
Ref. Romanos 5:6-10
Das
muitas passagens que poderíamos citar de Paulo para ilustrar essa conexão entre
a Cruz e Ágape, vamos olhar primeiro para a passagem mais importante, a
passagem clássica de "o Ágape da Cruz", Rom. 5. 6-10: "Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu
tempo pelos ímpios. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser
que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que
Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo muito mais agora, tendo
sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque se
nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho,
muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida".
Quatro coisas devem ser observadas aqui.
Primeiro: se perguntarmos o
que é Ágape, somos levados para a Cruz de Cristo. Para todas as várias maneiras
em que os Evangelhos Sinópticos expressam a ideia de Ágape, Paulo acrescentou a
expressão suprema e final da Cruz. Em nenhum outro lugar há de ser encontrada
uma revelação da Ágape comparável ao da morte de Jesus na Cruz. O que Paulo diz
aqui é exatamente a mesma coisa que encontramos em outras palavras na Primeira
Epístola de João: "Nisto conhecemos o amor, porque Ele deu a Sua vida por
nós" (I João 3. 16). Se não tivéssemos visto o amor que se revela na cruz
de Cristo, não teríamos conhecido o amor, no sentido cristão do termo. Devemos,
sem dúvida, ter conhecido o amor em geral, é, mas não o amor em seu sentido mais
elevado e mais profundo, não o amor divino, Ágape. O que, então, tem a Cruz de
Cristo a nos dizer sobre a natureza e o conteúdo do amor ágape? Ela atesta que
ele é um amor que se doa, que se sacrifica, mesmo até ao fim.
Em segundo lugar: o Ágape
revelado na morte de Cristo não é de forma nenhuma independente de Deus. Na
verdade, o próprio Deus é o tema deste Ágape. É Deus, diz Paulo, que revela o
Seu amor em que Cristo morreu por nós. A obra de Cristo é a própria obra de Deus,
Cristo é Ágape de Deus. Após o sacrifício de Cristo na cruz já não podemos
falar de forma adequada do amor de Deus sem se referir à Cruz de Cristo, mais
do que podemos falar do amor de Cristo, mostrado na Sua morte, sem ver nele o
próprio amor de Deus. Os dois são doravante um, nas próprias palavras de Paulo,
Ágape é "o amor de Deus em Cristo Jesus" (Rm 8. 39). A ideia de que
ele é Deus, que é o sujeito ativo na Obra de Cristo, encontra-se também em
outras passagens paulinas, como 2 Co 5. 19: "Deus estava em Cristo
reconciliando o mundo consigo mesmo". Paulo ainda diz: "todas as
coisas são de Deus" (v. 18). Não somos nós que fazemos o nosso caminho
para Deus, mas ele que faz o seu caminho para nós. A expiação não significa que
nós nos reconciliamos com Ele, mas que Ele em Cristo nos reconcilia consigo
mesmo, e é somente sobre esta base que Paulo continua a dizer: "que vos
reconciliar com Deus" (v. 20). Aqui, também, AGAGE é o caminho de Deus
para o homem.
Terceiro: em nenhum lugar é
a natureza absolutamente espontânea e desmotivada de Ágape de Deus tão
claramente manifesta como na morte de Cristo. "Por que, dificilmente,
mesmo para um homem justo, ninguém vai morrer - embora, talvez, para aquele que
foi bom alguém pode ter coragem de morrer." Para dar a vida por um justo -
afinal, haveria alguém respondendo por ele. Mas para quem foi que Cristo deu a
sua vida? Não para os justos, mas os pecadores. Paulo enfatiza este ponto três
vezes na passagem citada (versos 6, 8, 10), e com quatro diferentes expressões:
Cristo morreu para os fracos, os ímpios, pecadores e inimigos.
Em quarto lugar: a melhor
coisa que já disse anteriormente do amor de Deus e sua natureza espontânea e
desmotivada, é que ele é um amor pelos pecadores, para os indignos e injustos. Mas
Paulo pretende superar até mesmo isso e dizer algo ainda maior: Cristo morreu,
e não apenas para os homens injustos e pecadores, mas na verdade para os homens
"ímpios" ou "sem Deus". Mesmo que as palavras reais devem
ser indevidamente pressionado, mas é significativo que essa frase vem quando
Paulo está buscando expressar a natureza desmotivada do amor de Deus. Quando
nos lembramos da parte tocada pela fidelidade religiosa naqueles dias, podemos
ver o quanto ainda Paulo vai acrescentar ao dizer que: Cristo morreu pelos
ímpios, para aqueles que pertenciam a outras religiões, aqueles que foram
dedicados aos deuses estranhos.
Ao descrever, portanto,
"o Ágape da Cruz", Paulo subiu à mais sublime concepção de Ágape de
Deus jamais dada. Ninguém jamais foi além dele, e poucos foram capazes de
segui-lo até agora. Mas a coisa característica é que Paulo não atingiu esta
altura por um ato de livre criação. Ele só tenta interpretar o que aconteceu na
cruz de Cristo. Ágape de Deus, como ele o vê, não é a criação de seu próprio
espírito, mas simplesmente a representação de algo que realmente aconteceu.
Deus demonstrou Sua Ágape pela doação de Seu Filho. Este fato, para que ele
possa voltar a si mesmo e ao que ele pode apontar aos outros, é para Paulo a
primeira coisa. Aqui o amor de Deus nos encontra, não apenas como uma ideia de
amor, mas como a mais poderosa das realidades, como o amor abnegado, o amor que
se derrama até mesmo para o mais profundamente caído e perdido.
Fonte: NYGREN, Anders. Agape and Eros. Philadelphia:
The Westminster Press, 1953.
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