sexta-feira, 3 de julho de 2015

AKOLOUTHEIN - A PALAVRA DO DISCÍPULO

Akolouthein é o verbo grego comum que significa seguir. É uma palavra com muitos usos e muitas associações, e todos eles acrescentam alguma coisa ao seu significado para o seguidor de Cristo, Em primeiro lugar, examinemos o seu uso e o significado no grego clássico.
(i) É a palavra comum e usual para os soldados que seguem seu líder e comandante. Xenofonte (Anabasis 7.53) fala dos líderes que seguiram o líder por quem lutavam.
(ii) É muito comumente usada para o escravo que segue ou aten­de seu senhor. Teofrasto, no seu esboço da personalidade do Homem desconfiado, diz que tal homem obriga seu escravo a andar na sua frente ao invés de segui-lo, conforme o escravo normalmente faria, a fim de ter a certeza de que o escravo não fugirá de repente (Teofrasto; Caracte­res 18.8).
(iii) É comumente usada para seguir ou obedecer ao conselho ou à opinião doutra pessoa. Platão diz que é necessário descobrir aque­les que são capacitados pela natureza para serem líderes na filosofia e no governo, e aqueles que são capacitados pela natureza para serem segui­dores do líder (Platão: República 474c). Algumas pessoas são aptas pa­ra oferecer liderança; outras são aptas apenas para aceitá-la.
(iv) É comumente usada para obedecer às leis. Seguir as leis de uma cidade é aceitá-las como padrões da vida e comportamento.
(v) É freqüentemente usada para seguir o fio ou argumento de um discurso. Quando o argumento chegou a uma posição difícil, Sócra­tes diz: "Vamos, por favor! Procure seguir-me, para ver se podemos obter uma explicação adequada desta questão" (Platão: República 474c).
(vi) Nos papiros, akolouthein é muito usado para ligar-se a alguém a fim de obter algum favor que é desejado. Alguém escreve dando um conselho para outra pessoa: "apegue-se a Ptolário o tempo todo... Apegue-se a ele para você se tornar o seu amigo," A idéia é de seguir uma pessoa até que o favor desejado finalmente seja obtido.
Cada um destes usos pode lançar luz sobre a vida cristã.
O cristão ocupa a posição do soldado que segue Jesus Cristo e que deve imediatamente obedecer a palavra de ordem do seu líder.
O cristão ocupa a posição do escravo que deve obedecer tão logo seu senhor fale.
O cristão deve pedir o conselho e o pronunciamento de Jesus Cristo e deve ter a humildade de segui-lo, seja ele qual for.
O cristão é o homem que deseja a cidadania do Reino dos Céus, e, a fim de recebê-la, deve concordar em viver de acordo com as suas leis.
O cristão é o aprendiz e o ouvinte que deve escutar as palavras de Jesus, e que deve seguir o seu argumento a fim de que possa aprender, dia após dia, cada vez mais da sabedoria que Jesus sempre está querendo lhe ensinar.
O cristão sempre está na posição de quem necessita e deseja o fa­vor, a graça e a ajuda que Jesus Cristo pode-lhe dar, e que segue a Cris­to porque é somente nEle que vê suas necessidades supridas.
Agora, voltemo-nos para o uso de akolouthein no próprio NT. É muito freqüente ali,
(i) É usado para os discípulos que deixaram as suas várias profis­sões e ocupações e seguiram a Jesus. Assim é usado no tocante a Pedro e André (Mc 1.18; cf, Mt 4.20). Ê usado para os dois discípulos de João Batista que seguiram a Jesus quando João apontou para Jesus como o Cordeiro de Deus (Jo 137), Ê usada para a reação dos discípulos depois da pesca milagrosa; deixaram tudo e seguiram a Jesus (Lc 5-11). A decla­ração dos discípulos perto do fim é que deixaram tudo para seguirem a Jesus (Mt 19.27). É usado para os discípulos em potencial, aos quais Jesus disse que deviam pensar de novo antes de se lançarem na aventura de segui-Lo (Mt 8.19; cf. Lc 9,59,61).
(ii) É a palavra que Jesus usava para conclamar os homens para Si. Nos lábios de Jesus é a palavra do desafio. Seu mandamento a Ma­teus é: Segue-me! (Mc 2.14; cf. Lc 5,27; Mt 9.9). É o mandamento de Jesus a Felipe (Jo 1,43). Ê o Seu mandamento final a Pedro (Jo 21. 19, 22). É Seu mandamento, não obedecido, ao jovem rico (Mt 19.21; cf. Lc 18,22), Seu mandamento a todos os Seus seguidores em poten­cial é que tomem a sua cruz e sigam-No (Mc 8,34; 10.21; Mt 1038; 16. 24; Lc 9,23),
(iii)O modo mais comum para esta palavra é a respeito das multi­dões que seguiam a Jesus (Mt 4,25; 8.1; 12.15; 14.13; 19.2; 20.9; 21.9; Mc 3.7; 5.24; 11.9; Jo 6.2). Este uso tem um vínculo bem estreito com o uso do verbo nos papiros para descrever o ato de apegar-se a alguém até que um pedido seja concedido. Às vezes, as multidões seguiram a Jesus para receber Seu poder de cura; às vezes, seguiam-No para escutar as Suas palavras; e às vezes, perto do fim, seguiam-No com admiração para ver o que Lhe aconteceria. Outro exemplo deste uso de akolou­thein no sentido de seguir, a fim de receber um favor acha-se em iVit 9,27, onde se diz que dois cegos seguiam a Jesus a fim de que Ele os curasse.
(iv) Às vezes, o seguir é o resultado de gratidão. Em Mt 20.34 es­tá escrito que os dois cegos seguem a Jesus depois de terem recobrado sua visão; o mesmo se diz a respeito do cego em Lc 18,43; e de Barti­meu em Mc 10,52. Seguiam porque foram atraídos pela gratidão por aquilo que Jesus fizera.
(v) Em Mc 2.15 está escrito que os pecadores seguiam a Jesus. Este é um uso muito relevante. Havia na pessoa de Jesus algo que, segun­do sabiam, satisfaria as suas necessidades; teriam evitado um fariseu, mas seguiam a Jesus, porque sabiam que Ele conhecia e compreendia a situação deles.
Podemos distinguir nestes usos de akolouthein cinco razões para seguir a Jesus.
(i) Os discípulos seguiam a Jesus por causa da pura atração cons­trangedora da Sua conclamação,
(ii) As multidões seguiam a Jesus porque desejavam as coisas que somente Ele lhes podia dar.
(iii) Os pecadores seguiam a Jesus porque sentiam que somente Ele poderia capacitá-los a colocarem suas vidas em ordem e começar de novo.
(iv) Os cegos seguiam a Jesus a fim de recuperarem a sua visão. Desejavam experimentar o Seu poder de operar milagres.
(v) Os cegos cujos olhos foram abertos seguiam a Jesus em pura gratidão por aquilo que Ele lhes fizera.
Vemos ali, resumidamente, os motivos que levam o coração a apro­ximar-se de Jesus Cristo.
Estudar os usos de akolouthein nos Evangelhos nos trará maior recompensa ainda:
1. Devemos ver o que envolve o seguir a Jesus.
(i) Seguir a Jesus envolve calcular o preço. Em Lucas 9.59, 61, parece que Jesus realmente desencoraja as pessoas a seguí-Lo até que Ele tenha averiguado com certeza que elas sabem o que estão fazendo. Jesus não quer que ninguém O siga sob falsos pretextos, nem aceita uma oferta emotiva e facilmente movida de um serviço que não foi pesado na balança.
(ii) Seguir a Jesus envolve sacrifício. Repetidas vezes é indicado o que as pessoas abandonaram a fim de segui-Lo. (Lc 5.11; Mt 4.20, 22; 19,27). A verdadeira lição para nós neste fato é que seguir a Jesus é aquilo que na linguagem de hoje é chamado em emprego de tempo in­tegral. Mas para nós há a seguinte diferença — seguir a Jesus importa em servi-Lo dentro do nosso emprego, e não em abandonar o emprego. Em muitos casos, seria muito mais fácil deixá-lo; mas nosso dever é ser testemunha dEle onde quer que Ele nos mande.
(iii) Seguir a Jesus importa numa cruz (Mt 16.24; cf Mc 8.34 e Lc 9,23). A verdadeira razão disto é que ninguém pode seguir a Jesus e, a qualquer tempo, voltar a fazer o que bem entende. Seguir a Jesus muito provavelmente implicará no sacrifício dos prazeres, dos hábitos, dos alvos e das ambições que se entrelaçaram em nossas vidas. Seguir a Jesus sempre implica neste ato de rendição — e a rendição nunca é fá­cil.
2. Devemos ver o que é oferecida a quem segue Jesus. Nesta questão há duas grandiosas promessas do Quarto Evangelho.
(i) Seguir a Jesus significa andar, não nas trevas, mas na luz (Jo 8.12)- Quando o homem anda sozinho, anda nas trevas da incerteza, e facilmente pode acabar ficando nas trevas do pecado. Andar com Jesus é ter certeza do caminho, é estar a salvo acompanhado por Ele.
(ii) Seguir a Jesus é ter a certeza de finalmente chegar à glória on­de Ele mesmo está (Jo 12,26). Este é o outro lado da advertência de que seguir a Jesus importa em sacrifício e cruz. O sacrifício e a cruz não são destituídos de finalidade, São o preço da glória eterna. Jesus nunca prometeu um caminho fácil, mas realmente prometeu um cami­nho cujo ponto final levaria ao esquecimento das dificuldades da cami­nhada.
3. Devemos ver que há maneiras inadequadas de seguir a Jesus. Estas maneiras não são condenáveis, São infinitamente melhores do que nada, mas não são as melhores.
(i) No fim, Pedro seguiu a Jesus de longe (Mt 26.58; cf. Mc 14. 54 e Lc 22.54). A verdadeira razão é que Pedro não ousava seguir mais de perto; e a verdadeira tragédia é que se Pedro tivesse permanecido perto de Jesus, a desgraça da sua negação nunca precisaria ter aconteci­do; foi quando Pedro viu o rosto de Jesus que descobriu o que havia fei­to com suas repetidas negações,
(ii) Na última viagem para Jerusalém, os discípulos seguiram toma­dos de apreensões (Mc 10.32). De certo modo, aquela ação era a mais corajosa de todas. Não compreendiam o que estava acontecendo; temiam o pior; mas ainda seguiam a Ele. Podemos obter consolo da lembrança de que freqüentemente o homem que segue a Cristo com temor e tremor está demonstrando a mais sublime coragem de todas.
4. Finalmente, devemos notar que um homem pode recusar-se a seguir a Jesus, Foi isto que o jovem rico fez (Mt 19.21; cf. Lc 18.22). O resultado da sua recusa foi que se afastou com tristeza. O resultado da recusa sempre é a tristeza; o resultado de seguir, por mais árduo e assus­tador que seja o caminho, sempre é a alegria.

Fonte: BARCLAY, William. Palavras gregas do Novo Testamento. vol. 1. São Paulo: Edições Vida Nova, 2010.

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