William Barclay
Hebreus 12:1-2
Estamos aqui ante uma das grandes e
eloquentes passagens do Novo Testamento; nela o autor nos dá um sumário quase
perfeito da vida cristã.
(1)
Na vida cristã temos uma meta.
A vida cristã é uma carreira por uma rota que temos pela frente. O cristão não
é um vagabundo que anda desinteressado pelas ruelas da vida; é um viajante que
percorre a estrada principal. Não é um turista que cada noite retorna ao ponto
de partida; é um peregrino que está sempre em caminho. A meta é nada menos que
o próprio Cristo, a presença de Cristo, a semelhança de Cristo. A vida do
cristão marcha em torno de um ponto determinado e seria bom que no final de
cada dia nos perguntássemos: "Fiz algum progresso?"
(2)
Na vida cristã temos uma inspiração. Temos o pensamento da nuvem invisível de testemunhas.
São testemunhas num duplo sentido: são os que deram testemunho de sua fé em
Cristo e agora são testemunhas de nosso cumprimento. O cristão é como um corredor
num estádio lotado de gente. Quando acelera a marcha a multidão o olha; e a
multidão que o observa são aqueles que já ganharam a coroa.
(3) Na vida cristã temos um obstáculo. Se
estamos rodeados por toda a grandeza do passado, também estamos rodeados pelo
obstáculo de nosso próprio pecado. Ninguém pode alcançar a grandeza quando se
sente arrasado por uma carga. Ninguém tentaria escalar o Everest com um
caminhão carregado de madeira. Se devemos viajar longe temos que ir leves. Na
vida cristã é um dever essencial descartar coisas: hábitos, prazeres,
confissões e associações que nos arrastam para trás ou nos atiram para baixo.
Devem ser arrojados como o atleta arroja sua capa quando se dirige à luta.
Devemos abandonar tudo aquilo que nos retém e frequentemente necessitaremos a
ajuda de Cristo para poder fazê-lo.
(4)
Na vida cristã temos um meio.
Este meio é a persistência firme. Trata-se da palavra hypomone. O
termo não significa a paciência que se senta e aceita as coisas: a paciência
que, cansada e cabisbaixa, se senta com as mãos cruzadas e com a mente
resignada enquanto a maré das coisas passa sobre ela e a supera. Trata-se da
paciência que domina as coisas. O que possuímos não é algo romântico ou algo
que nos dá asas para voar sobre as dificuldades e os lugares ingratos. É essa
determinação que não se apressa, mas que tampouco descansa; que não se
precipita, mas que não demora, mas sim marcha sempre adiante com firmeza
recusando desviar-se. Os obstáculos não a intimidam, as demoras não a deprimem;
os desalentos não lhe tiram a esperança. Não a deterão nem os desalentos que
provêm de dentro nem a oposição de fora. É a firme persistência que não
retrocede até obter o triunfo.
(5)
Na vida cristã temos um exemplo.
Esse exemplo é o próprio Jesus. Pela meta que teve diante de si, Ele suportou
tudo. Para ganhar essa meta esteve disposto ao abandono da glória celestial,
rechaçou deliberadamente o triunfo terreno e abraçou o caminho da cruz. O autor
de Hebreus tem um relâmpago de percepção ao dizer: “desprezando a ignomínia”
(12:1, TB). Jesus era sensível; jamais alguém teve um coração tão sensível como
o seu. A cruz era humilhante, o castigo dos criminais, dos quais a sociedade
considerava como o sedimento da humanidade. E entretanto, aceitou-a.
São Filipe de Neri dava o conselho de
"desprezar o mundo, a nós mesmos e desprezar o fato de ser
desprezados". Se Jesus pôde suportar semelhante coisa, então também
nós devemos fazê-lo.
(6) Na vida cristã temos uma presença:
a mesma presença de Jesus. Ele é, ao mesmo tempo, a meta de nossa
viagem e o companheiro de rota; Aquele com quem vamos encontrar nos e aquele
que nos acompanha no caminho. A maravilha da vida cristã é que partimos
rodeados de santos, esquecidos de tudo o que não seja a glória da meta, em
companhia constante daquele que já fez a viagem, alcançou a meta e nos espera
para nos dar as boas-vindas quando chegarmos no final.
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