segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Manual Rápido para a Comunicação no Casamento



by  


É impressionante como às vezes é difícil conversar no casamento! É estranho porque conversar parece ser algo muito natural, que não precisa ser planejado, nem pensado. Mas quando casamos, por vezes é difícil conversar. Há muitas “forças” que atrapalham um bom bate-papo entre marido e mulher. Em nossa sociedade individualista e consumista, querendo ou não, somos bombardeados constantemente com a ideia de que devemos ser egoístas e de que coisas são mais importantes do que pessoas. É por isso que é tão fácil para nós gastarmos horas olhando para a tela do celular, enquanto é difícil engajarmos em uma conversa significativa com nosso cônjuge.
Além disso, alguns ainda têm uma ideia de que o mundo deveria ser perfeito: ela sempre deveria estar perfumada, feliz e disposta e ele sempre deveria ser o mais romântico de todos os homens e que tem soluções para todos os problemas. No mundo real essas pessoas não existem e a desilusão com o cônjuge real leva muivos casais imaturos ao abandono da comunicação relevante.
Conheço casais que só se falam se for para falar mal de outras pessoas ou para reclamar de algo. Outros conversam o mínimo necessário, especialmente sobre contas. Há maridos que nunca elogiam. Há esposas que nunca tem uma palavra afirmativa. Há cônjuges que nunca pedem perdão e outros que nunca liberam o perdão. O resultado é um número assustador de discussões violentas, casamentos de fachada, cônjuges indiferentes e péssima comunicação.
Por isso tudo, quero apresentar aqui algumas diretrizes rápidas para a comunicação no lar. Permitirei que os textos falem por si mesmos:

1. Ouça antes de responder (aprenda a ouvir)

Provérbios 29:20 Tens visto um homem precipitado nas suas palavras? Maior esperança há para o insensato do que para ele.

Tiago 1.19 Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.
Provérbios 8.13 Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha.

2. Responda com calma e justiça

Provérbios 15:1 A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.

Provérbios 24:26 Como beijo nos lábios, é a resposta com palavras retas.

3. Espere o momento certo

Provérbios 15:23 O homem se alegra em dar resposta adequada, e a palavra, a seu tempo, quão boa é!

Provérbios 25:11 Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.

4. Evite a implicância

Provérbios 10.19 No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente.

Provérbios 17.9 O que encobre a transgressão adquire amor, mas o que traz o assunto à baila separa os maiores amigos
Provérbios 20.9 Quem pode dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou do meu pecado?

5. Fuja das discussões

Provérbios 17.14 Como o abrir-se da represa, assim é o começo da contenda; desiste, pois, antes que haja rixas.

Provérbios 20.3 Honroso é para o homem o desviar-se de contendas, mas todo insensato se mete em rixas.
Efésios 4.31 Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia.

6. Retire os sentimentos maus e fale o que edifica

Efésios 4.29-31 Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem. 30 E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. 31 Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia.

Romanos 14.13 Não nos julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão.
Gálatas 6.1 Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado.
1Ts 5.11 Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente, como também estais fazendo.

7. Perdoe

Mateus 18.21-22 Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.

Efésios 4.32 Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou.
Colossenses 3.13 Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós

8. Deixe a mentira e fale a verdade em amor

Provérbios 13:5 O justo aborrece a palavra de mentira, mas o perverso faz vergonha e se desonra.

Efésios 4:25 Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros.
Efésios 4.15 Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,
Colossenses 3.9 Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos

9. Resolva as questões. Não se cale deixando a amargura tomar conta

Efésios 4:26 Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira,

Mateus 18:15 Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão.
Lucas 17:3 Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende -o; se ele se arrepender, perdoa-lhe.

10. Se atacado não reaja da mesma maneira

Romanos 12.17 Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens;

1Pedro 12.23 pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente,
1Pedro 3.9 não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança.

11. Use palavras boas, agradáveis, edificantes (que constróem)

Provérbios 12:25 A ansiedade no coração do homem o abate, mas a boa palavra o alegra.

Provérbios 15:26 Abomináveis são para o SENHOR os desígnios do mau, mas as palavras bondosas lhe são aprazíveis.
Provérbios 15:27 O que é ávido por lucro desonesto transtorna a sua casa, mas o que odeia o suborno, esse viverá.
Provérbios 15:28 O coração do justo medita o que há de responder, mas a boca dos perversos transborda maldades.
Provérbios 16:24 Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a alma e medicina para o corpo.

Fonte: https://portugues.logos.com/2016/08/25/manual-rapido-para-a-comunicacao-no-casamento/. Acesso em: 30 jan 2017.

domingo, 29 de janeiro de 2017

A PERSPECTIVA HUMANA E DIVINA SOBRE A CONDUTA IDEAL



Textos Bíblicos: Pv 14.12; 16.25. Sl 119:105.

Introdução

      Por que é tão difícil fazer escolhas? Ou melhor, fazer as escolhas certas? Quando leio este provérbio sinto-me questionado, inquieto diante do pragmatismo que guia minhas decisões. Geralmente, escolhemos baseados nos afetos, no grau de prazer ou felicidade que algo possa nos proporcionar mediata ou imediatamente, concreta ou imaginariamente, sem possíveis consequências desastrosas posteriores. O exemplo mais acessível que me vem à cabeça é o da corrupção. Maior ganho possível com o menor esforço possível, com expectativa de impunidade muito pequena. 

      Mas o mesmo princípio, acredito, pode ser ampliado. No Brasil, o pragmatismo é a ética fundamentadora das ações, de maneira transversal. Segundo o dicionarista Aurélio Buarque de Holanda, pragmatismo é
As doutrinas de C. S. Peirce (v. peirciano), W. James (v. jamesiano1), J. Dewey (v. deweyano) e do literato alemão Friedrich J. C. Schiller (1759-1805), cuja tese fundamental é que a verdade de uma doutrina consiste no fato de que ela seja útil e propicie alguma espécie de êxito ou satisfação.
      Utilidade, êxito ou satisfação, sucesso e felicidade, fuga do fracasso e da dor, o que dá certo é o que é bom. Eis aí uma das premissas fundamentais da nossa cultura, embora não fique muito claro de que maneira possamos alcançá-los. 

      O provérbio que temos diante de nós questiona a validade do nosso pragmatismo e nos mostra que nem sempre o que é fácil, útil e proporciona êxito ou satisfação é bom. Mostra-nos que o insensato é que faz isso, olvidando a voz da sabedoria. 

      Os dois textos apontam para duas perspectivas distintas sobre o certo e errado. Um é a perspectiva humana destituída da orientação de Deus, a outra é a perspectiva divina como revelada nas Escrituras. Seguindo a perspectiva humana sem Deus, o resultado é a morte, enquanto o resultado de seguir a outra é a vida. 

      Um dos motivos pelos quais é tão difícil fazer escolhas é que não sabemos, em muitos casos, o que é o certo a fazer. E daí a pergunta: Qual o critério que temos utilizado para determinar aquilo que é direito? Para o editor da Bíblia de Estudo Pentecostal:
A sabedoria humanista é insuficiente para determinar o que é verdadeiro ou falso, bom ou mau. A revelação escrita da parte de Deus é a única fonte infalível para se determinar o caminho certo desta vida. O caminho traçado pelo homem contém as sementes da morte; o caminho de Deus leva à vida eterna.
      Diante disso, o provérbio e o salmo nos ajudam a evitar o caminho tortuoso e por implicação buscar o caminho certo. Vejamos que lições este provérbio e o Salmo 119.105 encerram.

I. O CAMINHO.

      Segundo Strong, a palavra “caminho” possui várias acepções. “Estrada, distância, jornada, maneira, vereda, direção, hábito”, são alguns dos sentidos literais. No sentido figurado, refere-se ao curso da vida ou ao caráter moral da conduta. Chávez, para além dos sentidos referidos, destaca também que o termo significa “decisões” (Os 10:13; Sal 138:5; Pv 31:3). Caminho ou caminhos, no plural, como aparece nos dois textos, parece significar a mesma coisa: o curso da vida no seu caráter moral. Consequentemente, o curso que tomamos nos leva a algum lugar, aponta para uma direção determinada, e uma jornada se inicia. À luz do Novo Testamento, existem apenas dois caminhos, o estreito e o largo. Um é o caminho que conduz à salvação, o outro à perdição. Cabe a nós escolher o caminho da vida, como diz Jesus. 

      Como as nossas decisões se fundamentam sobre algum critério moral, cabe-nos perguntar qual tem sido o critério das nossas escolhas. Vejamos o que diz os dois textos.

II. O CAMINHO TRAÇADO PELO HOMEM CONTÉM AS SEMENTES DA MORTE.

        Nesta seção, vamos considerar o que Provérbios 14.12 sobre o critério moral da escolha humana sem a direção de Deus e o resultado dela. Destacamos três coisas em relação ao texto.

      Em primeiro lugar, a percepção[1] humana é falha – “há caminho que parece”. Os sentidos humanos estão tão corrompidos pelo pecado quanto qualquer outra parte do nosso ser depois da queda. Ló, por exemplo, escolheu as campinas verdes de Sodoma e Gomorra, num ato claro de pragmatismo, vindo, posteriormente, perder tudo por causa da destruição daquelas cidades em vista da medida do seu pecado ter transbordado (Gn 19). Percepção é a “faculdade de apreender por meio dos sentidos ou da mente; consciência (de alguma coisa ou pessoa), impressão ou intuição, especialmente moral” (HOUAISS, 2009). Em Juízes 17:6, é dito que “naquela época não havia rei em Israel; cada um fazia o que lhe parecia certo”, e o resultado foi desastroso. Autodeterminação parece ser uma das características fundamentais do pecado, e um dos critérios mais perigos para a vida.

      Em segundo lugar, nem sempre o que é fácil é certo – “há um caminho que ao homem parece direito (reto, plano, sem dificuldades”). Como diz Champlin (2001, p. 2606) “a vereda falsa é reta (conforme diz, literalmente, o original hebraico) e fácil de seguir, e, sendo reta, parece correta. Esse caminho reto promete sucesso e felicidade, mas é uma vereda traiçoeira e enganadora”. O critério que suporta a decisão é frágil. Se a percepção humana é falha como esperaríamos que ela proporcionasse uma escolha sólida? A autodeterminação conduz à morte.

      Em terceiro lugar, toda escolha tem consequências – “mas no final conduz à morte”. Que consequência terrível. Veja que “há um caminho” e ao final “o fim dele são os caminhos da morte. (Pv 14.12 – Almeida Corrigida e Revisada Fiel). Entra-se por um caminho e ao final, em vez de chegarmos a um destino certo, encontramos outros tantos, numa espiral infernal do desejo e satisfação ilimitados, que por fim nos conduz à morte (física, espiritual e eterna). Mas uma vez Champlin nos ensina que “embora a vereda do pecador seja reta e aparentemente correta, leva o pobre homem à ruína, à morte prematura, com muitos desastres ao longo do caminho” (2001, p. 2606). 

      O caminho traçado pelo homem contém as sementes da morte. A autodeterminação é um critério frágil porque está fundamentada numa percepção que é falha, parcial, limitada, desfigurada pelo pecado, e por isso conduz à perdição. Como ter um critério seguro para as nossas escolhas nessa vida?

III. O CAMINHO DE DEUS LEVA À VIDA ETERNA.

“Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho” (Sl 119:105). 

      Escolher é difícil, é verdade, mas segundo o salmista temos um referencial confiável para fundamentar nossas escolhas e andar no caminho com segurança – a Palavra de Deus. Note-se três coisas, aqui:

      A palavra de Deus tem a perspectiva correta sobre a vida. Ela é “lâmpada” e “luz”. Se a perspectiva humana é falha, a divina é perfeita. A perspectiva divina sobre a conduta moral adequada encontra-se revelada nas páginas das Escrituras.

      A palavra de Deus é um guia para as questões cotidianas da vida - “Lâmpada para os meus pés é tua palavra”. Para as questões mais corriqueiras da vida temos um guia seguro, um fundamento sólido para as nossas escolhas: a Palavra de Deus.

      A palavra de Deus é um guia para a questão mais importante da vida – “e luz para o meu caminho”. A Palavra de Deus responde à pergunta de qual a melhor vida a ser vivida. A vida vivida a partir da perspectiva humana gera a morte. Mas quando deixamos nos guiar pela Palavra de Deus a melhor vida a ser vivida é aquela em que vivemos não com base na autodeterminação, mas na determinação de Deus sobre todas coisas.

         Olha por onde andas. Ilumina teu caminho com a Palavra de Deus. Se a tua vida tem sido vivida com base na autodeterminação dá meia volta e toma o rumo certo. Lembra-te que só um caminho certo e seguro – JESUS (Jo 14.6).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Pentecostal. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição rev. e corr. Editado por Donald C. Stamps. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

CHAMPLIN, R. N., O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. vol. 1. São Paulo: Hagnos, 2001.

DICIONÁRIO Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. (v.1.0). Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

DICIONÁRIO Eletrônico da Língua Portuguesa Novo Aurélio - Século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

As bíblias citadas foram consultadas no site: www.bibliaonline.com.br. Acesso em: 26 jul 2015.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

A DOUTRINA DA CONSCIÊNCIA


Por Antônio Gilberto

1 Co 8.7 Mas nem todos há conhecimento; porque alguns até agora comem, no seu costume para com o ídolo, coisas sacrificadas aos ídolos; e a sua consciência, sendo fraca fica contaminada."

DEFINIÇÃO E GENERALIDADES DA CONSCIÊNCIA

            A consciência é uma incontestável realidade em nossa vida, mas ao mesmo tempo ela é também uma das doutrinas da Bíblia. Consciência é o componente racional e moral do nosso ser imaterial, isto é, o espírito e a alma, mas abrangendo também o corpo. Ela é um meio de autojulgamento moral. O termo consciência vem do latim con + cientia = autoconsciência. Literalmente: com conhecimento. É na consciência do ser humano, que na criação, Deus gravou a sua santa lei moral, pela qual temos consciência do bem e do mal; do certo e do errado; do pecado e da justiça.
A consciência é uma espécie de "órgão espiritual" do nosso ser; todavia, a consciência funciona através do cérebro e do sistema nervoso — elementos físicos. A consciência no ser humano demonstra que este não é um animal que não tem consciência.
No Antigo Testamento, muitas vezes os termos "rins" e "coração" referem-se à consciência.
1) A consciência é vinculada ao "coração" no sentido de dimensão afetiva do ser humano (Hb 10.22 "Cheguemo-nos, em inteira certeza de fé; tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água Limpa").
2) A consciência é uma faculdade ou potencialidade do nosso espírito, pela qual o indivíduo distingue o bem e o mal; o certo e o errado. É a lei moral de Deus implantada por Ele na criatura humana, na Criação. Hoje a consciência está muito desfigurada da original, pelo efeito do pecado. A consciência faz-nos primeiramente conscientes de nós mesmos, o que não é o caso da máquina que o homem inventa e fabrica, mas ela mesma nada sabe.
3) A consciência vigia-nos e alerta-nos, aprovando ou reprovando nossos pensamentos, palavras, atitudes, propósitos, atos e conduta em geral, isto é, se tais coisas que ocorrem no ser humano estão de acordo com nossas convicções.
4) Nossa consciência em si mesma não é autoridade, nem guia, nem juiz final, enfim, última instância em matéria de nosso relacionamento com Deus e quanto a salvação. Essa autoridade final repousa nas Sagradas Escrituras (SI 119.105,160; Jo 17.17; 2 Tm 3.15).
5) Nossa consciência para agir corretamente ao aprovar ou reprovar nossas convicções, atos e conduta, depende da Palavra de Deus, segundo os seus parâmetros do certo e do errado.
Temos, eu e você, leitor, neste momento, em nossa consciência os parâmetros ou normas fixas de Deus, do absolutamente certo e do absoluto errado? A consciência do cristão deve estar sempre alinhada à Bíblia para que suas convicções sejam exatas, uma vez que a consciência pode ser enfraquecida, obstruída, contaminada e cauterizada, como veremos logo mais neste estudo.
OS RECURSOS DIVINOS PARA UMA BOA E SANTA CONSCIÊNCIA
Esses recursos ou meios divinos devem estar na consciência de todo cristão.
1. A lei moral divina, gravada integralmente na consciência (Rm 2.15,16; 1 Co 11.14 "não vos ensina a mesma natureza (...)?; 2 Co 1.12; Jó 38.36; Rm 13.5).
Imagine-se um pecador que recusa ou adia a sua decisão de seguir a Cristo com a excusa: "Estou seguindo a minha consciência".
A lei moral divina gravada em nossa consciência evidencia a existência de um Supremo Legislador e Soberano do universo, a quem todo ser humano um dia haverá de prestar contas. Um dia os livros de Deus serão abertos (Ap 20.12 "e abriram-se os livros"). Um desses livros será sem dúvida o livro da consciência.
2. A lei divina escrita, escondida por nós em nosso coração — a Bíblia (SI 119.11; Dt 6.6; 11.18; SI 40.8; Hb 8.10 "no entendimento e coração"; 10.16 "no coração e entendimento"). A lei divina escrita, sob a agência do Espírito Santo faz com que a consciência aja com retidão e justiça.
Aqui entra o caso da nossa consciência ante a lei civil, isto é, nossos deveres para com as autoridades legalmente constituídas e vice-versa (Rm 13.5 "Portanto é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo castigo, mas também pela consciência"). É a consciência na submissão às autoridades. Deus criou todas as coisas sob o princípio da autoridade (SI 119,91; Pv 16.4).  "O poder pertence a Deus" (SI 62.11).
3. O Espírito Santo agindo livremente em nossa consciência (Rm 9.1). Nossa consciência depende do Espírito Santo para bem cumprir sua missão determinada por Deus na Criação.
4. O poderoso sangue de Jesus purificando nossas consciências (Hb 9.14).
ESTADOS DA NOSSA CONSCIÊNCIA

       1. A consciência boa (1 Pe 3.16,21; 1 Tm 1.5,19; Hb 13.18; At 23.1). Boa, nestas referências equivale a sadia, saudável, hígida, normal. A consciência quando boa é ativa e funcional, e assim aprova ou reprova corretamente nossa conduta. "Dando testemunho a minha consciência no Espírito Santo" (Rm 9.1; 2 Co 1.12). A boa consciência atua com parâmetros ou padrões de Deus, da Palavra de Deus.
     2. A consciência pura, limpa (1 Tm 3.9; 2 Tm 1.3). Pura, aqui, é literalmente desentupida, limpa mediante ação de limpeza. Mentalizar um cano ou encanamento desentupido. É a "consciência sem ofensa", sem culpa (At 24.16).
É a consciência purificada do pecado e perdoada da culpa. O agente divino da purificação é o sangue de Jesus (Hb 9.14). O meio divino é a fé (At 15.9). A Palavra de Deus é também um agente divino de limpeza espiritual (Jo 15.3).
A consciência entupida ou bloqueada, a) Com dúvidas, Rm 14.1,23; b) Com especulações teológicas e filosóficas; c) Com argumentos modernistas; d) Com a culpa de pecados cometidos e não confessados e perdoados; e) Com ofensas praticadas contra o próximo.
3. A consciência fraca; enfraquecida (1 Co 8.7-12). "Fraca" aqui = debilitada; frágil; quebradiça. Coisas que enfraquecem e fragilizam a consciência do ser humano a partir da infância. Algumas delas, a) O contínuo rebaixamento dos padrões morais em toda parte, inclusive no lar e na igreja; b) A ação capciosa e crescente do espírito do Anticristo precedendo o seu aparecimento na terra como está predito Dn 7.25; 2 Ts 2.7-12; 1 Jo 4.3; Ap 13.1); c) As sucessivas mutações sociais dos nossos tempos, destruidoras dos fundamentos morais da sociedade, abrangendo o homem, a mulher, a família como célula, a criança, o governo, a escola, o trabalho; d) A multimídia da atualidade, repleta de conteúdo tenebroso, ocultista, vinte e quatro horas por dia, para todos a partir da criança; e) O pecado por ser ignorado é chamado de deslize, lapso, falta, falha, erro, engano.
Esta consciência "fraca", doente, assinalada em 1 Co 8.7,12, pode ser despertada por Deus como ocorreu àquela multidão de religiosos, principalmente judeus, na endurecida cidade de Jerusalém no Dia de Pentecostes (At 2.37 "E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, varões irmãos?”) Era um avivamento espiritual que estava começando, como relata a Bíblia (At 2.1-4). Avivamento é um movimento do Espírito iniciado pelo despertamento da consciência. Ver 2 Cr 13,14). Um povo avivado é um povo de consciência despertada e renovada.
4. A consciência contaminada (Tt 1.15). "Contaminada" aqui, é literalmente culpada de pecado; acusadora do transgressor. Exemplos de consciência culpada acusando o seu portador: a) Os irmãos de José (Gn 42.21,22); b) O rei Faraó, do Egito (Êx 9,27); e) O copeiro-mor de Faraó (Gn 41.9); d) O rei Davi, de Israel (1 Sm 24.1-6; SI 40.11-13; 51). e) Os acusadores da mulher adúltera conduzida por eles a Jesus (Jo 8.3-9); f) O governador Felix ao ouvir o evangelho pregado pelo apóstolo Paulo (At 24.24,25); g) Saulo de Tarso no momento da sua conversão a Deus (At 9.5 "duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões"); h) Os nossos inimigos quando lhes fazemos o bem com amor (Rm 12.20; cf. Mc 9.48 "Onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga").
5. A consciência má (Hb 10.22). "Má" aqui, abrange a idéia de algo contínuo; isto é, fazer mal continuamente. A má consciência afeta o coração, pois são associados (Hb 10.22), e afeta também o corpo, é evidente.
6. A consciência cauterizada (1 Tm 4.2; cfr. Ef 4.19 "havendo perdido todo o sentimento"). Uma consciência cauterizada, isto é, insensível de tanto ser violada, abafada, ignorada, reprimida. São pessoas que perderam toda sensibilidade, toda vergonha, todo respeito, todo temor. "Cauterizada" vem de cautério, um agente químico ou mecânico que queima ou desfaz os tecidos orgânicos do corpo afetados por doença maligna, crônica, tida como incurável.
Leitura bíblica de maior amplitude recomendada: 1 Coríntios,
capítulos 8 e 10; Romanos, capítulos 1 a 3; 9; 13; 14.


Fonte: GILBERTO, Antônio. Mensagens, Estudos e explanações em I Coríntios. Rio de Janeiro: CPAD, 2009. p. 173-177

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

O Espírito Santo e a santificação do crente


Por Antônio Gilberto

Salvação e santificação são obras realizadas por Jesus no homem integral: espírito, alma e corpo. A Bíblia afirma que fomos eleitos “desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito” (2Ts 2.13). Esta verdade está implícita em João 19.34. Do lado ferido do corpo de Jesus fluíram, a um só tempo, sangue e água. Isto é, o sangue poderoso de Cristo nos redime de todo pecado, mas a água também nos lava de nossas impurezas pecaminosas. 

Cristo morreu “para nos remir de toda iniqüidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.14). A salvação e a santificação devem andar juntas na vida do crente.

A santidade de Deus. A Bíblia diz que nosso Deus é santíssimo: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos” (Is 6.3; Ap 4.8). A santidade de Deus é intrínseca, absoluta e perfeita (Lv 19.2; Ap 15.4). E o atributo que mais expressa sua natureza. No crente, porém, a santificação não é um estado absoluto, é relativo assim como a lua, que, não tendo luz própria, reflete a luz do sol (cf. H b 12.10; Lv 2I.8b). 

Deus é “santo” (Pv 9.10; Is 5.16); e, quem almeja andar com Ele, precisa viver em santidade, segundo as Escrituras.

O que não é santificação. O próprio Pedro enganou-se a respeito da santificação (At 10.10-15). Vejamos o que não é a santificação bíblica. 

1) Exterioridade (Mt 23.25-28; I Sm 16.7). Usos, práticas e costumes. Estes últimos, quando bons, devem ser o efeito da santificação, e não a causa dela (Ef 2.10). 

2) Maturidade cristã. Não é pelo tempo que algo se torna limpo, mas pela ação contínua da limpeza. A maturidade cristã varia, como se vê em I João 2.12,13: “Filhinhos”; “pais”; “mancebos”; “filhos”. 

3) Batismo com o Espírito Santo e dons espirituais. O batismo com o Espírito Santo e os dons espirituais em si mesmos não equivalem à santificação como processo divino e contínuo em nós (At 1.8; I Co 14.3).

Santificar e santificação. “Santificar” é “pôr à parte, separar, consagrar ou dedicar uma coisa ou alguém para uso estritamente pessoal”. Santo é o crente que vive separado do pecado e das práticas mundanas pecaminosas, para o domínio e uso exclusivo de Deus. E exatamente o contrário do crente que se mistura com as coisas tenebrosas do pecado.

A santificação do crente tem dois lados: (I) sua separação para a posse e uso de Deus; e (2) a separação do pecado, do erro, de todo e qualquer mal conhecido, para obedecer e agradar a Deus. Ela tem também três aspectos: posicionai, progressiva e futura.

A santificação posicional (Hb 10.10; Cl 2.10; I Co 6.11). N o seu aspecto posicional, a santificação é completa e perfeita, ou seja, o crente pela fé torna-se santo “em Cristo”. Deus nos vê em Cristo perfeitos (E f 2.6; Cl 2.10). Quando estamos “em Cristo”, não há qualquer acusação contra nós (Rm 8.33,34), porque a santidade do Senhor passa a ser a nossa santidade (I Jo 4.17b).

A santificação progressiva. E a santificação prática, aplicada ao viver diário do crente. Nesse aspecto, a santificação do crente pode ser aperfeiçoada (2 Co 7.1). Os crentes mencionados em Hebreus 10.10 já haviam sido santificados, e continuavam sendo santificados (w. 10,14-ARA).

A santificação futura. “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Ts 5.23). Trata-se da santificação completa e final (I Jo 3.2). Leia também Efésios 5.27 e I Tessalonicenses 3.13.

A SANTIFICAÇÃO COMO UM PROCESSO

O crescimento do crente “em santificação” ocorre à medida que o Espírito o rege soberanamente, e o crente, por sua vez, o busca, em cooperação com Deus: “Sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver” (I Pe I.1 5).

O lado divino da santificação progressiva. São meios que o Senhor utiliza para santificar-nos em nosso viver diário. Esses recursos divinos são: o sangue de Jesus Cristo (Hb 13.12; I Jo 1.7,9); a Palavra de Deus (SI 12.6; 119.9; Jo 17.17; E f 5.26); o Espírito Santo (Rm 1.4; I Pe 1.2; 2 Ts 2.13); a glória de Deus manifesta (Êx 29.43; 2 Cr 5.13, 14); e a fé em Deus (At 26.18; Fp 3.9; Tg 2.23; Rm 4 .1 1).

O lado humano da santificação progressiva. Deus é quem opera a santificação no crente, embora haja a cooperação deste. Os meios coadjuvantes de santificação progressiva são: 

1) O próprio crente. Sua atitude e propósito de ser santo, separado do mal para posse de Deus, são indispensáveis. E o crente tendo fome e sede de ser santo (Mt 5.6; 2 Tm 2.21, 22; I Tm 5.22). 

2) O santo ministério. Os obreiros do Senhor têm o dever de cooperar para a santificação dos crentes (Ex 19.10,14; E f 4.11,12). 

3) Pais que andam com Deus. Assim como Jó (Jó 1.5), os pais devem cooperar para a santificação dos filhos. Eunice, por exemplo, colaborou para a integridade de Timóteo, seu filho (2 T m 1.5; 3.15). Por outro lado, pais descuidados podem influenciar negativamente seus filhos, como no caso de Herodias que influenciou a Salomé (M c 6.22-24). 

4) As orações do justo (SI 51.10; 32.6). A oração contrita, constante e sincera tem efeito santificador. 

5) A consagração do crente a Deus (Lv 27.28b; Rm 12.1,2). A rendição incondicional do crente a Deus tem efeito santificador nele.

Estorvos à santificação do crente. Estorvos são embaraços que impedem o cristão de viver em santidade, tais como: 

1) Desobediência. Desobedecer de modo consciente, contínuo e obstinadamente à conhecida vontade do Senhor (Ex 19.5,6). 

2) Comunhão com as trevas. Comungar com as obras infrutíferas das trevas (Rm 13.12); com os ímpios, seus costumes mundanos e suas falsas doutrinas (Ef 5.3; 2 Co 6.14-17). 

3) Áreas da vida não santificadas. Alguns aspectos reservados da vida do crente que não foram consagrados a Deus devem ser apresentados ao Senhor. Como, por exemplo, mente, sentidos, pensamento, instintos, apetites e desejos, linguagem, gostos, vontade, hábitos, temperamento, sentimento. Um exemplo disso está em Mateus 6.22,23.

A necessidade de santificar-se. Para esse tópico aconselhamos a leitura meditativa de 2 Coríntios 7.1 e 1 Tessalonicenses 4.7. Vejamos por que é necessário seguir a santificação: 

1) A Bíblia ordena. A Bíblia afirma que temos dentro de nós a “lei do pecado” (Rm 7.23:8.2). Daí ela ordenar que sejamos santos(I Pe 1.I6; Lv 11.44, Ap 22.11); o Senhor habita somente em lugar santo (Is 57.15; I Co 3.17). 

2) Só os santos serão arrebatados. O Senhor Jesus — que é santo — virá buscar os que são consagrados a Ele (I Ts 3.13; 5.23; 2 Ts 1.10; H b 12.14). Por isso, a vontade de Deus para a vida do crente é que ele seja santo, separado do pecado (I Ts 4.3). 

3) A santidade revelada de Deus. Uma importante razão pela qual o crente deve santificar-se é que a santidade de Deus, em parte, é revelada através do procedimento justo e da vida santificada do crente (Lv 10.3; Nm 20.12). Então, o crente não deve ficar observando, nem exigindo santidade na vida dos outros; ele deve primeiro demonstrar a sua! 

4) Os ataques do Diabo. Devemos atentar para o fato de que o Inimigo centraliza seus ataques na santificação do crente. A principal tática que o Adversário emprega para corromper a santidade é o pecado da mistura. Isso ele já propôs antes a Israel através de Faraó (Ex 8.25), o que abrange mistura da igreja com o mundanismo; da doutrina do Senhor com as heresias; da adoração com as músicas profanas; etc. 

Em muitas igrejas hoje a santificação é chamada de fanatismo. Nessas igrejas falam muito de união, amor, fraternidade, louvor, mas não da separação do mundanismo e do pecado. Notemos que as “virgens” da parábola de Mateus 25 pareciam todas iguais; a diferença só foi notada com a chegada do noivo. Estejamos, pois, preparados para o Encontro com Jesus nos ares, avivados para o Arrebatamento (I Ts 4.16,17).

Fonte: GILBERTO, Antônio (org.). Teologia Sistemática Pentecostal. Rio d Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2008. p. 226-230

Sobre a Santificação II



Por Matthew Henry

II. Os motivos ou argumentos aqui usados para mostrar a necessidade de santificação.

Por natureza, existe tal antipatia em nossos corações em relação à santidade que não é nada fácil submetê-los a ela; é a obra do Espírito, que convence por persuasões tais como essas que se estabelecem na alma. 1. Ele argumenta a partir de nossa conformidade sacramental com Jesus Cristo. Nosso batismo, com seu motivo e finalidade, traz em si uma grande razão pela
qual devemos morrer para o pecado e viver para a justiça. Assim, devemos aproveitar nosso batismo como um freio para nos manter longe do pecado, como um aguilhão de constrangimento para nos estimular ao dever. Observe este raciocínio: 
(1) Em geral, nós estamos “...mortos para o pecado”, isto é, em confissão e em obrigação. Nosso batismo significa nossa ruptura com o reino do pecado. Nós confessamos não ter mais nada a ver com o pecado. Estamos mortos para o pecado ao participarmos da virtude e do poder de matá-lo, e por nossa união com Cristo e nosso interesse nele, em e por quem o pecado está morto. Tudo isso será em vão, se persistirmos no pecado; nós contradizemos uma confissão, violamos uma obrigação, retornamos àquilo para o que estávamos mortos, como fantasmas errantes, em relação a que nada é mais inconveniente e absurdo. Pois (v. 7) “...aquele que está morto está justificado do pecado”; isto é, aquele que está morto para ele está livre do seu controle e do seu domínio, como o servo morto está livre de seu senhor (Jo 3.19). Então, seremos tão tolos a ponto de retornar para aquela escravidão da qual estamos libertos? Ao estamos libertos do Egito, vamos querer voltar para ele novamente?
(2) Em particular, “...em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte” (v. 3). Nós fomos batizados eis Christon em, Cristo, como em 1 Coríntios 10.2, eis Mosen - em Moisés. O batismo nos liga a Cristo, ele nos liga como aprendizes a Cristo como nosso professor; ele significa a nossa submissão a Cristo como o nosso soberano. O batismo é externa ansa Christi - a pegadeira externa de Cristo, pela qual Cristo se apodera dos homens e esses se oferecem a Ele. Particularmente, fomos batizados em sua morte, participando dos privilégios adquiridos por ela, e em uma obrigação, tanto de nos sujeitar ao desígnio de sua morte, que era nos redimir de toda iniquidade, quanto de nos conformar ao padrão de sua morte, para que, como Cristo morreu pelo pecado, nós também morramos para o pecado. Essas são a confissão e a promessa de nosso batismo e não faremos bem se não agirmos de acordo com essa confissão e confirmarmos essa promessa.
[1] Nossa conformidade à morte de Cristo nos obriga a morrer para o pecado; por meio disso, nós conhecemos “...a comunicação de suas aflições” (Fp 3.10). Assim, se diz de nós aqui que somos “...plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte” (v. 5), to homoiomati, não somente uma conformidade, mas uma conformação, como a planta enxertada é plantada juntamente na semelhança do broto, de cuja natureza ela participa. Plantar é para a vida e a frutificação: somos plantados na videira à semelhança de Cristo, cuja semelhança nós devemos evidenciar na santificação. Nosso credo concernente a Jesus Cristo é, entre outras coisas, que Ele foi crucificado, morto e sepultado; então o batismo é uma conformidade sacramental com Ele em cada um desses pontos, como o apóstolo aqui observa. Em primeiro lugar, “...nosso velho homem foi com ele crucificado” (v. 6). A morte de cruz era uma morte lenta; o corpo, depois que era pregado à cruz, sentia muita dor e muito esforço, mas, embora demorasse para o moribundo expirar, era uma morte certa; tal é a mortificação do pecado nos crentes. Era uma morte amaldiçoada (G13.13). O pecado morre como um malfeitor condenado à destruição; ele é algo amaldiçoado. Embora seja uma morte lenta, contudo o fato de ser um velho homem que está sendo crucificado deve acelerá-la, pois ele não está no auge de sua força, mas na decadência; o que foi tornado velho e se envelhece perto está de acabar (Hb 8.13). Com ele crucificado - synestaurothe, não com respeito ao tempo, mas à causalidade. A crucificação de Cristo por nós influencia na crucificação do pecado em nós. Em segundo lugar, nós estamos mortos com Cristo (v. 8). Cristo foi obediente até a morte; podemos dizer que, quando Ele morreu, nós morremos com Ele, assim como nossa morte para o pecado é um ato de conformidade, tanto à intenção quanto ao exemplo da morte de Cristo para o pecado. O batismo significa e sela a nossa união com Cristo, o fato de sermos enxertados em Cristo, de maneira que estamos mortos com Ele e empenhados em não termos mais a ver com o pecado do que Ele tinha. Em terceiro lugar, “...fomos sepultados com ele pelo batismo...” (v. 4). Nossa conformidade está completa. Pela confissão, nós estamos totalmente desligados de toda relação e comunhão com o pecado, como aqueles que estão sepultados estão completamente desligados de todo o mundo; não apenas não pertencem aos vivos, mas não estão mais entre eles, não tendo mais nada a ver com eles. Assim devemos ser, como Cristo foi, separados do pecado e dos pecadores. Nós estamos sepultados, a saber, pela confissão e pela obrigação: assim confessamos ser e somos obrigados a ser assim; esse foi o nosso pacto e o nosso engajamento no batismo; nós somos selados para ser do Senhor, portanto, separados do pecado. Confesso que não consigo entender por que esse sepultamento no batismo deva aludir tanto a algum costume de mergulhar na água por ocasião do batismo, mais do que nossa crucificação e morte batismais devam ter qualquer conotação desse tipo. Está claro que não é o sinal, mas a coisa significada no batismo que o apóstolo chama aqui de ser sepultado com Cristo, e a expressão do sepultamento alude ao sepultamento de Cristo. Como Cristo foi sepultado, para que Ele pudesse ressuscitar para uma vida nova e celestial, dessa forma somos sepultados no batismo, isto é, separados da vida de pecado, para que possamos ressuscitar para uma nova vida de fé e amor.
[2] Nossa conformidade com a ressurreição de Cristo nos leva a ressuscitar para novidade de vida. Essa é “...a virtude da sua ressurreição”, a qual Paulo estava tão desejoso de conhecer (Fp 3.10). Cristo “...ressuscitou dos mortos pela glória do Pai”, isto é, pelo poder do Pai. O poder de Deus é a sua glória; é poder glorioso (Cl 1.11). Então, no batismo somos obrigados a nos conformar àquele padrão, a sermos plantados na “...semelhança... da sua ressurreição” (v. 5), a vivermos com Ele (v. 8; veja Cl 2.12). A conversão é a primeira ressurreição da morte do pecado para a vida de justiça; e essa ressurreição é semelhante à ressurreição de Cristo. Parece que essa conformidade que existe entre os santos e a ressurreição de Cristo é insinuada na ressurreição de muitos corpos dos santos, a qual, embora mencionada antes como se a antecipasse, supõe-se que tenha sido simultânea à de Cristo (Mt 27.52). Todos nós temos ressuscitado com Cristo. Em duas coisas, nós devemos corresponder à ressurreição de Cristo: em primeiro lugar, Ele levantou-se para não morrer mais (v. 9). Nós lemos de muitos outros que foram ressuscitados dos mortos, mas para morrer novamente; mas, quando Cristo ressuscitou, o fez para nunca mais morrer; por isso Ele deixou sua mortalha para trás, enquanto que Lázaro, que devia morrer novamente, saiu com ela, como alguém que a usaria de novo; mas sobre Cristo a morte não mais terá domínio. De fato, Ele esteve morto, mas está vivo, e tão vivo que viverá para sempre (Ap 1.18). Assim, nós devemos levantar do túmulo do pecado para jamais retornar a ele, nem para termos qualquer participação nas obras das trevas, tendo abandonado aquele túmulo, aquela terra das trevas, como também as próprias trevas. Em segundo lugar, Ele levantou-se para viver para Deus (v. 10), para viver uma vida celestial, para receber aquela glória que lhe foi apresentada. Outros que foram ressuscitados dos mortos retornaram à mesma vida que, em todos os aspectos, tinham vivido antes; mas isso não ocorreu com Cristo: Ele ressuscitou para deixar o mundo. “E eu já não estou mais no mundo” (Jo 13.1; 17.11). Ele levantou-se para viver para Deusy isto é, para interceder e governar, e tudo para a glória do Pai. Dessa forma, nós devemos ressuscitar para viver para Deus; isso é o que ele chama de “...novidade de vida” (v. 4), viver a partir de outros princípios, por outras regras, com outros objetivos, além daqueles em que temos vivido. Uma nova vida é uma vida devotada a Deus; antes o ego era o comandante e a mais alta finalidade que tínhamos, mas agora é Deus. Viver de fato é viver para Deus, tendo nossos olhos sempre nele e fazendo dele o centro de todas as nossas ações.
2. Ele argumenta a partir das preciosas promessas e privilégios da nova aliança (v. 14). Pode-se objetar que não podemos vencer e subjugar o pecado; que isso é inevitavelmente muito difícil para nós: “Não”, ele diz, “vós lutais com um inimigo com que se pode lidar e que pode ser subjugado se permanecerdes em vossa posição e com as armas em punho; ele é um inimigo que já está derrotado e confundido; existe força armazenada na aliança da graça para a vossa assistência, se simplesmente quiserdes utilizá-la. O pecado não terá domínio”. As promessas de Deus para nós são mais poderosas e efetivas para a mortificação do pecado do que as nossas promessas para Deus. O pecado pode se agitar dentro de um crente e criar muito transtorno para ele, mas não terá domínio; o pecado pode fustigá-lo, mas não governará sobre ele. “...Pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça”, não estamos sob a lei do pecado e da morte, mas sob a lei do espírito de vida que está em Cristo Jesus: somos estimulados por princípios diferentes daqueles que nos estimulavam: novos senhores, novas leis. Ou, não estamos sob a aliança das obras, que exige tijolos e não dá palha, que condena pela menor falha, que procede da seguinte forma: “Se fizerdes isto vivereis, se não o fizerdes, morrereis”; mas sob a aliança da graça, que aceita a sinceridade como a nossa perfeição evangé­lica, que não exige nada senão o que ela dá força para realizar, o que é aqui bem ordenado, que toda transgressão na aliança não nos excluirá dela, e especialmente que ela não deixa a nossa salvação por nossa própria conta, mas a coloca nas mãos do Mediador, o qual por nós se encarrega de que o pecado não terá domínio sobre nós; o pró­prio que o havia condenado e o destruirá; de maneira que se procurarmos a vitória, seremos mais do que vencedores. Cristo governa pelo cetro dourado da graça e Ele não permitirá que o pecado tenha domínio sobre aqueles que desejam submeter-se ao seu governo. Essa é uma palavra muito confortadora para todos os verdadeiros crentes. Se estivéssemos sob a lei, estaríamos perdidos, pois a lei amaldiçoa aos que não cumprem todos os mandamentos; mas estamos sob a graça, graça que aceita a pessoa disposta, que não é severa em destacar o que fazemos de errado, que deixa lugar para o arrependimento, que promete o perdão sob o arrependimento, e, para uma pessoa ingénua, que motivo pode ser mais forte do que este para não ter nada a ver com o pecado? Pecaremos contra tanta bondade? Abusaremos de tal amor? Talvez alguns possam tirar veneno dessa flor, e de forma insincera usar isso como encorajamento para o pecado. Veja como o apóstolo inicia tal pensamento (v.15): “Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum!” O que pode ser mais perverso e mau do que aproveitar a ocasião de extraordinárias expressões de gentileza e de boa vontade de um amigo para afrontá-lo e ofendê-lo? Rejeitar tal misericórdia, cuspir no rosto de tal amor, é o que, entre duas pessoas, todo o mundo condenaria.
3. Ele argumenta a partir da evidência que essa pode ser a nossa situação, a favor ou contra nós (v. 16): “...a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis”. Todos os filhos dos homens são servos de Deus ou servos do pecado; essas são as duas famílias. Então, para sabermos a qual dessas famílias pertencemos, devemos indagar a qual desses senhores prestamos obediência. Nossa obediência às leis do pecado servirá de evidência contra nós de que pertencemos àquela família cujo destino é a morte. Como, do contrário, a nossa obediência às leis de Cristo evidenciará a nossa pertença à família de Cristo.
4. Ele argumenta a partir da pecaminosidade anterior deles, nos versículos 17-21, onde podemos observar: (1) O que outrora eles foram e fizeram. Temos a necessidade contínua de sermos lembrados de nosso estado anterior. Paulo lembra constantemente de seu próprio estado e da situação anterior daqueles para quem ele escreve.
[1] “...éreis servos do pecado”. Aqueles que agora são servos de Deus fariam bem em lembrar-se do tempo quando eram servos do pecado, isso para mantê-los humildes, arrependidos e vigilantes e para estimulá-los no serviço de Deus. E uma vergonha para o serviço do peca­do que milhares de pessoas têm abandonado o serviço e tirado o jugo; e jamais alguém que sinceramente o deixou, e entregou-se a si mesmo ao serviço de Deus, retornou ao trabalho servil anterior. “Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, isto é, embora tendo sido assim, agora tendes obedecido. Fostes assim - graças a Deus que nós podemos falar disso como algo passado: fostes assim, porém não sois mais assim. Mais ainda, o fato de terdes sido anteriormente assim tende muito a exaltar a misericórdia e a graça divinas na feliz mudança. Graças a Deus que a pecaminosidade anterior seja um contraste e estímulo para a vossa santidade presente”.
[2] “...como apresentastes os vossos membros para servirem à imundícia e à maldade para a maldade...” (v. 19). E a miséria de um estado pecaminoso que faz com que o corpo se torne um escravo para pecar, e cuja escravidão não poderia ser mais vil e opressiva, como aquela do filho pródigo, que foi enviado ao campo para alimentar os porcos. Apresentastes. Os pecadores são voluntários em servir ao pecado. O diabo não poderia forçá-los ao serviço se eles não se entregassem à tarefa. Isso justificará Deus ao destruir os pecadores, que se venderam a si mesmos para praticarem a maldade: são responsáveis por seus atos e obras. A maldade para a maldade. Cada ato pecaminoso fortalece e confirma o hábito pecaminoso: à maldade como a obra cujo salário é a maldade. Plante o vento e colha a tempestade; quanto mais piorar, mais endurecido ficará. Ele diz isso “...como homem”, isto é, ele procura uma comparação com aquilo que é comum entre os homens, como a mudança de serviços e patrões.
[3] “...estáveis livres da justiça” (v. 20); não livres por nenhuma liberdade concedida, mas por uma liberdade tomada, que é licenciosidade: “Vivíeis vazios daquilo que é bom; vazios de quaisquer impulsos, inclinações e princípios bons; vazios de toda sujeição à lei e à vontade de Deus, de toda conformidade à sua imagem; e estáveis muito satisfeitos com isso, como se fosse autonomia e liberdade; mas uma liberdade para longe da justiça é o pior tipo de escravidão.”
(2) Como ocorreu a abençoada mudança, e em que ela consiste.
[1] “...obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues” (v. 17). Isso descreve a conversão, o que ela é; é a nossa conformidade com, e submissão ao evangelho que nos foi entregue por Cristo e seus ministros (margem). A que fostes entregues, eis hon paredothete - para a qual fostes entregues. E assim, observe, em primeiro lugar, a regra da graça, a forma de doutrina - typon didaches. O evangelho é a grande regra, tanto da verdade como da santidade; é o selo no qual a graça está impressa; é o modelo das sãs palavras (2 Tm 1.13). Em segundo lugar, a natureza da graça, que é a nossa conformidade àquela regra.
1. E para obedecer de coração. O evangelho não é apenas uma doutrina que deva ser crida, mas obedecida, e de coração, o que denota a sinceridade e a veracidade daquela obediência; não apenas na confissão, mas em poder – do coração, da parte mais íntima, que nos controla.
2. E para ser colocado dentro dele, como dentro de uma forma, como a cera é colocada na impressão do selo, correspondendo a ele linha por linha, traço por traço, e representando completamente a sua forma e figura. De fato, ser um cristão é ser transformado à semelhança e similitude do evangelho, nossas almas correspondendo a ele, obedecendo a ele, conformadas a ele - entendimento, vontade, afeições, intenções, princípios, ações, tudo de acordo com aquela forma de doutrina.
[2] “...libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça” (v. 18), “...servos de Deus” (v. 22). A conversão é, em primeiro lugar, estar livre de servir ao pecado; é a retirada daquele jugo, decidindo não ter mais nada a ver com ele. Em segundo lugar, sujeição de nós mesmos ao serviço de Deus e da justiça, a Deus como nosso Senhor e à justiça como nosso trabalho. Quando somos libertos do pecado, não significa que podemos viver segundo o nosso próprio desejo e ser nossos próprios mestres; não, quando somos libertos do Egito, nós, como Israel, somos levados para a montanha santa, para receber a lei, e ali somos trazidos para dentro do vínculo da aliança. Observe: Nós não podemos nos tornar servos de Deus antes de estar livres do poder e do domínio do pecado; não podemos servir a dois senhores tão diretamente opostos como são Deus e o pecado. Nós devemos, como o filho pródigo, abandonar o trabalho servil do cidadão do campo antes de podermos voltar à casa do nosso Pai.
(3) Que compreensão eles tinham agora de sua obra e seu caminho de outrora. Ele apela para eles mesmos (v. 21), se eles tinham constatado que servir ao pecado era:
[1] Um serviço infrutífero: “E que fruto tínheis, então... ?”. Alguma vez obtivestes alguma coisa dele? Sentai e fazei os cálculos, avaliai os lucros, que frutos tivestes então? Além dos prejuízos futuros, que serão infinitamente grandes, os lucros do pecado já no presente não são dignos de menção. Que fruto? Nada que mereça ser chamado de fruto. O prazer e o lucro que se obtém do pecado no presente não merecem ser chamados de frutos; são apenas palhas, arar na iniquidade, semear a vaidade e colher essas mesmas coisas. [2] E um serviço inconveniente; é aquilo do qual agora nos envergonhamos – nos envergonhamos da insensatez, nos envergonhamos da imundície dele. A vergonha veio ao mundo com o pecado e continua sendo seu produto certo - seja a vergonha do arrependimento, ou, se não for isso, a vergonha e o desprezo eternos. Quem fará obstinadamente aquilo de que cedo ou tarde tem certeza que se arrependerá?
5. Ele argumenta a partir do fim de todas essas coisas. E prerrogativa das criaturas racionais que elas sejam dotadas de um poder de pensar antecipadamente, são capazes de olhar para frente, considerando o fim último das coisas. Para nos persuadir que saiamos do pecado para a santidade aqui são colocados diante de nós a bênção e a maldição, o bem e o mal, a vida e a morte; e devemos escolher.
(1) O fim do pecado é a morte (v. 21): “...o fim delas é a morte”. Embora o caminho possa parecer prazeroso e convidativo, o fim, porém, é funesto: no final ele morde; no fim haverá amargura. “O salário do pecado é a morte” (v. 23). A morte convém a um pecador quando ele peca, assim como o salário convém a um trabalhador que fez o seu trabalho. Isso é verdade em relação a qualquer pecado. Não há pecado que, por sua própria natureza, seja venial. A morte é o salário para o menor pecado. O pecado é aqui representado como o trabalho pelo qual o salário é pago, ou como o patrão por quem o salário é pago; todos os que são servos do pecado e realizam o trabalho do pecado devem esperar receber esse pagamento.

(2) Se o fruto for para a santidade, se houver um princípio ativo de verdadeira e crescente graça, o fim será a vida eterna - um fim verdadeiramente feliz! Embora o caminho seja íngreme, embora seja estreito, espinhoso, difícil, no fim, a vida eterna é certa. Desse modo, “...o dom gratuito de Deus é a vida eterna” (v. 23). O céu é a vida, consistindo na visão e desfrute de Deus; e é a vida eterna, sem nenhuma fraqueza e nenhuma morte para pôr fim a ela. Este é o dom de Deus. A morte é o salário do pecado, ela vem como punição, mas a vida é um dom que vem como favor. Os pecadores merecem o inferno, mas os santos não merecem o céu. Não existe relação entre a glória do céu e a nossa obediência; devemos agradecer a Deus e não a nós mesmos, se chegarmos ao céu. E este dom é por Cristo Jesus, nosso Senhor. É Cristo quem o adquiriu, preparou-o, prepara-nos para ele, preserva-nos para ele. Ele é o Alfa e o Omega, é tudo em todos na nossa salvação.


Fonte: HENRY, Matthew. Matthew Henry’s Commentary on the whole Bible: Acts to Revelation. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Como Cristo amadurece a nossa Fé


















Texto Bíblico: Mt 15:21-28

Introdução

      Uma das formas mais efetivas - e dolorosas - que Deus emprega para o amadurecimento da nossa fé é o sofrimento. Em várias partes das Escrituras encontramos a afirmação dessa verdade:
Pv 17:3 O crisol é para a prata e o forno é para o ouro, mas o Senhor prova o coração.
Lc 8:13 As que caíram sobre as pedras são os que recebem a palavra com alegria quando a ouvem, mas não têm raiz. Crêem durante algum tempo, mas desistem na hora da provação.
Jo 16:33 "Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo".
Rom 5:3 Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança;
Rom 5:4 a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. 
Heb 3:8 não endureçam o coração, como na rebelião, durante o tempo de provação no deserto.
Tg 1:12 Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam.
1 Pe 1:6 Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação.
1 Pe 1:7 Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado. 
      Essa situação se assemelha como quando esmagamos uma flor para sentir o seu aroma em toda a sua intensidade. Assim também Deus nos “esmaga” (a palavra “tribulação”, no grego, traz o sentido de “prensar”, como a prensa em que as azeitonas eram esmagadas) para tirar o melhor de nós. Essa história é um exemplo disso. Quanto mais a mulher foi “esmaga”, tanto mais ela exalava o cheiro suave da fé. 

I. EM BUSCA DE DESCANSO.

1) O motivo da viagem 

      “E, partindo Jesus dali”. Não é a primeira vez que Mateus utiliza essa expressão. Em 4.12, lemos que “ouvindo, porém, Jesus que João fora preso, retirou-se para a Galiléia”. Em 12.14-15, quando os fariseus intentavam matá-lo, diz-nos o evangelista que “Jesus, sabendo isso, retirou-se dali, e acompanharam-no grandes multidões, e ele curou a todas”. Aqui, logo após o enfrentamento com os fariseus sobre a tradição dos anciãos quanto à pureza ritual e moral, ele foi para as regiões de Tiro e Sidom. Jesus, no momento de perigo, abandona momentaneamente o campo, não a missão, para continuar em outro lugar a sua obra de salvação (Mt 10:23). 

2) O propósito da viagem

      “Foi para as partes de Tiro e de Sidom”. Depois de sua questão com os escribas e fariseus, Jesus viajou em direção ao norte, para a costa - “região ou “distrito” - de Tiro e Sidom, duas cidades comerciais poderosas. Essas duas cidades estavam localizadas na Fenícia (atualmente, o Líbano) que era um território gentílico (BEACON, 2006). Esta passagem mostra a Jesus procurando um período de tranquilidade antes do alvoroço do fim. Não se trata em nenhum sentido de uma fuga de Jesus; é uma imagem de Jesus adquirindo forças e preparando-se, Ele e seus discípulos, para a luta final e decisiva que tinha pela frente (CARSON, 2010).
      Mesmo entre os impuros gentios havia fé verdadeira. “O sentido supremo desta passagem é que preanuncia a propagação do evangelho a todo mundo; mostra-nos o princípio do fim de todas as barreiras” (Ef 2.11-22) (BARCLAY, p. 549, 1975).

II. O DESCANSO INTERROMPIDO POR UM ENCONTRO.

O texto nos diz que ela era grega quanto à língua e cultura, siro-fenícia quanto a origem. O uso do termo cananeia por Mateus lembra-nos que ela é parte dos antigos inimigos do povo de Deus. Mateus parece estar interessado em destacar a origem gentílica da mulher para sublinhar o mundo gentílico como distinto do mundo do povo da aliança. O contraste fica claro quando olhamos para a perícope anterior. Onde deveria haver fé e conhecimento há incredulidade, e onde deveria haver incredulidade e ignorância há fé e reconhecimento. Ainda que a mulher tivesse vindo antes do tempo, ela figura o anúncio da chegada da salvação aos gentios. Para Carson:
A perícope não só registra que Jesus se afastou da oposição dos fariseus e dos mestres da lei (cf. 14.13), mas também contrasta a forma como eles se dirigem ao Messias com o modo como a mulher se dirige. Eles pertencem ao povo da aliança, mas ofendem-se com a conduta dos discípulos de Jesus, desafiam a autoridade dele e são tão falhos na compreensão das Escrituras que mostram não ser plantas semeadas pelo Pai celestial. Mas essa mulher pagã, descendente de antigos inimigos e sem direito ao Deus da aliança; no fim, aproxima-se do Messias judeu e com grande fé pede apenas por graça, e seu pedido é atendido (cf. 8.5-13) (CARSON, 2010, p. 413).
      Vejamos agora os detalhes do encontro.

1) A SÚPLICA DA MULHER

Como essa mulher sabia que Jesus estava naquelas regiões? Segundo Mateus 4 e Marcos 3.8, muitas pessoas daquelas regiões haviam estado em Israel no início do ministério de Jesus, na Galileia, para serem curadas. Entretanto, Mateus não se preocupou em nos informar esse detalhe aqui. Podemos supor que o encontro dela com Cristo era parte da inciativa de Deus em salvar os pecadores? Um encontro proporcionado pela graça de Deus? À luz das Escrituras não seria desarrazoado supor isso, visto que Deus toma a iniciativa da nossa Salvação. Veja, agora, o conteúdo dessa primeira súplica:

a) A intensidade da súplica – “clamava”. Gritar, clamar, aclamar, gritar com alguém.

b) A invocação da súplica – “Senhor, filho de Davi”. A mulher parece acreditar que destacar a messianidade e realeza de Jesus lhe proporcionaria atenção imediata. O que ela esperava era ser tratada como parte do povo da aliança? Seriam essas apenas palavras lisonjeiras, destituídas de fé verdadeira?

c) A urgência da súplica – “tem misericórdia”. Aqui ela busca a compaixão de Jesus. A palavra no grego traz o sentido de urgência, um pedido cujo atendimento não poderia ser protelado.

d) A solidariedade da súplica – “de mim; minha filha”. Quando intercedemos por alguém a necessidade do outro é também a nossa. É chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram.

e) A identificação do problema na súplica – a filha dela estava miseravelmente endemoninhada. Veja o discernimento que ela apresenta ao identificar o problema da filha como de origem espiritual.

Na súplica da mulher o cheiro suave da fé começa a exalar. No entanto, Jesus vai esmagá-la para que o cheiro possa se propagar na sua mais intensa possibilidade. A resposta de Jesus, a seguir, não tem a intenção de repeli-la ou destruí-la, mas amadurece-la. Até aqui temos uma fé de ouvir falar. Jesus quer que ela exclame como Jó: Agora meus olhos te veem.

2) O AMADURECIMENTO DA FÉ DA MULHER

      A resposta de Jesus é gradual. E como já dissemos tinha a intenção de amadurecer a fé da mulher. A pergunta que vai guiar nossa abordagem é como Jesus amadurece a nossa fé? Ele faz isso de diversas maneiras. Vejamos:

a) Através da prova de um silêncio aparente

“Mas ele não lhe respondeu palavra” (v. 23)

O exemplo de Jó parece ser proverbial, nesse caso. Deus só fala ao patriarca no capítulo 38, não para responder as suas perguntas, mas para lançar por terra a sua sabedoria. O silêncio de Jesus – e o de Deus – não significa indiferença, desinteresse ou abandono. A fé que Jesus pretende que ela possua deve ser persistente.

b) Através da prova de uma rejeição aparente

“Mt 15:23b E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que vem gritando atrás de nós. Mt 15:24 E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”. 

      Carr expressa corretamente o propósito de Cristo: “Por meio de sua recusa, Jesus estava testando a fé dessa mulher, para poder torná-la mais pura e profunda” (BEACON, 2006, p. 115). Note duas coisas aqui:

(i) O pedido dos discípulos. “E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que vem gritando atrás de nós”. O que eles parecem estar pedindo é que Jesus a despeça logo atendendo-a.

(ii) A resposta de Jesus aos discípulos e à mulher. “E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”. Note:

a. A origem da sua missão – “fui enviado”.

b. Os destinatários da sua missão – “casa de Israel”.

c. A condição espiritual dos destinatários da sua missão – “ovelhas perdidas”.

      Aqui, a resposta de Jesus revela que Ele pretendia que ela tivesse conhecimento do propósito inicial da sua missão. Nesse estágio da redenção a sua missão estava voltada para os seus, mesmo que o texto anterior já nos dê uma pista de que os seus o rejeitaram. O plano de Deus envolvia tanto os judeus quanto os gentios. Carson sublinha o seguinte:
Verdade, ele era “Filho de Davi”, como dissera a mulher; mas isso não dava a ela o direito de desfrutar os benefícios da aliança feita com os judeus. O reino deve ser oferecido primeiro a eles. O pensamento é semelhante a João 4.22: “A salvação vem dos judeus”. A mulher samaritana, como essa mulher cananeia, teve de reconhecer isso — mesmo que venha o tempo em que a verdadeira adoração transcenda essas categorias (Jo 4.23-26) (CARSON, 2010, p. 417).
      O segundo teste visa levar a mulher nutrir uma fé baseada numa teologia correta. A fé baseada numa teologia ruim acabará por nos afastar de Jesus em vez de nos fazer aproximar dele.

c) Através da prova de um insulto aparente 

      A terceira resposta de Jesus é provocada por uma súplica ainda mais desesperada. Destacamos algumas coisas:

(i) A adoração da mulher. “Então, chegou ela e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me”. 

(ii) A resposta de Jesus. “Ele, porém, respondendo, disse: Não é bom pegar o pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos”. A precedência dos filhos de Israel sobre os gentios é destacada por essas palavras. A mulher precisava entender a distinção entre judeu e gentio.

(iii) A resposta da mulher: E ela disse: “Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores”.

a. Ela concorda com Jesus - “Sim, Senhor”. Ela parece ter entendido a distinção entre judeu e gentio.

b. Ela usa de sabedoria no trato com Jesus – “mas também (até mesmo) os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores”. “Nosso Salvador não estava se referindo aos cães selvagens, violentos, imundos e sem dono que perambulavam pelas cidades do Oriente, mas aos cachorrinhos de estimação nos quais as crianças estão interessadas e com os quais elas brincam” (BEACON, 2006, 115). 

c. Ela apresenta uma fé madura no trato com Jesus - “mas também (até mesmo) os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores”. Mas uma vez Carson é certeiro:
Ela não argumenta que sua necessidade a torna uma exceção, ou que tinha direito às misericórdias garantidas pela aliança a Israel, ou que os caminhos misteriosos da eleição e justiça divinas são injustos. Ela abandona a menção a Jesus como “Filho de Davi” e simplesmente pede ajuda; “e ela está confiante que mesmo que não seja designada para se assentar como convidada à mesa do Messias, o ‘cachorrinho’ gentio que, todavia, ela é, tem pelo menos permissão de receber as migalhas das misericórdias não incluídas na aliança de Deus” (Tasker; cf. Schlatter) (CARSON, 2010, p. 417).
d) O resultado da prova

“Então, respondeu Jesus e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé. Seja isso feito para contigo, como tu desejas. E, desde aquela hora, a sua filha ficou sã”. Destacamos quatro coisas:

(i) A fé da mulher é reconhecida. “Ó mulher, grande é a tua fé”.

(ii) A fé da mulher é elogiada. “grande é a tua fé”.

(iii) A fé da mulher é recompensada. “Seja isso feito para contigo, como tu desejas”.

(iv) A fé da mulher é confirmada. “E, desde aquela hora, a sua filha ficou sã”. 

APLICAÇÃO

      Esse incidente foi bem resumido por G. Campbell Morgan: “Contra o preconceito, ela veio; contra o silêncio, perseverou; contra a exclusão, prosseguiu; e contra a rejeição, ela venceu” (BEACON, 2006, p.115).

Bibliografia

CARSON, D. A. O comentário de Mateus. Tradução Lena Aranha & Regina Aranha. São Paulo: Shedd Publicações, 2010.

EARLE, Ralph. O Comentário Bíblico Beacon. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006.

BARCLAY, William. O Evangelho de Mateus. Philadelphia: Imprensa de Westminster, 1975.

O título e a divisão da segunda parte do sermão foram tomados do sermão pregado por Joel Beeke na Primeira Igreja Batista Bíblica do Rio de Janeiro. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=28nk5A8IXPk. Acesso em: 03 jan 2017.

COMO ERAM AS MANIFESTAÇÕES DO ESPÍRITO SANTO NO ANTIGO E NO NOVO TESTAMENTO?

O Evangelho de João relata uma passagem da vida de Jesus que leva algumas pessoas a entender que o Espírito Santo não agia entre o povo d...