quinta-feira, 5 de julho de 2018

REFLEXÕES NO SALMO 119

GUARDAR PARA SER GUARDADO 


Guardei no coração a tua palavra para não pecar contra ti. (Sl 119.11, NVI) 

Dando prosseguimento à sua instrução aos jovens, o sábio, após destacar a necessidade de buscar a Deus com sinceridade e integridade, ao mesmo tempo em que reconhece a sua fraqueza, agora se concentra sobre como evitar o mal moral ou pecado. Nos versos 3 e 4, o salmista afirmou o ideal para os membros da comunidade da aliança: “Como são felizes os que obedecem aos seus estatutos e de todo o coração o buscam! Não praticam o mal e andam nos caminhos do Senhor” (NVI). No verso 10, o ideal é posto em prática: “Eu te busco de todo o coração; não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos” (NVI). Observe que, enquanto ‘com todo o meu coração’ sugere atitude e compromisso, ‘no meu coração’ sugere estimar a palavra do Senhor (no contexto, uma palavra de ordem) de tal maneira a ocultá-la na pessoa interior de modo a moldar os seus pensamentos[1]. O resultado de esconder ou entesourar a palavra no coração é pureza na fonte de onde procedem as saídas da vida, ou o comportamento de um modo amplo (Pv 4.23; Mt 15.10-20), o coração humano. “Seu coração seria guardado pela palavra, visto haver guardado a palavra em seu coração”[2]

Uma boa ilustração da ação da palavra de Deus nos nossos corações pode ser inferida do episódio narrado em Êxodo 15.22-27. Após alguns dias de viagem pelo deserto sem encontrar água, o povo chegou a um lugar chamado “Mara”, que quer dizer amargo, justamente porque os mananciais ali presentes eram amargos. O povo, como de costume, murmurou contra Moisés. Moisés, como de costume, orou a Deus, que lhe indicou um arbusto, o qual, após ser lançado nas águas amargas, tornou-as doce, e assim o povo dessedentou sua sede. Em Jeremias 17.9, o profeta vaticina que “o coração é a coisa mais mentirosa e traiçoeira que existe do mundo; o coração do homem é terrivelmente cheio de maldade. Não há ninguém capaz de saber até que ponto é mau e pecador o coração humano!” (BÍBLIA VIVA). A NVI traduziu assim: “o coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável. Quem é capaz de compreendê-lo?”. 

Note que, assim como as águas de Mara, o coração humano está enfermo. O que pode cura-lo? A Palavra de Deus. Mathew Henry escreveu com propriedade que “os homens bons têm medo de pecar e tomam cuidado para evitar o pecado; e a forma mais eficaz de evitar o pecado é esconder a palavra de Deus em nosso coração, para que possamos responder a cada tentação como nosso Mestre o fez, como está escrito, para que possamos opor os preceitos de Deus ao domínio do pecado, as promessas dele à sedução do pecado, e suas ameaças ao perigo do pecado”[3]

Se o salmista armazenou a Palavra do Senhor porque é assim que se certifica de não falhar ou ficar aquém das expectativas dEle, o que diremos da nossa geração que armazena tudo nas memórias artificiais? Pendrive, cartão de memória, HD externo, memória interna do celular, são os substitutos da memória humana. Não temos mais a preocupação de memorizar e meditar na Palavra de Deus. Não fazemos mais como fez Maria: "Mas Maria guardou todas estas coisas e ponderou-as em seu coração" (Lc. 2.19, 51). 

No Midrash sobre os salmos, encontramos a seguinte reflexão: “a inclinação para o mal não tem poder na presença da Torá. E assim a inclinação para o mal não tem poder sobre aquele que tem a Torá em seu coração, e não pode tocá-lo”[4]. Se a Palavra não está guardada no coração, como o coração poderá estar guardado contra as tentações do Diabo? Mais uma vez, as palavras de Matthew Henry são oportunas: “a palavra de Deus é um tesouro digno de ser guardado, e não há lugar mais seguro para guardá-la que em nosso coração; se a tivermos só em nossa casa ou em nossa mão, os inimigos podem tirá-la de nós; se a tivermos só em nossa mente, nossa memória pode falhar, mas se nosso coração for libertado por estar moldado nela, e a impressão dela permanecer em nossa alma, ela está a salvo”. 

[1] GOLDINGAY, John. Baker commentary on the Old Testament: wisdom and psalms. Michigan: Baker Academic, 2013. 

[2] SPURGEON, C. H. Salmo 119: o alfabeto de ouro. Trad. Valer Graciano Martins. São Paulo: Edições Parakletos, 2001. 

[3] HENRY, Matthew. Comentário Bíblico do Antigo Testamento: Jó a Cantares. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. 

[4] NEMOY, Leon; LIEBERMAN, Saul; WOLFSON, Harry A.; BRAUDE, William G. The Midrash on Psalms. Vol. 2. 2. Connecticut: Yale University Press, 1959.

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