Por Matthew Henry
II. Os motivos ou argumentos aqui usados para mostrar a
necessidade de santificação.
Por natureza, existe tal antipatia em nossos corações em relação à
santidade que não é nada fácil submetê-los a ela; é a obra do Espírito, que
convence por persuasões tais como essas que se estabelecem na alma. 1. Ele
argumenta a partir de nossa conformidade sacramental com Jesus Cristo. Nosso
batismo, com seu motivo e finalidade, traz em si uma grande razão pela
qual devemos morrer para o pecado e viver para a justiça. Assim, devemos
aproveitar nosso batismo como um freio para nos manter longe do pecado, como um
aguilhão de constrangimento para nos estimular ao dever. Observe este raciocínio:
(1) Em geral, nós estamos “...mortos para o pecado”, isto é, em confissão e em
obrigação. Nosso batismo significa nossa ruptura com o reino do pecado. Nós
confessamos não ter mais nada a ver com o pecado. Estamos mortos para o pecado
ao participarmos da virtude e do poder de matá-lo, e por nossa união com Cristo
e nosso interesse nele, em e por quem o pecado está morto. Tudo isso será em
vão, se persistirmos no pecado; nós contradizemos uma confissão, violamos uma
obrigação, retornamos àquilo para o que estávamos mortos, como fantasmas
errantes, em relação a que nada é mais inconveniente e absurdo. Pois (v. 7)
“...aquele que está morto está justificado do pecado”; isto é, aquele que está
morto para ele está livre do seu controle e do seu domínio, como o servo morto está
livre de seu senhor (Jo 3.19). Então, seremos tão tolos a ponto de retornar
para aquela escravidão da qual estamos libertos? Ao estamos libertos do Egito,
vamos querer voltar para ele novamente?
(2) Em particular, “...em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte” (v. 3).
Nós fomos batizados eis Christon em, Cristo, como em 1 Coríntios 10.2, eis
Mosen - em Moisés. O batismo nos liga a Cristo, ele nos liga como aprendizes a
Cristo como nosso professor; ele significa a nossa submissão a Cristo como o
nosso soberano. O batismo é externa ansa Christi - a pegadeira externa de
Cristo, pela qual Cristo se apodera dos homens e esses se oferecem a Ele.
Particularmente, fomos batizados em sua morte, participando dos privilégios
adquiridos por ela, e em uma obrigação, tanto de nos sujeitar ao desígnio de
sua morte, que era nos redimir de toda iniquidade, quanto de nos conformar ao
padrão de sua morte, para que, como Cristo morreu pelo pecado, nós também
morramos para o pecado. Essas são a confissão e a promessa de nosso batismo e não
faremos bem se não agirmos de acordo com essa confissão e confirmarmos essa
promessa.
[1] Nossa
conformidade à morte de Cristo nos obriga a morrer para o pecado; por meio
disso, nós conhecemos “...a comunicação de suas aflições” (Fp 3.10). Assim, se diz
de nós aqui que somos “...plantados juntamente com ele na semelhança da sua
morte” (v. 5), to homoiomati, não somente uma conformidade, mas uma
conformação, como a planta enxertada é plantada juntamente na semelhança do
broto, de cuja natureza ela participa. Plantar é para a vida e a frutificação:
somos plantados na videira à semelhança de Cristo, cuja semelhança nós devemos
evidenciar na santificação. Nosso credo concernente a Jesus Cristo é, entre
outras coisas, que Ele foi crucificado, morto e sepultado; então o batismo é
uma conformidade sacramental com Ele em cada um desses pontos, como o apóstolo
aqui observa. Em primeiro lugar, “...nosso velho homem foi com ele crucificado”
(v. 6). A morte de cruz era uma morte lenta; o corpo, depois que era pregado à cruz,
sentia muita dor e muito esforço, mas, embora demorasse para o moribundo
expirar, era uma morte certa; tal é a mortificação do pecado nos crentes. Era
uma morte amaldiçoada (G13.13). O pecado morre como um malfeitor condenado à
destruição; ele é algo amaldiçoado. Embora seja uma morte lenta, contudo o fato
de ser um velho homem que está sendo crucificado deve acelerá-la, pois ele não
está no auge de sua força, mas na decadência; o que foi tornado velho e se
envelhece perto está de acabar (Hb 8.13). Com ele crucificado - synestaurothe,
não com respeito ao tempo, mas à causalidade. A crucificação de Cristo por nós
influencia na crucificação do pecado em nós. Em segundo lugar, nós estamos
mortos com Cristo (v. 8). Cristo foi obediente até a morte; podemos dizer que,
quando Ele morreu, nós morremos com Ele, assim como nossa morte para o pecado é
um ato de conformidade, tanto à intenção quanto ao exemplo da morte de Cristo
para o pecado. O batismo significa e sela a nossa união com Cristo, o fato de
sermos enxertados em Cristo, de maneira que estamos mortos com Ele e empenhados
em não termos mais a ver com o pecado do que Ele tinha. Em terceiro lugar,
“...fomos sepultados com ele pelo batismo...” (v. 4). Nossa conformidade está
completa. Pela confissão, nós estamos totalmente desligados de toda relação e
comunhão com o pecado, como aqueles que estão sepultados estão completamente
desligados de todo o mundo; não apenas não pertencem aos vivos, mas não estão
mais entre eles, não tendo mais nada a ver com eles. Assim devemos ser, como
Cristo foi, separados do pecado e dos pecadores. Nós estamos sepultados, a
saber, pela confissão e pela obrigação: assim confessamos ser e somos obrigados
a ser assim; esse foi o nosso pacto e o nosso engajamento no batismo; nós somos
selados para ser do Senhor, portanto, separados do pecado. Confesso que não
consigo entender por que esse sepultamento no batismo deva aludir tanto a algum
costume de mergulhar na água por ocasião do batismo, mais do que nossa
crucificação e morte batismais devam ter qualquer conotação desse tipo. Está claro
que não é o sinal, mas a coisa significada no batismo que o apóstolo chama aqui
de ser sepultado com Cristo, e a expressão do sepultamento alude ao sepultamento
de Cristo. Como Cristo foi sepultado, para que Ele pudesse ressuscitar para uma
vida nova e celestial, dessa forma somos sepultados no batismo, isto é,
separados da vida de pecado, para que possamos ressuscitar para uma nova vida
de fé e amor.
[2] Nossa
conformidade com a ressurreição de Cristo nos leva a ressuscitar para novidade
de vida. Essa é “...a virtude da sua ressurreição”, a qual Paulo estava tão
desejoso de conhecer (Fp 3.10). Cristo “...ressuscitou dos mortos pela glória
do Pai”, isto é, pelo poder do Pai. O poder de Deus é a sua glória; é poder
glorioso (Cl 1.11). Então, no batismo somos obrigados a nos conformar àquele
padrão, a sermos plantados na “...semelhança... da sua ressurreição” (v. 5), a
vivermos com Ele (v. 8; veja Cl 2.12). A conversão é a primeira ressurreição da
morte do pecado para a vida de justiça; e essa ressurreição é semelhante à ressurreição
de Cristo. Parece que essa conformidade que existe entre os santos e a
ressurreição de Cristo é insinuada na ressurreição de muitos corpos dos santos,
a qual, embora mencionada antes como se a antecipasse, supõe-se que tenha sido
simultânea à de Cristo (Mt 27.52). Todos nós temos ressuscitado com Cristo. Em
duas coisas, nós devemos corresponder à ressurreição de Cristo: em primeiro lugar,
Ele levantou-se para não morrer mais (v. 9). Nós lemos de muitos outros que
foram ressuscitados dos mortos, mas para morrer novamente; mas, quando Cristo
ressuscitou, o fez para nunca mais morrer; por isso Ele deixou sua mortalha
para trás, enquanto que Lázaro, que devia morrer novamente, saiu com ela, como
alguém que a usaria de novo; mas sobre Cristo a morte não mais terá domínio. De
fato, Ele esteve morto, mas está vivo, e tão vivo que viverá para sempre (Ap
1.18). Assim, nós devemos levantar do túmulo do pecado para jamais retornar a
ele, nem para termos qualquer participação nas obras das trevas, tendo
abandonado aquele túmulo, aquela terra das trevas, como também as próprias
trevas. Em segundo lugar, Ele levantou-se para viver para Deus (v. 10), para
viver uma vida celestial, para receber aquela glória que lhe foi apresentada. Outros
que foram ressuscitados dos mortos retornaram à mesma vida que, em todos os
aspectos, tinham vivido antes; mas isso não ocorreu com Cristo: Ele ressuscitou
para deixar o mundo. “E eu já não estou mais no mundo” (Jo 13.1; 17.11). Ele
levantou-se para viver para Deusy isto é, para interceder e governar, e tudo
para a glória do Pai. Dessa forma, nós devemos ressuscitar para viver para Deus;
isso é o que ele chama de “...novidade de vida” (v. 4), viver a partir de
outros princípios, por outras regras, com outros objetivos, além daqueles em
que temos vivido. Uma nova vida é uma vida devotada a Deus; antes o ego era o
comandante e a mais alta finalidade que tínhamos, mas agora é Deus. Viver de
fato é viver para Deus, tendo nossos olhos sempre nele e fazendo dele o centro
de todas as nossas ações.
2. Ele argumenta
a partir das preciosas promessas e privilégios da nova aliança (v. 14). Pode-se
objetar que não podemos vencer e subjugar o pecado; que isso é inevitavelmente
muito difícil para nós: “Não”, ele diz, “vós lutais com um inimigo com que se
pode lidar e que pode ser subjugado se permanecerdes em vossa posição e com as
armas em punho; ele é um inimigo que já está derrotado e confundido; existe
força armazenada na aliança da graça para a vossa assistência, se simplesmente quiserdes
utilizá-la. O pecado não terá domínio”. As promessas de Deus para nós são mais
poderosas e efetivas para a mortificação do pecado do que as nossas promessas
para Deus. O pecado pode se agitar dentro de um crente e criar muito transtorno
para ele, mas não terá domínio; o pecado pode fustigá-lo, mas não governará
sobre ele. “...Pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça”, não
estamos sob a lei do pecado e da morte, mas sob a lei do espírito de vida que
está em Cristo Jesus: somos estimulados por princípios diferentes daqueles que
nos estimulavam: novos senhores, novas leis. Ou, não estamos sob a aliança das
obras, que exige tijolos e não dá palha, que condena pela menor falha, que procede
da seguinte forma: “Se fizerdes isto vivereis, se não o fizerdes, morrereis”;
mas sob a aliança da graça, que aceita a sinceridade como a nossa perfeição
evangélica, que não exige nada senão o que ela dá força para realizar, o que é
aqui bem ordenado, que toda transgressão na aliança não nos excluirá dela, e
especialmente que ela não deixa a nossa salvação por nossa própria conta, mas a
coloca nas mãos do Mediador, o qual por nós se encarrega de que o pecado não
terá domínio sobre nós; o próprio que o havia condenado e o destruirá; de
maneira que se procurarmos a vitória, seremos mais do que vencedores. Cristo
governa pelo cetro dourado da graça e Ele não permitirá que o pecado tenha
domínio sobre aqueles que desejam submeter-se ao seu governo. Essa é uma
palavra muito confortadora para todos os verdadeiros crentes. Se estivéssemos
sob a lei, estaríamos perdidos, pois a lei amaldiçoa aos que não cumprem todos
os mandamentos; mas estamos sob a graça, graça que aceita a pessoa disposta,
que não é severa em destacar o que fazemos de errado, que deixa lugar para o
arrependimento, que promete o perdão sob o arrependimento, e, para uma pessoa
ingénua, que motivo pode ser mais forte do que este para não ter nada a ver com
o pecado? Pecaremos contra tanta bondade? Abusaremos de tal amor? Talvez alguns
possam tirar veneno dessa flor, e de forma insincera usar isso como
encorajamento para o pecado. Veja como o apóstolo inicia tal pensamento (v.15):
“Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo
nenhum!” O que pode ser mais perverso e mau do que aproveitar a ocasião de extraordinárias
expressões de gentileza e de boa vontade de um amigo para afrontá-lo e
ofendê-lo? Rejeitar tal misericórdia, cuspir no rosto de tal amor, é o que,
entre duas pessoas, todo o mundo condenaria.
3. Ele argumenta
a partir da evidência que essa pode ser a nossa situação, a favor ou contra nós
(v. 16): “...a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos
daquele a quem obedeceis”. Todos os filhos dos homens são servos de Deus ou
servos do pecado; essas são as duas famílias. Então, para sabermos a qual
dessas famílias pertencemos, devemos indagar a qual desses senhores prestamos
obediência. Nossa obediência às leis do pecado servirá de evidência contra nós de
que pertencemos àquela família cujo destino é a morte. Como, do contrário, a
nossa obediência às leis de Cristo evidenciará a nossa pertença à família de
Cristo.
4. Ele argumenta
a partir da pecaminosidade anterior deles, nos versículos 17-21, onde podemos
observar: (1) O que outrora eles foram e fizeram. Temos a necessidade contínua
de sermos lembrados de nosso estado anterior. Paulo lembra constantemente de
seu próprio estado e da situação anterior daqueles para quem ele escreve.
[1] “...éreis
servos do pecado”. Aqueles que agora são servos de Deus fariam bem em
lembrar-se do tempo quando eram servos do pecado, isso para mantê-los humildes,
arrependidos e vigilantes e para estimulá-los no serviço de Deus. E uma
vergonha para o serviço do pecado que milhares de pessoas têm abandonado o
serviço e tirado o jugo; e jamais alguém que sinceramente o deixou, e
entregou-se a si mesmo ao serviço de Deus, retornou ao trabalho servil
anterior. “Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, isto é, embora
tendo sido assim, agora tendes obedecido. Fostes assim - graças a Deus que nós
podemos falar disso como algo passado: fostes assim, porém não sois mais assim.
Mais ainda, o fato de terdes sido anteriormente assim tende muito a exaltar a
misericórdia e a graça divinas na feliz mudança. Graças a Deus que a
pecaminosidade anterior seja um contraste e estímulo para a vossa santidade
presente”.
[2] “...como
apresentastes os vossos membros para servirem à imundícia e à maldade para a
maldade...” (v. 19). E a miséria de um estado pecaminoso que faz com que o corpo
se torne um escravo para pecar, e cuja escravidão não poderia ser mais vil e
opressiva, como aquela do filho pródigo, que foi enviado ao campo para alimentar
os porcos. Apresentastes. Os pecadores são voluntários em servir ao pecado. O
diabo não poderia forçá-los ao serviço se eles não se entregassem à tarefa.
Isso justificará Deus ao destruir os pecadores, que se venderam a si mesmos para
praticarem a maldade: são responsáveis por seus atos e obras. A maldade para a
maldade. Cada ato pecaminoso fortalece e confirma o hábito pecaminoso: à
maldade como a obra cujo salário é a maldade. Plante o vento e colha a
tempestade; quanto mais piorar, mais endurecido ficará. Ele diz isso “...como
homem”, isto é, ele procura uma comparação com aquilo que é comum entre os
homens, como a mudança de serviços e patrões.
[3] “...estáveis
livres da justiça” (v. 20); não livres por nenhuma liberdade concedida, mas por
uma liberdade tomada, que é licenciosidade: “Vivíeis vazios daquilo que é bom;
vazios de quaisquer impulsos, inclinações e princípios bons; vazios de toda
sujeição à lei e à vontade de Deus, de toda conformidade à sua imagem; e
estáveis muito satisfeitos com isso, como se fosse autonomia e liberdade; mas
uma liberdade para longe da justiça é o pior tipo de escravidão.”
(2) Como ocorreu
a abençoada mudança, e em que ela consiste.
[1]
“...obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues” (v. 17).
Isso descreve a conversão, o que ela é; é a nossa conformidade com, e submissão
ao evangelho que nos foi entregue por Cristo e seus ministros (margem). A que
fostes entregues, eis hon paredothete - para a qual fostes entregues. E assim, observe,
em primeiro lugar, a regra da graça, a forma de doutrina - typon didaches. O
evangelho é a grande regra, tanto da verdade como da santidade; é o selo no qual
a graça está impressa; é o modelo das sãs palavras (2 Tm 1.13). Em segundo
lugar, a natureza da graça, que é a nossa conformidade àquela regra.
1. E para obedecer
de coração. O evangelho não é apenas uma doutrina que deva ser crida, mas
obedecida, e de coração, o que denota a sinceridade e a veracidade daquela obediência;
não apenas na confissão, mas em poder – do coração, da parte mais íntima, que
nos controla.
2. E para ser
colocado dentro dele, como dentro de uma forma, como a cera é colocada na
impressão do selo, correspondendo a ele linha por linha, traço por traço, e
representando completamente a sua forma e figura. De fato, ser um cristão é ser
transformado à semelhança e similitude do evangelho, nossas almas
correspondendo a ele, obedecendo a ele, conformadas a ele - entendimento, vontade,
afeições, intenções, princípios, ações, tudo de acordo com aquela forma de
doutrina.
[2]
“...libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça” (v. 18), “...servos
de Deus” (v. 22). A conversão é, em primeiro lugar, estar livre de servir ao
pecado; é a retirada daquele jugo, decidindo não ter mais nada a ver com ele.
Em segundo lugar, sujeição de nós mesmos ao serviço de Deus e da justiça, a
Deus como nosso Senhor e à justiça como nosso trabalho. Quando somos libertos do
pecado, não significa que podemos viver segundo o nosso próprio desejo e ser
nossos próprios mestres; não, quando somos libertos do Egito, nós, como Israel,
somos levados para a montanha santa, para receber a lei, e ali somos trazidos
para dentro do vínculo da aliança. Observe: Nós não podemos nos tornar servos
de Deus antes de estar livres do poder e do domínio do pecado; não podemos
servir a dois senhores tão diretamente opostos como são Deus e o pecado. Nós
devemos, como o filho pródigo, abandonar o trabalho servil do cidadão do campo
antes de podermos voltar à casa do nosso Pai.
(3) Que compreensão
eles tinham agora de sua obra e seu caminho de outrora. Ele apela para eles
mesmos (v. 21), se eles tinham constatado que servir ao pecado era:
[1] Um serviço
infrutífero: “E que fruto tínheis, então... ?”. Alguma vez obtivestes alguma
coisa dele? Sentai e fazei os cálculos, avaliai os lucros, que frutos tivestes
então? Além dos prejuízos futuros, que serão infinitamente grandes, os lucros
do pecado já no presente não são dignos de menção. Que fruto? Nada que mereça
ser chamado de fruto. O prazer e o lucro que se obtém do pecado no presente não
merecem ser chamados de frutos; são apenas palhas, arar na iniquidade, semear a
vaidade e colher essas mesmas coisas. [2] E um serviço inconveniente; é aquilo
do qual agora nos envergonhamos – nos envergonhamos da insensatez, nos
envergonhamos da imundície dele. A vergonha veio ao mundo com o pecado e
continua sendo seu produto certo - seja a vergonha do arrependimento, ou, se
não for isso, a vergonha e o desprezo eternos. Quem fará obstinadamente aquilo
de que cedo ou tarde tem certeza que se arrependerá?
5. Ele argumenta
a partir do fim de todas essas coisas. E prerrogativa das criaturas racionais
que elas sejam dotadas de um poder de pensar antecipadamente, são capazes de
olhar para frente, considerando o fim último das coisas. Para nos persuadir que
saiamos do pecado para a santidade aqui são colocados diante de nós a bênção e
a maldição, o bem e o mal, a vida e a morte; e devemos escolher.
(1) O fim do
pecado é a morte (v. 21): “...o fim delas é a morte”. Embora o caminho possa
parecer prazeroso e convidativo, o fim, porém, é funesto: no final ele morde;
no fim haverá amargura. “O salário do pecado é a morte” (v. 23). A morte convém
a um pecador quando ele peca, assim como o salário convém a um trabalhador que
fez o seu trabalho. Isso é verdade em relação a qualquer pecado. Não há pecado
que, por sua própria natureza, seja venial. A morte é o salário para o menor
pecado. O pecado é aqui representado como o trabalho pelo qual o salário é
pago, ou como o patrão por quem o salário é pago; todos os que são servos do
pecado e realizam o trabalho do pecado devem esperar receber esse pagamento.
(2) Se o fruto
for para a santidade, se houver um princípio ativo de verdadeira e crescente graça,
o fim será a vida eterna - um fim verdadeiramente feliz! Embora o caminho seja
íngreme, embora seja estreito, espinhoso, difícil, no fim, a vida eterna é
certa. Desse modo, “...o dom gratuito de Deus é a vida eterna” (v. 23). O céu é
a vida, consistindo na visão e desfrute de Deus; e é a vida eterna, sem nenhuma
fraqueza e nenhuma morte para pôr fim a ela. Este é o dom de Deus. A morte é o
salário do pecado, ela vem como punição, mas a vida é um dom que vem como
favor. Os pecadores merecem o inferno, mas os santos não merecem o céu. Não existe
relação entre a glória do céu e a nossa obediência; devemos agradecer a Deus e
não a nós mesmos, se chegarmos ao céu. E este dom é por Cristo Jesus, nosso
Senhor. É Cristo quem o adquiriu, preparou-o, prepara-nos para ele,
preserva-nos para ele. Ele é o Alfa e o Omega, é tudo em todos na nossa
salvação.
Fonte: HENRY, Matthew.
Matthew Henry’s Commentary on the whole Bible: Acts to Revelation. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.