Elas representam a vontade autorizada de Deus e são impostas às igrejas de maneira solene. À luz do que Deus fez em Cristo, os crentes são convocados a obedecer às injunções do apelo.
“Portanto/pois”
            Paulo quer mostrar que as exortações da seção 12:1-15:13 são construídas firmemente sobre a teologia dos capítulos 1-11.
II. A CAUSA DO APELO DE PAULO PARA A CONSAGRAÇÃO TOTAL DO EU A DEUS.
“Por causa das misericórdias de Deus”
A expressão sublinha a conexão entre o que Paulo agora pede aos seus leitores que façam e o que ele lhes disse anteriormente na carta sobre o que Deus fez por eles. Tudo o que Paulo escreveu na carta até agora pode ser resumido sob a epígrafe da misericórdia de Deus em ação. Paulo acabou de resumir essa misericórdia universal de Deus (11:30-32) e expressou louvor a Deus por isso (11:33-36). O que Paulo pede no verso 1 - e, por extensão, em toda a seção de 12:2–15:13 - não é mais (nem menos!) do que a resposta apropriada e esperada à misericórdia de Deus como a experimentamos.
Que a misericórdia de Deus não produz automaticamente a obediência que Deus espera é clara dos imperativos nesta passagem. Mas a misericórdia de Deus manifestada na obra de renovação interior de seu Espírito (v. 2) nos impele para a obediência que o evangelho exige.
III. A RESPOSTA ADEQUADA AO APELO DE PAULO PARA A CONSAGRAÇÃO TOTAL DO EU A DEUS.
“Apresenteis”
É um termo técnico para a apresentação de um sacrifício, significando literalmente “colocar de lado” para qualquer propósito, pôr à disposição; ofertar.
A palavra está no tempo presente. Paulo simplesmente nos ordena a fazer esta oferta, não dizendo nada sobre quantas vezes ela precisa ser feita.
“Os vossos corpos”
Não é apenas o que podemos dar que Deus exige; Ele exige o doador. 
 A palavra "corpos" aqui se refere à pessoa como um todo e enfatiza que a consagração a Deus envolve toda a pessoa. Não se pode consignar dedicação a Deus ao espírito e negligenciar o corpo. O compromisso genuíno com Deus abrange todas as áreas da vida e inclui o corpo em toda a sua particularidade e concretude.
Paulo está enfatizando que o sacrifício que somos chamados a fazer requer uma dedicação ao serviço de Deus na vida cotidiana e muitas vezes ambígua deste mundo.
“Como um sacrifício”
O uso de imagens sacrificiais por Paulo aqui se ajusta a um padrão encontrado em todo o NT. Os cristãos não oferecem mais sacrifícios literais; porque Cristo cumpriu e, assim, pôs fim ao sistema sacrificial do AT. Mas a centralidade do sacrifício na religião antiga tornou-se um veículo natural e inevitável para os primeiros cristãos expressarem suas próprias convicções religiosas. Ao mesmo tempo, o uso da linguagem cultual pelo NT tem uma importante função histórico-salvífica e polêmica, reivindicando para o cristianismo o cumprimento daquelas instituições tão centrais para o AT e para o judaísmo. Os cristãos não oferecem sacrifícios de sangue sobre um altar; mas eles oferecem “sacrifícios espirituais” (1 Pedro 2:5), tais como o “sacrifício de louvor a Deus, que é o fruto de lábios que reconhecem o seu nome” (Hb 13:15). Em Rom. 15:16, Paulo descreve sua própria obra missionária em termos cultuais (veja também Filipenses 2:17; e veja Filipenses 3:3 e 4:18). Em Romanos 12:1, no entanto, o sacrifício que oferecemos não é uma forma específica de louvor ou serviço, mas nossos próprios "corpos".
“Vivo, Santo e agradável a Deus”
Paulo qualifica o sacrifício que oferecemos com nossos corpos com três adjetivos:
“Vivo”. A palavra "vivo" denota o estado espiritual dos crentes. Eles estão agora “vivos para Deus em Cristo Jesus” (Romanos 6:11, 13; 8:13). São precisamente aqueles que estão vivos em Cristo que são chamados a dar suas vidas a ele como sacrifício.
“Santo”. Denota algo separado e dedicado a Deus em oposição a algo comum ou profano. Os crentes romanos são chamados “santos” (1: 7) por causa do Espírito Santo “dado” a eles (5: 5), que os “santificou” (15:16), e que os capacita para   justiça, alegria, esperança, paz (14:17; 15:13).
Agradável a Deus. Expressa o resultado de sacrifícios que são “vivos” e “santos”, na medida em que recebem o favor divino (ver Fp 4:18). 

IV. A CONSAGRAÇÃO TOTAL DO EU A DEUS COMO O CULTO ADEQUADO.
“Que é o Vosso culto racional”
Racional
Paulo usou o termo grego λογικός com o significado "racional" ou "razoável", como era comum na língua grega. Seu propósito ao fazer isso era enfatizar que entregar todo o seu eu a Deus é eminentemente razoável. Visto que Deus tem sido tão misericordioso, a incapacidade de dedicar sua vida a ele é o cúmulo da loucura e da irracionalidade.
Culto
A palavra λατρείαν é outro termo cultual. O que é notável é que Paulo aplicou a linguagem do culto à existência cotidiana. A adoração descrita não se refere a assembleias públicas, mas ao ceder de toda a vida a Deus na realidade concreta da existência cotidiana. A atividade e linguagem que focalizaram o culto no AT agora são estendidas para abranger todas as facetas da existência do crente. Neusner (1971) enfatizou como os fariseus expandiram sua concepção de pureza para que incluísse a vida cotidiana. Paulo faz a mesma coisa, mas de uma maneira muito diferente. A adoração e os sacrifícios do AT não podem mais ficar confinados ao culto. 
Ele entende o culto do AT como sendo agora cumprido porque a nova era é inaugurada. O chamado para adorar faz com que o tema da carta ressurja, pois o pecado fundamental é a falha em adorar a Deus (veja 1:25). Aqueles que adoram a Deus entregam suas vidas inteiras a ele para que ele seja honrado e elogiado em tudo o que fazem.
Reuniões regulares de cristãos para louvor e edificação mútua são apropriadas e, de fato, ordenadas nas Escrituras. E o que acontece nessas reuniões é certamente “adoração”. Mas esses momentos especiais de culto corporativo são apenas um aspecto do culto contínuo que cada um de nós deve oferecer ao Senhor no sacrifício de nossos corpos dia a dia.
“A adoração cristã não consiste naquilo que é praticado em locais sagrados, em tempos sagrados e com atos sagrados ... É a oferta da existência corpórea na esfera outrora profana”.
Esta “adoração verdadeira e apropriada” não se realiza através da veneração de imagens finitas encontradas na idolatria greco-romana (1:24), nem na busca de virtude pelo filósofo ou rabino (2:1-16), nem no serviço do templo de Jerusalém (9:4). Tal é substituído pela morte sacrificial de Cristo (3:24-25). É o serviço corpóreo de uma comunidade em seu modo de vida que agrada a Deus.

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