quinta-feira, 2 de julho de 2015

A CARREIRA E A META

William Barclay

Hebreus 12:1-2
Estamos aqui ante uma das grandes e eloquentes passagens do Novo Testamento; nela o autor nos dá um sumário quase perfeito da vida cristã.
(1) Na vida cristã temos uma meta. A vida cristã é uma carreira por uma rota que temos pela frente. O cristão não é um vagabundo que anda desinteressado pelas ruelas da vida; é um viajante que percorre a estrada principal. Não é um turista que cada noite retorna ao ponto de partida; é um peregrino que está sempre em caminho. A meta é nada menos que o próprio Cristo, a presença de Cristo, a semelhança de Cristo. A vida do cristão marcha em torno de um ponto determinado e seria bom que no final de cada dia nos perguntássemos: "Fiz algum progresso?"
(2) Na vida cristã temos uma inspiração. Temos o pensamento da nuvem invisível de testemunhas. São testemunhas num duplo sentido: são os que deram testemunho de sua fé em Cristo e agora são testemunhas de nosso cumprimento. O cristão é como um corredor num estádio lotado de gente. Quando acelera a marcha a multidão o olha; e a multidão que o observa são aqueles que já ganharam a coroa.
(3) Na vida cristã temos um obstáculo. Se estamos rodeados por toda a grandeza do passado, também estamos rodeados pelo obstáculo de nosso próprio pecado. Ninguém pode alcançar a grandeza quando se sente arrasado por uma carga. Ninguém tentaria escalar o Everest com um caminhão carregado de madeira. Se devemos viajar longe temos que ir leves. Na vida cristã é um dever essencial descartar coisas: hábitos, prazeres, confissões e associações que nos arrastam para trás ou nos atiram para baixo. Devem ser arrojados como o atleta arroja sua capa quando se dirige à luta. Devemos abandonar tudo aquilo que nos retém e frequentemente necessitaremos a ajuda de Cristo para poder fazê-lo.
(4) Na vida cristã temos um meio. Este meio é a persistência firme. Trata-se da palavra hypomone. O termo não significa a paciência que se senta e aceita as coisas: a paciência que, cansada e cabisbaixa, se senta com as mãos cruzadas e com a mente resignada enquanto a maré das coisas passa sobre ela e a supera. Trata-se da paciência que domina as coisas. O que possuímos não é algo romântico ou algo que nos dá asas para voar sobre as dificuldades e os lugares ingratos. É essa determinação que não se apressa, mas que tampouco descansa; que não se precipita, mas que não demora, mas sim marcha sempre adiante com firmeza recusando desviar-se. Os obstáculos não a intimidam, as demoras não a deprimem; os desalentos não lhe tiram a esperança. Não a deterão nem os desalentos que provêm de dentro nem a oposição de fora. É a firme persistência que não retrocede até obter o triunfo.
(5) Na vida cristã temos um exemplo. Esse exemplo é o próprio Jesus. Pela meta que teve diante de si, Ele suportou tudo. Para ganhar essa meta esteve disposto ao abandono da glória celestial, rechaçou deliberadamente o triunfo terreno e abraçou o caminho da cruz. O autor de Hebreus tem um relâmpago de percepção ao dizer: “desprezando a ignomínia” (12:1, TB). Jesus era sensível; jamais alguém teve um coração tão sensível como o seu. A cruz era humilhante, o castigo dos criminais, dos quais a sociedade considerava como o sedimento da humanidade. E entretanto, aceitou-a.
São Filipe de Neri dava o conselho de "desprezar o mundo, a nós mesmos e desprezar o fato de ser desprezados". Se Jesus pôde suportar semelhante coisa, então também nós devemos fazê-lo.

(6) Na vida cristã temos uma presença: a mesma presença de Jesus. Ele é, ao mesmo tempo, a meta de nossa viagem e o companheiro de rota; Aquele com quem vamos encontrar nos e aquele que nos acompanha no caminho. A maravilha da vida cristã é que partimos rodeados de santos, esquecidos de tudo o que não seja a glória da meta, em companhia constante daquele que já fez a viagem, alcançou a meta e nos espera para nos dar as boas-vindas quando chegarmos no final.

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