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Fonte: http://novotempo.com/amiltonmenezes/2013/10/20/no-caminho-da-obediencia-e-santificacao/ |
Por Matthew Henry
Romanos 6.1-14
E nítida a transição feita pelo autor, que junta esse discurso com o anterior: “Que diremos, pois? (v. 1). Que uso faremos dessa doutrina suave e consoladora? Praticaremos o mal para que venha o bem, como dizem alguns que fazemos? (cap. 3.8). Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante? Devemos então nos encorajar a pecar com muito maior ousadia, porque quanto mais pecado cometermos, mais a graça de Deus será exaltada com o nosso perdão? E assim que devemos usá-la?”. Não, isso é um insulto e o apóstolo se assusta ao pensar nisso (v. 2): “De modo nenhum! Longe de nós pensarmos assim.” Ele trata a objeção como Cristo fez com a pior tentação do diabo (Mt 4.10): vai-te, Satanás”. Aquelas opiniões que dão qualquer base para o pecado ou abrem a porta para a prática de imoralidades, por mais que sejam interpretadas como sendo razoáveis e plausíveis pela pretensão que têm de aumentar a graça livre, devem ser rejeitadas com a maior repugnância; pois a verdade como ela está em Jesus é uma verdade “...segundo a piedade” (Tt 1.1). O apóstolo é bastante completo ao impor a necessidade de santidade neste capítulo, o qual pode ser reduzido a dois temas: As exortações que ele faz em relação à santidade, que mostram a sua natureza; e os motivos ou argumentos que ele usa para reforçá-las, que mostram a sua necessidade.
I. Sobre o primeiro, podemos aqui observar a natureza da santificação, o que ela é e em que consiste.
Em geral, ela compreende duas coisas: mortificação e vivificação - morrer para o pecado e viver para a justiça, expresso alhures por despir-se do homem velho e vestir-se do novo, deixar de praticar o mal e aprender a fazer o bem.
1. Mortificação, despir-se do homem velho; isso é expresso de várias formas.
(1) Nós não devemos mais viver no pecado (v. 2), não devemos ser como temos sido nem praticar o que temos praticado. O tempo passado de nossa vida deve ser o suficiente (1 Pe 4.3). Embora não haja ninguém que viva sem pecado, existem (louvado seja Deus!) aqueles que não vivem no pecado, não vivem nele como em seu hábitat, não fazem negócio com ele: isso é ser santificado.
(2) “...o corpo do pecado seja desfeito” (v.6). A corrupção que habitou em nós é o corpo do pecado, composto de muitas partes e membros, como um corpo. Essa é a raiz na qual o machado deve ser colocado. Nós não devemos apenas parar com os atos do pecado (isso pode ser feito pela influência de restrições externas, ou outras formas de indução), mas devemos enfraquecer e destruir as inclinações e os hábitos viciosos; não apenas tirar os ídolos do santuário, mas tirar do coração os ídolos da iniquidade, “...afim de que não sirvamos mais ao pecado”. A transgressão efetiva certamente é evitada em grande medida pela crucificação e morte da corrupção original. Destrua o corpo do pecado e, então, embora restem cananeus na terra, os israelitas não serão escravos deles. E o corpo do pecado que tem o cetro, que usa a vara de ferro; destrua-o e o jugo será quebrado. Israel oprimido é liberto dos moabitas com a destruição do tirano Eglom.
(3) Nós devemos estar “...mortos para o pecado” (v. 11). Se a morte do opressor significa uma libertação, tanto mais é a morte do oprimido (Jó 3.17,18). A morte traz um documento de consolo para o cansado. Assim, nós devemos estar mortos para o pecado; devemos obedecê-lo, observá-lo, considerá-lo, cumprir a sua vontade não mais do que aquele que está morto faz em relação a seu antigo capataz - sermos tão indiferentes aos prazeres e deleites do pecado quanto um homem que está morto é para com suas diversões anteriores. Aquele que está morto está separado de seus companheiros, convivência, negócios, prazeres, ocupações anteriores, não é o que ele era, não faz o que fazia, não tem o que tinha. A morte provoca uma mudança poderosa; tal mudança de fato a santificação causa na alma, cortando toda correspondência com o pecado.
(4) “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes...” (v. 12). Embora o pecado fique como um fora da lei, embora ele oprima como um tirano, contudo, não deixemos que ele reine como um rei. Não o deixemos fazer leis, nem presidir em conselhos, nem comandar o exército; não permitamos que ele se eleve na alma, de maneira que devamos obedecê-lo. Embora às vezes possamos ser dominados por ele, contudo não devemos permitir jamais sermos obedientes a ele nas suas concupiscências; não permita que desejos pecaminosos sejam como uma lei para você, aos quais você deveria prestar obediência, “...em, suas concupiscências” – en tais epithumiais autou. Refere-se ao corpo, não ao pecado. O pecado está na realidade na satisfação do corpo e na concessão que esse faz a ele. E há um motivo subentendido na frase: “...vosso corpo mortal porque ele é um corpo mortal e está correndo rapidamente para o pó; por isso, não permita que o pecado reine nele. Foi o pecado que tornou mortais os nossos corpos, portanto, não prestemos obediência a tal inimigo.
(5) “...nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade” (v. 13). Os membros do corpo são usados como instrumentos pela natureza corrupta e através deles as inclinações da carne são realizadas; mas não devemos consentir em tal abuso. Os membros do corpo foram criados de forma admirável e maravilhosa; é uma pena que eles sejam os instrumentos demoníacos da iniquidade para o pecado, instrumentos das ações pecaminosas, segundo as disposições pecaminosas. A iniquidade é para o pecado; as ações pecaminosas confirmam e fortalecem os hábitos pecaminosos; um pecado gera outro; é como o avanço das águas; portanto, deixe-o antes que ele se fixe. Talvez os membros do corpo possam ser forçados a servir de instrumentos do pecado quando a tentação prevalece; mas não permita que isso aconteça com eles, não consinta com isso. Esta é uma parte da santificação: a mortificação do pecado.
2. Vivificação, ou viver para a justiça; e o que é isso?
(1) E andar “...em novidade de vida” (v. 4). Novidade de vida supõe novidade de coração, pois do coração procedem as saídas da vida, e não há nenhuma maneira de fazer com que o rio seja de água doce a não ser fazendo com que a fonte seja. Na Escritura, andar é colocado como o curso e padrão da conduta, que deve ser novo. Andar segundo novas regras, em direção a novos fins, a partir de novos princípios. Fazer uma nova escolha do caminho. Escolher novas trilhas nas quais caminhar. As velhas coisas devem passar e tudo se tornar novo. O homem é o que ele não era e faz o que não fazia.
(2) E estar vivo “...para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (v. 11). Conviver com Deus, ter consideração por Ele, deleite nele, preocupação pelo nome dele; em todas as ocasiões, ter a alma voltada em direção a Ele como em direção a algo agradá vel, no qual ela obtém satisfação: isto é estar vivo para Deus. A vida da alma para com Deus é o amor dele reinando no coração. Anima est ubi amat, non ubi animat A alma está mais onde ela ama do que onde ela vive. E ter as afeições e os desejos vivos para com Deus. Ou, vivendo (nossa vida na carne) para Deus, tendo a sua honra e glória como nossa finalidade e a sua palavra e vontade como nossa regra - reconhecê-lo em todos os nossos caminhos e sempre ter os nossos olhos voltados para Ele; isso é viver para Deus. “...em Cristo Jesus, nosso Senhor*’. Cristo é a nossa vida espiritual; não há nenhum viver para Deus a não ser através dele. Ele é o Mediador; não se pode receber nada confortador de Deus, nem existe respeito aceitável para com Deus, a não ser em e através de Jesus Cristo; nenhuma comunicação entre almas pecadoras e um Deus Santo, a não ser mediante o Senhor Jesus. Através de Cristo como o autor e o mantenedor dessa vida; através de Cristo como a cabeça de quem recebemos influência vital; através de Cristo como a raiz pela qual recebemos seiva e nutrição, e assim vivemos. No viver para Deus, Cristo é tudo em todos.
(3) E o “...apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos” (v.13). A própria vida e essência da santidade repousam em nossa própria dedicação ao Senhor, entregando-lhe nosso próprio ser (2 Co 8.5). “Entregai-vos a Ele, não apenas como o vencido entrega-se ao vencedor, porque não pode resistir por mais tempo; mas como a esposa se apresenta ao marido, para quem é seu desejo, como um aluno se apresenta diante do professor, o aprendiz diante de seu mestre, para ser ensinado e guiado por ele. Não entregueis os vossos bens a Ele, mas vós mesmos; nada menos que todo o vosso ser”; parastesate heautous, accommodate vos ipsos Deo - acomodai-vos a Deus; assim Tremellius, a partir do Siríaco. “Não apenas submetei-vos a Ele, mas sujeitai-vos a Ele; não somente apresentai-vos a vós mesmos a Ele definitivamente, mas estai sempre prontos a servi-lo. Apresentai-vos a Ele como a cera para o selo, para assumir qualquer impressão, para serdes, terdes e fazerdes o que lhe agrada”. Quando Paulo disse: “Senhor, que queres que faça?” (At 9.6), foi quando ele se entregou a Deus. Como vivos dentre mortos. Apresentar uma carcaça morta para um Deus vivo não é agradá-lo, mas escarnecer dele: “Apresentai-vos como aqueles que estão vivos e úteis para alguma coisa, um “...sacrifício vivo” (cap. 12.1). 1. A evidência mais certa de nossa vida espiritual é a nossa própria dedicação a Deus. Convém àqueles que vivem dentre os mortos (pode-se entender de uma morte na lei), que são justificados e libertos da morte, entregarem-se a si mesmos àquele que os tem redimido.
(4) E apresentar os nossos “...membros a Deus como instrumentos de justiça ”. Os membros de nosso corpo, quando afastados do serviço do pecado, não devem ficar inativos, mas devem ser usados no serviço de Deus. Quando o homem forte e armado é despojado, deixe aquele que tem direito dividir os despojos. Embora os poderes e faculdades da alma sejam os objetos imediatos da santidade e da justiça, os membros do corpo devem ser instrumentos; o corpo deve estar sempre pronto para servir a alma no serviço de Deus. Assim (v. 19), “...apresentai agora os vossos membros para servirem à justiça para a santificação”. Deixa-os estar sob a direção e o comando da justa lei de Deus, e daquele princípio da própria justiça que o Espírito, como santificador, planta na alma. “...justiça para a santificação”, a qual implica crescimento, progresso, e o fundamento obtido. Como todo ato pecaminoso confirma o hábito pecaminoso e faz a natureza cada vez mais inclinada ao pecado (por isso é dito aqui que os membros de um homem natural servem “...à maldade para a maldade” - um pecado torna o coração mais disposto para outro), também cada ato gracioso confirma o hábito gracioso; um dever nos prepara para outro; e quanto mais fizermos, mais poderemos fazer por Deus. Nossa justiça prestimosa é eis hagiasmon – como uma evidência da santificação.
Fonte: HENRY, Matthew. Matthew Henry’s Commentary on the whole Bible - Volume VI - Acts to Revelation. Rio de Janeiro: CPAD, 2008. p. 339-340.
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